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Com a centralização em 2028 a receita dos clubes vai crescer
O futebol é o mais importante conteúdo em Portugal. Em 2024, os 20 programas mais vistos na televisão foram 20 jogos de futebol.
Em 31 de dezembro de 2024, havia 4,7 milhões de assinantes de TV por subscrição — a maioria deles trocaria de operador para ter acesso ao principal campeonato nacional de futebol.
Quem tiver a oportunidade de negociar os direitos TV no processo de centralização só pode aumentar a receita global. Se quem vende um produto não acredita no seu valor, como vai seduzir os compradores? E, antes disso, como vai convencer os donos desses direitos a delegarem a sua comercialização em vez de o fazerem diretamente?
Nestes três anos que medeiam até Julho de 2028, muito poderá ser feito para aumentar o valor da Liga. Definir o modelo de competições (sendo certo que reduzir o número de jogos diminui a receita global), conseguir não ter bancadas vazias filmadas e, sobretudo, dar muito espaço de comunicação aos jogadores e aos diretores desportivos são fatores importantes de criação de valor para a competição.
Hoje, um treinador da Primeira Liga comunica 80 vezes por ano (duas vezes no final de cada jogo). Se for treinador dos 3 maiores clubes, comunica pelo menos 150 vezes (uma antes e duas depois de cada um dos 50 jogos). Mesmo que um treinador ganhe todos os jogos, falar 80-150 vezes num ano desgasta a sua imagem perante os adeptos. Será que a impaciência dos adeptos com alguns treinadores não tem algo a ver com este excesso de exposição?
Porque não comunicam mais os jogadores? O Sporting fez isso antes da última final da Taça de Portugal e ganhou o jogo. Os ídolos dos miúdos são os jogadores. São eles que querem ver e conhecer, de quem querem comprar a camisola.
E os diretores desportivos, porque não comunicam mais, como em vários outros campeonatos (como em Itália ou na Alemanha, por exemplo)?
Estratégias de comunicação agressiva, dirigida aos árbitros ou aos adversários, nunca vão deixar de existir. E o público gosta, até durante o próprio jogo. A NBA alterou o critério do que é falta esta época - tocar no adversário, sem impacto na jogada, já não é suficiente. Analisaram o crescimento do râguebi e da MMA, por exemplo, e concluíram que os espectadores gostam de ver contacto físico leal. No início da época da NBA, a intensidade do contacto permitido foi difícil de apreender pelos jogadores e até houve algumas escaramuças incomuns — as audiências cresceram.
Muito mais comunicação por parte dos jogadores e dos diretores desportivos vai agradar aos adeptos, aos seis canais de televisão que transmitem muita informação desportiva (que vantagem tem a indústria do futebol sobre qualquer outra!) e aos treinadores, que se vão desgastar muito menos, sem uma sucessão interminável de conferências de imprensa sem nada de novo para dizer.
A partir de 2028 quem é o titular dos direitos dos jogos?
Tem apenas 6 artigos o decreto-lei nº 22- B/2021, que ficou conhecida como a Lei da Centralização – o preâmbulo é que é extenso e só serve para confundir.
Segundo o artigo nº 3, Titularidade dos direitos de transmissão, nº 1 «A titularidade dos direitos de transmissão televisiva e multimédia (...) pertence aos clubes ou às sociedades desportivas participantes nas respetivas competições».
Mesmo depois de 2028, a propriedade dos direitos dos jogos continua a ser das sociedades desportivas, não foi transferida, apenas a sua comercialização foi determinada ser centralizada.
Sobre os rumores das movimentações de fundos predadores em querer comprar uma percentagem da Liga Centralização, certamente são infundados.
Em troca de um pagamento imediato, esses fundos quereriam conduzir a negociação centralizada — o pecado original que conduziu ao desastre do mercado francês.
Face ao estado de necessidade que algumas sociedades atravessam, essa venda poderia significar a sua sobrevivência por mais um ou dois anos. Não vale a pena discorrer sobre as consequências dessa venda parcial, porque é impossível.
O valor de 100% desta empresa Liga Centralização é de zero euros, os direitos nunca deixarão de ser dos clubes.
A chave de repartição da receita deve ser definida em dois momentos diferentes.
Para ser possível obter um acordo na chave de repartição, não devem as sociedades desportivas querer discutir tudo ao mesmo tempo — num primeiro momento é preciso consensualizar alguns critérios-chave:
1) O SLB, FCP e o SCP recebem o mesmo? Qual é a percentagem que o Benfica recebe mais que Sporting e o FC Porto? Neste cenário, o Sporting e FC Porto recebem o mesmo? Entre o Sporting e o FC Porto, qual recebe mais?
2) Vitória de Guimarães e SC Braga recebem o mesmo? Ou um recebe mais que o outro? E quanto?
3) As restantes 13 equipas da Primeira Liga recebem o mesmo entre si?
4) As 18 equipas da Segunda Liga recebem o mesmo entre si?
5) Para o futebol português ser mais competitivo nas provas europeias, quem disputar as eliminatórias de acesso às provas da UEFA recebe um prémio pela classificação, que lhe permita ser mais competitivo imediatamente?
Havendo um acordo em alguns critérios-chave, os direitos podem ser vendidos. Como a receita vai ser maior, o posterior acordo sobre o valor de cada clube vai ser mais fácil atingir.
Discutir a percentagem de cada um sem se saber qual é a receita que vai haver para distribuir, num país em que a divisão de heranças dentro de famílias frequentemente até em mortes resulta, não parece ser uma boa ideia.
O que podemos esperar da negociação seguinte à de 2028?
A receita de venda dos direitos TV vai crescer no imediato, mas, se nada de novo for feito, na negociação seguinte o valor vai colapsar.
Quanto maior for a duração do contrato a iniciar em 2028, maior será a receita e mais tempo haverá para o futebol português de preparar para a negociação do ciclo seguinte.
Para o futebol português crescer no longo prazo há cinco fatores que determinam o valor de cada equipa, e que somadas são o valor da Liga Portuguesa:
1) Marca da equipa e número de adeptos;
2) Cidade que representa — em Sintra e Vila Nova de Gaia, segundo e terceiro concelho com mais população em Portugal, não há condições para haver uma equipa nas competições profissionais?
3) Estratégia e força do clube ou do proprietário da SAD.
4) Estádio onde joga (condições e lotação, com percentagem relevante de lugares premium);
5) Infraestruturas da equipa sénior e para a formação, o que permita formar jogadores em quantidade e qualidade.
O Famalicão e o Gil Vicente são os quintos clubes que estão há mais tempo na Primeira Liga – vão iniciar agora apenas o sexto campeonato consecutivo! Em 2030, algumas sociedades desportivas que existem hoje nas competições profissionais já não vão existir.
Neste quadro geral de incerteza, quem vai investir em infraestruturas? Quem tem condições para pensar no longo prazo? Ou no médio prazo? Ou para além da época corrente?
Como é que o Famalicão e o Santa Clara, por exemplo, conseguem afirmar-se nas competições europeias se continuarem a jogar nos seus atuais estádios?
Cada ano que passa, há novos desafios. Para cada desafio, tem de haver uma solução nova. Os novos desafios são as melhores oportunidades.
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