Crianças brincam com uma bola em Calcutá, na Índia, em frente a mural com as figuras de Cristiano Ronaldo e João Cancelo
Crianças brincam com uma bola em Calcutá, na Índia, em frente a mural com as figuras de Cristiano Ronaldo e João Cancelo

Futebol é vida, futebol é amor

OPINIÃO14.02.202510:00

14 de fevereiro é o dia dos namorados. Mas também podia ser o do nosso amor pelo jogo que faz tanto parte da nossa vida como a família que (ainda) nos atura em casa

Amor é olhar para uma criança que mal se põe de pé e ver que já nasceu a saber que a bola é para chutar. Ou para girar à sua frente enquanto corre com ela. Ou olharmo-nos a nós mesmos, para lá dos 50, por olhos quase tão inocentes, a tentar fazer coisas que não sabemos bem como fazíamos e com todo o equilíbrio do mundo. Há partes do nosso corpo que já não nos respeitam, quanto mais a bola.

É, nos intervalos da vida, deixar a namorada sozinha, com os pais fora. Desafiamos o destino e jogamos com a incerteza de pode mesmo ser a mulher da nossa vida, e calçamos botas dois números acima para jogar num torneio de verão num pelado de circunstância por um treinador que não gosta de nós nem um bocadinho. É, apesar de a cal viva traçar os limites da estrada, atirarmo-nos como se fosse a melhor relva para o carrinho que vimos Maldini horas antes fazer, sabendo o quanto nos vai queimar. O quanto a carne se agarrará para lá do penso à ganga de má qualidade que a esconde do resto do mundo, dos nossos pais de indicador em riste a conduzir o longo pelotão de fuzilamento.

Sporting: do banho de realidade ao tabu Gyokeres

12 fevereiro 2025, 10:00

Sporting: do banho de realidade ao tabu Gyokeres

Segunda parte dos alemães resolveu jogo e provavelmente a eliminatória. Gyokeres entrou, mas continua a levar a perguntas insistentes e à resposta que promete virar 'meme': «Eu não sou médico...»

Subir a telhados para resgatar bolas disparadas por quem transportava o lado mau de Isaías e gritava o nome de um falso-herói para se justificar. Fugir com o resto da trupe quando se estilhaçavam vidros no primeiro ou segundo andar, acreditando que dessa vez o crime não tivera testemunhas e viveria sem culpados. Um carro mais lento a passar, a velhota do prédio em frente a sacudir o pano do pó, os putos que brincavam às escondidas numa das varandas e reagiam ao barulho. Viram alguém?

O mercado pobrezinho dos grandes

7 fevereiro 2025, 10:00

O mercado pobrezinho dos grandes

Sporting não foi tão cirúrgico, mas voltou a acreditar em Fresneda, enquanto o FC Porto se entregou em definitivo ao 'ano zero'. Já o Benfica confirmou os problemas de sempre

É fazer bolas de meias compradas com desconto na feira de domingo, com as famosas raquetes azuis e vermelhas, entretanto negras-cautchu do uso, que não saltavam, mas podiam ser apontadas ao ângulo da porta da marquise. Havia um pote pintado à mão a fazer de barreira, em cima da mesa de centro. Não há técnica sem a sensação de perigo, amigos, vão por mim. Pelo menos, mantém-nos alerta. A folha seca não subia e baixava como as de Didi, mas girava e nos fazia gritar a plenos pulmões, surpreendendo a avó que a infância nos guardara talvez por pena e que nunca víamos com bom feitio. Nem com aqueles dois dedos de tinto à refeição que só fazem bem à saúde. Saudades, vó!

O que foste tu fazer, João Félix?

6 fevereiro 2025, 08:45

O que foste tu fazer, João Félix?

Será este Milan a ferro e fogo com Sérgio Conceição ao comando a melhor solução para Félix prosseguir a carreira? O sistema e o talento puro podem protegê-lo, ao contrário de tudo o resto

Amor foi fazer 20 épocas de Championship Manager com o Notts County, enquanto se enfardavam três ou quatro ideias para os exames, e para a partir daí se defender o indefensável. Sentia que até podia ser político, imaginem. Festejei títulos silenciados pela almofada só para ter o que contar na cafetaria naquele ir e vir diário após o 55 nos deixar à porta, entre mil e uma teorias que se condensavam sem utilidade na atmosfera. Há uma dívida de gratidão que nunca pagarei ao Tó Madeira, seja ele quem for. Esteja onde estiver. Viverá para sempre na minha Matrix, nem que seja anunciado por um gato preto. Dejà vu.

