Janeiro: um mês de decisões
Sporting celebra o golo MIGUEL NUNES/ASF

Janeiro: um mês de decisões

OPINIÃO07.01.202409:58

Apesar de todas as dificuldades, Sporting continua a ser a equipa mais consistente

O mês de janeiro é sempre agitado. Por um lado, os clubes procuram fazer os ajustamentos que necessitam para tornarem os seus planteis mais capazes e, por outro, trata-se de um mês em que a densidade competitiva é muito elevada. Este ano, janeiro ganha uma importância adicional, por ser a derradeira oportunidade para se fazerem os últimos retoques, cruciais para acrescentar qualidade e lutar por um título, que todos sabem a importância que tem…

Benfica: procurar o equilíbrio

A vitória de ontem frente ao Arouca veio confirmar que o Benfica está bem posicionado, em todas as frentes, nas competições internas e tem a oportunidade de fazer algo mais na Liga Europa, apesar do planeamento para a época em curso não ter sido bem feito. Janeiro constitui assim uma oportunidade para equilibrar o plantel e dotá-lo de ativos com um perfil mais próximo da forma de jogar que Roger Schmidt pretende implementar. Se o equilíbrio do plantel é fundamental para atingir o sucesso desportivo, é importante que a estrutura encarnada não descure a importância do equilíbrio financeiro. As decisões que serão tomadas devem ter esta lógica sempre presente, até porque um clube financeiramente estruturado será sempre desportivamente mais forte. Assim, é tao importante encontrar jogadores que acrescentem valor à equipa, como não deixar desvalorizar outros, que constituíram investimentos elevados e que não estão a ter o rendimento esperado. Neste capítulo, parece-me que o Benfica está a fazer o correto. Como exemplo, a procura de soluções para Jurasek faz todo o sentido. Trata-se de um jogador que não se conseguiu impor e que não ganha nada em ficar parado. O ideal será encontrar um clube que o receba, de forma a que o jogador tenha capacidade de jogar, voltar a ganhar confiança para que no futuro possa regressar e lutar pela titularidade ou, no limite, possa despertar o interesse de outros clubes, fazendo com que o Benfica recupere ou consiga reduzir a perda de um investimento tão elevado. Simultaneamente, depois da contratação de Marcos Leonardo, o clube encarnado ficará com quatro soluções para a frente de ataque. Possivelmente um dos três avançados que constituem o plantel poderá ser vendido, por uma questão de equilíbrio desportivo e financeiro. Em termos competitivos, o mês que agora começou será muito intenso. Não só estarão em disputa a liderança do campeonato, a passagem de mais uma eliminatória da Taça de Portugal (frente ao SC Braga) e o troféu da Taça da Liga, como a força psicológica que as vitórias podem atribuir em caso de sucesso.

A contratação de Marcos Leonardo

Marcos Leonardo é a primeira contratação do mês de janeiro. Trata-se de um jovem com enorme potencial. As suas caraterísticas encaixam na forma que Roger Schmidt gosta de jogar: móvel, intenso, agressivo e de remate fácil. Terá de trabalhar os posicionamentos no momento defensivo e a reação à perda de bola. A grande questão relativa ao jogador brasileiro prende-se com a adaptação, de duas formas distintas. A primeira é que por ser uma contratação de janeiro, não tem uma pré-época para conhecer e se adaptar aos colegas, ou seja, terá de o fazer em competição, o que pode originar que este processo seja mais demorado. O segundo ponto tem a ver com a adaptação a um novo país, novos costumes, nova realidade e com o facto do seu último jogo ter sido realizado a 7 de dezembro. Se as expetativas em torno desta contratação são muito elevadas, será importante que a estrutura encarnada acompanhe de perto o dia-a-dia do jogador, de forma a que não aconteça o que sucedeu com Everton Cebolinha ou Gabriel Barbosa, que nunca conseguiram demonstrar o seu potencial. Relativamente à transferência em si, há uma grande conclusão que podemos tirar: o Santos fez o melhor negócio possível. Com uma margem negocial reduzida, pelo facto de ter descido de divisão e de não ter capacidade para pagar os salários ao jogador, conseguiu vender o seu ativo pela cláusula de rescisão com mais 10% de uma futura mais valia. Melhor seria impossível!! No caso do Benfica, percebemos que não aproveitou a fragilidade do vendedor. Quanto ao investimento realizado, é percetível que se trata de uma aposta forte da estrutura encarnada. O ser caro ou barato dependerá do rendimento do atleta dentro do relvado. Não tenho dúvidas que, se demonstrar todo o potencial que lhe é atribuído, acabará por ser um bom investimento!

