Seleção de Angola apurada para o FIBA AfroBasket - Rwanda 2021 (artigo de Eduardo Monteiro, 66)

Espaço Universidade Seleção de Angola apurada para o FIBA AfroBasket - Rwanda 2021 (artigo de Eduardo Monteiro, 66)

ESPAÇO UNIVERSIDADE03.03.202119:42

O Campeonato Africano das Nações mais conhecido a partir de 2017 como “FIBA AfroBasket”, é a prova continental mais importante organizada pela Federação Africana de Basquetebol (FIBA Africa). A primeira edição da competição decorreu na cidade do Cairo, em 1962, tendo saído vencedora a formação do país organizador, o Egipto.

Na prova inicial apenas participaram 5 nações, o que não admira na medida em que a generalidade dos países a Sul do Saará só conquistou a respectiva independência na década de sessenta do século passado. Por isso ao longo dos anos a competição foi evoluindo até se juntarem as 16 melhores seleções a partir de 2007. Até à presente data, nas 29 edições efectuadas Angola venceu a prova por 11 vezes, seguida do Egipto e Senegal cada uma com 5 títulos. Por sua vez, a R.C.Africana, Tunísia e Costa do Marfim arrecadaram 2 campeonatos e Marrocos e Nigéria venceram a prova em uma ocasião.  O evento tem sido organizado de dois em dois anos. A partir de 2017 as futuras edições serão efectuadas, de quatro em quatro anos, com a designação oficial de “FIBA AfroBasket”.

NAÇÕES MEDALHADAS:

Ao longo da evolução histórica do basquetebol africano a comunidade lusófona, através de Angola, tem mostrado ao mundo que também sabemos jogar “A Bola ao Cêsto”. Contudo, o último AfroBasket conquistado foi em 2013 e, dois anos depois a seleção angolana ganhou a medalha de prata. No último evento, disputado na Tunísia em 2017, a equipa nacional de Angola ficou afastada das medalhas o que já não sucedia desde 1981. Entre tantas coisas positivas que estão a acontecer, de há uns anos a esta parte em Angola, talvez se justifique a implementação de um novo Plano de Desenvolvimento do Basquetebol, à escala nacional, para assegurar o aparecimento de novas gerações de praticantes que mantenham o espírito vencedor nas próximas décadas.

Angola ( 11 ouro, 4 prata, 2 bronze), Egipto (5, 5, 6), Senegal (5, 6, 5),  Rep. Centro Africana (2, 0, 2), Tunísia (2, 1, 4), Costa do Marfim (2, 3, 0), Marrocos (1, 2, 2), Nigéria (1, 4, 3), Camarões (0, 1, 0), Sudão (0, 1, 1), Mali (0, 0, 1), Palestina (0, 0, 1), Argélia (0, 0, 1), Cabo Verde (0, 0, 1).

PAÍSES ORGANIZADORES:

Os países que demonstraram possuir melhores condições logísticas e políticas para a organização deste evento foram os do norte do continente africano, Egipto (6 vezes), Marrocos (4), Tunísia (3) e Argélia (2). Dos restantes países apenas Angola (3 vezes) e Senegal (2) reuniram condições para a sua organização por mais de uma vez.

Egipto (1962, 1970, 1975, 1983, 1992, 2003), Marrocos (1964, 1968, 1980, 2001), Angola (1989, 1999, 2007), Tunísia (1964, 1987, 2015), Argélia (1995, 2005),  Senegal (1978, 1997), Rep.Centro Africana (1974), Somália (1981), Costa do Marfim (1985), Kénya (1993), Líbia (2009) e Madagascar (2011).

SISTEMA DE QUALIFICAÇÃO:

Atendendo à diferença de valor das seleções africanas de basquetebol senior masculino, em Janeiro de 2020, decorreu uma 1ª fase  (pré-qualificação) com a formação de 5 grupos de equipas nacionais oriundas das 7 zonas  do continente africano.

Após a conclusão dessa fase de pré-qualificação ficaram apuradas para a  fase seguinte as equipas nacionais de Cabo Verde, Guiné Equatorial, Kenya,  Madagascar e Sudão Sul. Nesta 2ª fase, também  participaram as 15 seleções  nacionais classificadas no FIBA AfroBasket efectuado, em 2017, na Tunísia: Angola, Camarões, Rep. Centro Africana, Costa do Marfim, Rep. Democrática do Congo, Egipto, Guiné, Mali, Marrocos, Moçambique, Nigéria, Rwanda, Senegal, Tunísia e Uganda. Por sua vez, estas 20 formações foram divididas em 5 grupos de 4 equipas cada. Em cada grupo foram realizados 2 torneios, disputados em datas de acordo com as janelas internacionais definidas pela FIBA.

CLASSIFICAÇÃO FINAL DOS GRUPOS:

Grupo A: Tunísia (6 vitórias-0 derrotas), R.D.Congo (3-3), R.C.Africana (3-3) e Madagascar (0-6). Grupo B: Senegal (5-1), Angola (4-2), Kenya (2-4) e Moçambique (1-5). Grupo C: Costa Marfim (6-0), Camarões (3-2), Guiné (1-5) e Guiné Equatorial (1-4), Grupo D: Nigéria (6-0), Sudão Sul (3-3), Mali (2-4) e Rwanda (1-5). Grupo E: Egipto (5-0), Cabo Verde (1-4), Marrocos (1-4) e Uganda (2-1).

