Sérgio Conceição contra tudo e contra todos

OPINIÃO09.03.202510:30

Aventura em Itália não está a correr bem ao treinador português, que parece cada vez mais isolado. O contexto do Milan é muito diferente do FC Porto e os resultados não estão a ajudar...

Quando Sérgio Conceição aceitou o convite do Milan, sabia que o histórico no FC Porto de nada valeria se não obtivesse resultados. Conseguiu-o de imediato, com a conquista da Supertaça italiana, e à custa de duas reviravoltas que alimentaram o espírito de que, com este treinador, nenhuma equipa pode desistir até ao fim.

Terá sido muito por isso que o Milan o contratou, acredito. Com instabilidade no balneário e muitos egos sedentos de fama individual, ninguém melhor do que Conceição para os tratar a todos por igual, desde que dos treinos ao campo dessem tudo. Em teoria, tudo fazia sentido. Mas no futebol há aquele pequeno pormenor de os resultados ditarem quase tudo e o que se seguiu não vai ficar para a história nem do clube italiano, nem do treinador português. Sérgio não é de desistir, lá está, e até ao fim estou certa que será leal à sua ideia, aos seus princípios e a tudo o que a direção rossonera procurou há tão pouco tempo.

Só que o treinador já não está no FC Porto, onde dominava a larga maioria dos adeptos pela sua atitude e onde virava as perguntas difíceis nas conferências de imprensa a seu favor, contra tudo e contra todos. Mesmo quando os resultados obtidos não estavam à altura das exigências do clube, Conceição dava luta. Quando a equipa não jogava bem nem entusiasmava (o que aconteceu em larga maioria durante o seu mandato), Sérgio mandava os apreciadores de espetáculos irem ao Coliseu. O técnico personificava o que os azuis e brancos querem acima de tudo: ganhar, ganhar, ganhar, seja como for.

Na Invicta, Sérgio Conceição foi demasiadas vezes o rosto do FC Porto. Tinha a estrutura a suportá-lo, mas estava à sua frente. Agora, no Milan, o português parece ser só mais um e a imprensa italiana trata-o assim diariamente. O problema, parece-me, é que o técnico continua a ver inimigos em todo o lado e está cada vez mais isolado na sua atitude, na sua ideia e nos seus princípios. A polémica com o assessor e a forma como Sérgio lidou com ela mostram-nos um homem revoltado, zangado até, mas sem rumo. O Milan procurou em Conceição o lutador que ia obrigar a equipa a correr, mas é o ego do próprio que está a virar-se contra si.

Serão os resultados a ditar o futuro, como sempre, mas os italianos, pelo sim pelo não, já estão a preparar a sucessão. Se tiver tempo, Sérgio Conceição poderá lembrar-se do que o fez um dos melhores treinadores portugueses da atualidade: nunca desistir, até ao fim. Mas para já corre o risco de tornar-se um homem cada vez mais só. Contra tudo e contra todos.

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