Lage e o espaço que tem dado ao 'aproveitamento'

2 fevereiro 2025, 10:30

Lage e o espaço que tem dado ao 'aproveitamento'

O Benfica e Bruno Lage, mais do que os rivais, têm-se exposto à crítica e devem aprender a conviver com a mesma. Na Luz, é sobretudo tempo de arrepiar caminho em direção aos objetivos

Era ficar a ver Maradona a dar toques com pastilhas mascadas, laranjas, um balão com a forma do mundo. Os atacadores desapertados. Tornozelos feitos num oito e joelho preso por arames. O estômago a querer ganhar vida própria. E querermos ver tudo outra vez, saber tudo outra vez, mastigar tudo novamente. Ouvir de qué planeta viniste? na rouquidão de Victor Hugo Morales no golo do século. Recordar a trivelada nos Jogos Olímpicos. Milhares de chapéus, de belos remates, de livres-quase-à-Panenka à gaveta, com a azul celeste que desafiava o Vesúvio e amplificava a publicidade, que não sendo propositada tinha de ser icónica. Mars. Marte. O verdadeiro marciano. Era o barrilete cósmico que chegava sempre primeiro à bola e nunca pela distância mais curta entre dois pontos. E os guarda-redes desesperavam. Fazia pouco deles, humilhava-os.

A tempestade mais do que perfeita

30 janeiro 2025, 10:00

A tempestade mais do que perfeita

O andebol português elevou-se uma vez mais bem acima da realidade do país, Benfica e Sporting qualificaram-se na Liga dos Campeões e o dia foi de festa a todos os níveis, a começar n' A BOLA

Pôr em loop os 900-a-caminho-de-1000 golos de Cristiano e imaginar quantos Van Basten teria feito se um tubarão não se tivesse atirado ao calcanhar, despedaçando-o para sempre. Os milhentos momentos mais geniais de Léo. Comparar as parábolas de De Bruyne e Laudrup, a explosão de R9 Fenômeno e Weah, as diagonais de Yamal e Robben. Divertirmo-nos com a irreverência de el payasito Aimar, a classe de Lucho e a genialidade quase recalcada de Riquelme, que se reduziu a Juan Román, o homem do pueblo. Anti-craque, ainda que infinitamente craque.

Amar é ser brasileiro quando se fala em Pelé e Zico, e argentino, colombiano e espanhol assim que o tema é Di Stéfano. É acreditar que Zizou passava bem por artista de circo, mesmo que fosse marcado individualmente por leões ou tivesse de driblar cones em cima da corda bamba. Concordar que Best não desperdiçou a vida em mulheres e álcool mais do que eu desperdiçaria se pudesse e que quem o viu junto à ala nada desperdiçou em vê-lo.

Lage e os miúdos à volta da fogueira (Rui Costa incluído)

27 janeiro 2025, 18:14

Lage e os miúdos à volta da fogueira (Rui Costa incluído)

Presidente do Benfica continua a ser incapaz de sair em defesa dos seus nas horas mais difíceis ou então de tomar decisões mais radicais que protejam o clube. Sentou-se, mais uma vez, a assistir ao espectáculo como se nada fosse com ele

Cruijff era como Maradona a chegar primeiro, mas dizia-o antes de fazê-lo. Valdano que conte outra vez aquela história do esta porta abre para dentro. O seu futebol originou e continuará a originar centenas de livros, retribuição eterna que só poderá ser amor. Não estaríamos onde estamos sem ele. O futebol seria provável algo muito diferente, inimaginável. Melhor, pior, não sabemos, mas nunca igual.

Amar, se quiserem, é ter sido todos eles e muitos mais sem na realidade o ter sido, imaginando, gritando, festejando. Copiando o que conseguia. E, passados os tempos do barro, dos duelos épicos, do futebol de antanho, apaixonamo-nos novamente pelos desconhecidos que surgem à nossa frente e acabam a tocar o céu, envelhecendo com eles.

Futebol é vida, como gritava Dani Rojas na genial Ted Lasso. É amor. Um dos que morrerá connosco. Não haja dúvidas.