Os resultados verificados nesta derradeira etapa do sistema de qualificação, definem, para já, o apuramento das 13 seleções melhor posicionadas em cada um dos 5 grupos, quer dizer, Tunísia, RD Congo, RC Africana, Senegal, Angola, Kenya, Costa Marfim, Camarões, Guiné, Nigéria, Sudão Sul, Mali e Egipto. A estas equipas nacionais com lugar assegurado no 30º Campeonato de Basquetebol das Nações Africanas (FIBA Afrobasket-2021), junta-se a formação do Rwanda na qualidade de país organizador. Entretanto, por razões de segurança relacionadas com a pandemia, no grupo E houve alguns encontros que não se realizaram. Cabe agora à FIBA ÁFRICA encontrar a solução, mais adequada, para decidir o apuramento de mais 2 seleções entre os candidatos com jogos por efectuar, Marrocos (1), Cabo Verde (1) e Uganda (3). O FIBA AfroBasket tem data marcada para o período entre 24 Agosto e 5 de Setembro de 2021, na cidade de Kigali no Rwanda.

SISTEMA COMPETITIVO (FIBA AFROBASKET 2021):

-Fase de grupos: As 16 seleções participantes na fase de grupos, com início previsto para 24 de Agosto, serão divididas em 4 grupos de 4 equipas que jogarão entre si. A classificação das equipas, em cada grupo, define os encontros referentes à primeira eliminatória (oitavos de final).

- Oitavos de final (1ª eliminatória): Os primeiros classificados de cada grupo defrontam os quartos classificados dos outros grupos (1ºs-4ºs). Por sua vez, as equipas posicionadas no 2º lugar jogam com os terceiros dos outros grupos (2ºs-3ºs);

- Quartos de final (2ª eliminatória): As oito seleções vencedoras dos oitavos de final disputam entre si o acesso às meias finais através de eliminatória;

- Meias finais (3ª eliminatória): As 4 seleções vencedoras dos jogos dos quartos de final disputam o acesso à final do campeonato;

- Apuramento do 3º classificado e Final do AfroBasket;

Os encontros referentes ao apuramento do 3º classificado (medalha de bronze) e da final da prova para definir o Campeão Africano (medalha de ouro) e o vice-campeão (medalha de prata) serão realizados no último dia da competição (5 Setembro).

RANKING FIBA AFRICA ( actualizado em 2.Mar.2021)

1º Nigéria (439 pontos), 2º Angola (336), 3º Tunísia (333), 4º Senegal (322), 5º Costa do Marfim (220), 6º Egipto (176), 7º Camarões (145), 8º Marrocos (134), 9º Mali (120), 10º R.Centro Africana (118), 11º R. D. Congo (110), 12º Moçambique (101), 13º Rwanda (101), 14º Cabo Verde (98), 15º  Sudão Sul (97), 16º Uganda (96), 17º Argélia (90), 18º Chad (89), 19º Kenya (81), 20º  Congo (79), 21º Guiné (72), 22º Africa do Sul (68), 23º Burundi (67), 24º Madagascar (66), 25º Togo (64), 26º Gabão (60), 27º Burkina Fasso (58), 28º Guiné Equatorial (58), 29º Zimbabwe (55), 30º Zambia (54), 31º Seychelles (52), 32º Somália (52), 33º Benin (49), 34º Botswana (47), 35º Mauritania (40), 36º Tanzania (38), 37º Eritreia (20), 38º Libia (16). 

Os países que mais lugares subiram no ranking FIBA do continente africano  foram Moçambique (+6), Guiné (+5), Rwanda (+4), R.D.Congo (+3) e Kenya (+3), pelo que não foi nenhuma surpresa a sua participação na fase decisiva de qualificação para o FIBA AfroBasket 2021. Moçambique, país da comunidade lusófona com largas tradições no basquetebol africano, apesar de ter trepado 6 lugares no ranking, o não apuramento da sua seleção transmite a ideia de que se está a perder o comboio do desenvolvimento da modalidade naquela zona de Africa. Oxalá esteja errado.

Entre as seleções que mais posições desceram no actual ranking temos Madagascar (-4), Guiné Equatorial (-4), Costa Marfim (-2), Mali (-2) e Chad (-2). Embora as seleções da Costa do Marfim e do Mali tenham perdido 2 posições no ranking conseguiram, apesar desse contratempo, assegurar a sua presença no Rwanda na prova máxima do basquetebol africano.

Não termino sem dizer que teria certamente muito interesse a existência de um projecto de formação no basquetebol no âmbito da cooperação entre os países que falam português. Tal projecto incluiria atletas que se encontram nas etapas do aperfeiçoamento e especialização desportiva (14 aos 18 anos). Um projecto de cooperação onde se troquem ideias e conhecimentos em benefício do basquetebol em todos os países. Todavia deve, à partida, estar assegurado um “Acordo de Cavalheiros” que impeça qualquer intenção de “naturalizações de aviário” o que acabaria por desencadear uma autêntica sangria de valores nos países de origem.

Eduardo Monteiro é ex-treinador do SL Benfica e das Seleções Nacionais