Jackpot e os aziados do Dragão

OPINIÃO02.02.202511:00

SAD azul e branca arrecada €50 M com Galeno, que já não tinha a cabeça no FC Porto desde o verão; o problema é que há mais nessa situação e vão permanecer sem o foco até ao final da época

Os dois penáltis falhados contra o Santa Clara atestam bem da capacidade psicológica de Galeno desde que, no passado verão, falhou a mudança para a Arábia Saudita e perdeu a possibilidade de conseguir a sua independência financeira, com um ordenado principesco — à ordem de 5 milhões de euros limpos, que vai crescer a cada época —, algo que consegue agora numa segunda tentativa, com a assinatura de um contrato de três temporadas e meia com o Al Ahli. É um negócio brutal de André Villas-Boas, que vê a cotação no mercado saudita manter-se em seis meses para um jogador de 27 anos que tanto desvalorizou em meio ano. Galeno, diga-se, não é o culpado da crise de resultados que se instalou no FC Porto, longe disso. Aliás, os adeptos devem agradecer-lhe por tudo o que deu em prol do clube nos últimos anos e não se esquecerem de golos decisivos como aquele que apontou na Champions ao Arsenal, na época passada.

Um dos problemas que pode justificar o insucesso de Vítor Bruno no comando técnico do FC Porto está relacionado com a proximidade que alguns atletas tinham com Sérgio Conceição, mas também com a forma como dirigia a sua equipa. Galeno certamente não se sentia confortável a jogar como lateral-esquerdo, mas não era o único em sub-rendimento esta temporada. Há os casos concretos de Pepê, que também parece suspirar por uma mudança de ares, mas também Alan Varela, que perdeu toda a aura em seu redor.

Do ponto de vista desportivo, Galeno é uma perda considerável para o plantel azul e branco se tivesse os níveis exibicionais de outrora, mas não era isso que acontecia a e sua saída será, seguramente, bom para ambas as partes.

André Villas-Boas não poderia nunca rejeitar um negócio desta envergadura, tanto mais que sabia de antemão que Galeno procurava outro desafio na carreira e aliar a tudo isso um encaixe financeiro de monta. Resolvida esta questão, com a chegada do compatriota William Gomes para a sua posição, a verdade é que Martín Anselmi tem pela frente uma missão espinhosa.

No balneário do Olival há ainda jogadores que não parecem ter o foco em prol do coletivo e isso pode tornar-se, evidentemente, um fator de instabilidade no que resta da temporada. A forma passiva como certos atletas jogam de início ou quando saltam do banco é ilustrativa dos respetivos estados de espírito. Quer isto dizer que o treinador do FC Porto terá de gerir com pinças a sensibilidade de quem se encontra contrariado a vestir o emblema do dragão e ter pulso firme em que ousar colocar o individual acima do coletivo, seja ele o capitão, vice-capitão ou qualquer outro com estatuto de outrora.

Martín Anselmi procurou desde o início introduzir mudanças no sistema tático contra o Maccabi Telavive, num jogo confrangedor, em que o FC Porto acabou com credo na boca para assegurar o passaporte para a fase seguinte da Liga Europa. Os adeptos portistas não se podem iludir, pensando que o sucessor de Vítor Bruno é um milagreiro e que em poucas semanas consegue colocar a máquina a trabalhar de feição. Aproximam-se dois jogos de elevado grau de exigência para os azuis e brancos, em Vila do Conde e no Dragão com o Sporting. E os mesmos são decisivos para o futuro da equipa na Liga...