Benfica: outra vez o mesmo filme

OPINIÃO19.06.202509:00

Lage acabará, salvo sensacional desempenho no Mundial de Clubes, a época fragilizado. E Rui Costa terá de responder outra vez à mesma pergunta — os jogadores estão com o treinador?

O Benfica terá pouco a ganhar com o Mundial de Clubes, salvo financeiramente, e isso não é menosprezável, e salvo algum desempenho extraordinário, que dificilmente alguém, neste momento, arriscará prever. O Benfica, ao contrário, terá muito a perder, correu, aliás, o risco de muito perder contra o Boca Juniors. Salvou-se com um empate quando, agora que todos conhecemos o que vale mesmo a equipa de Buenos Aires, poucochinho, deveria ter vencido. E ainda terá pela frente o Bayern.

Contra o Boca Juniors, o Benfica jogou quase sempre confortável a atacar com bola, mas foi incapaz de explorar as limitações do Boca Juniors em ocupação de espaços, pressão ou corte de linhas de espaço e foi demasiado frágil sempre que foi apertado.

Poderíamos falar ainda mais de táticas e opções, haveria pano para mangas — mas, mais importante que basculações ou profundidade, pressão alta ou blocos baixos, o jogo com o Boca Juniors mostrou uma equipa com poucos líderes, salvando-se desta consideração, claro, Otamendi, Pavlidis ou Di María; e mostrou ser equipa pouco reativa, positivamente, às ações do treinador.

As coisas vão acontecendo, os minutos vão passando, com muitos ou poucos sobressaltos, como alguém que está conformado com o que o destino possa oferecer, bom ou mau. No jogo com o Boca Juniors, como durante a época, foi sempre difícil prever o que poderia o Benfica fazer, com a atenuante importante de ser um torneio de fim de época no qual, como disse André Villas-Boas, muitos jogadores não querem participar.

Bruno Lage teve o mérito de recuperar a equipa depois da saída de Roger Schmidt, de recuperar os adeptos no apoio à equipa, de conquistar a Taça da Liga e de discutir o Campeonato Nacional até ao fim e a Taça de Portugal com o Sporting. Falhou o objetivo mais importante e, como disse várias vezes durante a época que conhecia bem o clube, sabe bem que falhou o principal. E, por isso, está fragilizado. Também disse que não seria problema para o Benfica, mas, neste caso, terá de ser Rui Costa a fazer a avaliação.

O presidente do Benfica já disse que Bruno Lage continuará na próxima época, pelo que podemos concluir que, seguramente, considerou positivo o trabalho do treinador. Não escapará, porém, da obrigação de fazer e responder à seguinte pergunta, no final do Mundial de Clubes — os jogadores estão com o treinador?

Só os jogadores poderão responder tão bem a essa pergunta como Rui Costa, que já sabe o que pensam alguns, se não todos. Quem está de fora, como nós, apenas poderá especular e não valerá a pena entrar por esse caminho.

Rui Costa, com o passado que tem de jogador, de conhecimento de balneários como poucos, com o passado de dirigente e presidente, sabe que no equilíbrio entre a afirmação de autoridade do treinador e o respeito e a consideração, pessoal e profissional, que dele os jogadores têm se joga todo o projeto. Arriscaríamos, neste caso, a própria reeleição, admitindo que vai recandidatar-se à presidência.

É outra vez o mesmo filme, apesar da diferença substancial de que, há coisa de um ano, sócios e adeptos já não podiam ver Roger Schmidt pela frente. Não acredito que seja o caso com Bruno Lage.

Há um ano a decisão de manter o treinador correu mal. Agora ninguém poderá prever que, mantendo-se Lage, vai correr bem ou mal.

De outra coisa Rui Costa não se poderá livrar — melhorar, substancialmente, a qualidade do plantel. Nunca ignorando uma qualidade intangível em qualquer jogador — a capacidade de afirmação num contexto de exigência e pressão, para lá das melhores características técnicas que possa ter. Não será difícil imaginar, por exemplo, que o Benfica será sempre mais fraco sem Otamendi, Di María ou Pavlidis. E não só pelas qualidades físicas, técnicas e táticas deles.