O rejuvenescimento do Benfica
FOTO: SL BENFICA

OPINIÃO O rejuvenescimento do Benfica

OPINIÃO07.01.202409:40

Águias continuam a atrair promessas mas não podem esquecer o equilíbrio

A estratégia não é nova, nem sequer exclusiva do Benfica: comprar talento jovem, extrair rendimento desportivo e depois tirar proveito de uma valorização substancial. Basta pensar em Di María, que entretanto até voltou a Lisboa, mas que em tempos aproveitou a ponte da Luz para passar do Rosario Central para o Real Madrid.

A diferença, de então para cá,  está sobretudo nos valores que o Benfica desembolsa. Se antes estes talentos eram garantidos por menos de 10 milhões de euros, agora a regra começa a fixar-se nas duas dezenas. Um claro reflexo dos tempos, que aumentam tudo aquilo que se vende por aí, incluindo futebolistas, mas também um sinal da capacidade financeira da SAD encarnada, que não só aumentou a fasquia, como também anda a tocar lá mais vezes. 

Uma vantagem relativamente à concorrência interna e uma forma de contornar as potências estrangeiras, que vão aprendendo as vantagens de dispensar o revendedor e comprar diretamente ao produtor. Mas a realidade é que a oferta supera a procura, e a capacidade financeira permite que o Benfica consiga manter-se entre os principais intermediários. 

Enzo Fernández pouco tempo ficou na Luz, mas ainda fica bem no cartão de visita, pelo menos na hora de negociar com clubes que pensam logo no argentino quando chegam àquela alínea do acordo que fala em mais-valias. 

Entre a reputação e a capitalização, o Benfica continua capaz de recrutar alguns dos jovens mais promissores do futebol mundial, com toda a subjetividade que a expressão acarreta. Pode já não conseguir chegar a Claudio Echeverri ou Vítor Roque, mas vai buscar Andreas Schjelderup, Marcos Leonardo ou Gianluca Prestianni. E o tempo que usa para jogar na antecipação é aquele que lhes dá para crescer. 

Mas ao seguir esta estratégica, que não é nova, o Benfica não pode esquecer que as listas de talentos do amanhã incluem também nomes como António Silva e João Neves, por exemplo. Essa capacidade de ser produtor e intermediário ao mesmo tempo, que não lhe é exclusiva, deve ser mantida em equilíbrio, para garantir que só vai buscar fora aquilo que não está a conseguir produzir. 

No que diz respeito aos exemplos mais recentes, a estrutura encarnada não parece estar a negligenciar nenhum talento do Seixal, mas esse é um sinal pouco entusiasmante relativamente ao que existe na antecâmara da equipa principal. O tempo ajudará a perceber se é uma circunstância extensível aos rivais, ou uma vantagem perdida nos últimos anos de cultivo.

E dentro da incontornável aposta na juventude, seja ela interna ou externa, o Benfica não pode esquecer que o equilíbrio também se faz com pilares mais sólidos, e que alguns dos que tem atualmente vão deixar de contar. Se foi preciso poder de antecipação para atrair algumas promessas, o desafio agora é mostrar jogo de cintura para garantir nomes mais consolidados.

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