Porto: pressão aumentou

O FC Porto vive dias difíceis. Todos percebemos que o plantel precisa de reajustes e de acrescentar qualidade em várias posições, mas também todos sabemos que não há capacidade financeira para o fazer. Esta posição de fragilidade não é mais do que o reflexo de anos e anos de más decisões e de uma gestão de recursos irresponsável. Não posso deixar de relembrar as palavras de André Villas-Boas na última assembleia quando questionou se esta administração também hipoteca o seu património familiar à proporção e velocidade com que hipoteca o futuro do FC Porto. De uma forma prática, a má gestão não tem reflexo no imediato, mas vai desgastando, deteriorando, prejudicando e limitando o crescimento de uma empresa. No caso do Porto é evidente a perda de qualidade do plantel portista, ano após ano, com vendas abaixo do valor que se podia alcançar e com a saída de jogadores importantes a custo zero. A acrescentar a tudo isto, existem um conjunto de investimentos elevados que não corresponderam dentro do relvado, como nos casos de David Carmo, Veron, Grujic, Fran Navarro ou mesmo Nico González. Não questiono o valor dos atletas, o que me parece evidente é que para um clube com as dificuldades que estão visíveis, a margem de erro é muito mais reduzida, porque, se se falha nas contratações, não existem mais recursos para voltar ao mercado. Assim, neste momento, a preocupação do FC Porto é de tentar encontrar soluções para estes jogadores que estão parados, a desvalorizar, que não acrescentam valor ao plantel e só posteriormente perceber se consegue ir ao mercado encontrar soluções low cost que acrescentem valor. Entretanto, o ano desportivo vai-se desenrolando e as debilidades da equipa continuam bem visíveis. Depois da saída prematura da Taça da Liga, janeiro começa com mais um empate. A uma jornada do fim da primeira volta, o FC Porto já perdeu 13 pontos, sendo que no último campeonato perdeu 17 no total! Na próxima semana tem dois testes de elevada importância: vai ao Estoril, com quem já perdeu duas vezes, para a Taça de Portugal e recebe o SC Braga na última jornada da primeira volta. Uma semana que pode melhorar a confiança da equipa ou aumentar a desconfiança. Com o empate frente ao Boavista, a pressão aumentou. 

Sporting: contornar obstáculos

O ano começa bem para o Sporting. Uma goleada frente a um adversário perigoso e que tem causado muitos problemas, sobretudo, ao FC Porto. Rúben Amorim e a sua equipa sabem que este será um mês muito importante. As ausências de Morita, Diomande e Catamo serão um obstáculo que Amorim terá de saber contornar. A acrescentar, as lesões de jogadores importantes serão outra preocupação. Apesar de todas estas dificuldades, o Sporting continua a ser a equipa mais consistente. Tem um plantel curto, mas que se sente importante, porque todos têm vindo a ter minutos e a confiança do treinador e isto pode fazer a diferença. As vitórias, os golos, a confiança, os adeptos e a boa forma de jogadores como Gyokeres e Edwards irão ser determinantes para os leões conseguirem contornar estas dificuldades e manterem o nível desportivo, até que cheguem os jogadores que estão a representar os seus países. No limite, janeiro será mais um teste à mentalidade que Rúben Amorim aborda tantas vezes. No capítulo de aquisições, o Sporting poderá tentar reforçar o sector do meio campo, onde as opções são mais escassas, tentando encontrar uma solução para o presente, mas também para o futuro, de forma a que se justifique o investimento. 

A valorizar: Diogo Jota

Esteve lesionado, regressou e não demorou muito a demonstrar a sua importância no Liverpool. Destaca-se onde se deve destacar que é dentro dos relvados! É um dos jogadores mais subvalorizados em Portugal. Merecia maior atenção e destaque.

A desvalorizar: FC Porto

Em 16 jornadas já perdeu 13 pontos, num ano em que apenas uma equipa irá ter entrada direta na LC e com prémios superiores.