Benfica: os Santas Claras são mais importantes que os Mónacos
Atrevo-me a dizer que o Benfica tem sido melhor na UEFA Champions League do que na liga portuguesa, olhando à globalidade das coisas. E isso passará pela dificuldade de também os jogadores perceberem algo que todos os adeptos do clube sabem
O Benfica ficou na ‘pole position’ para chegar aos oitavos de final da Liga dos Campeões, podia ter resolvido essa corrida ainda no Mónaco com maior eficácia e vai ter ainda de lidar com 90 minutos de Champions que se preveem ainda tensos. O Mónaco tem atributos para fazer na Luz o que as águias fizeram no Principado.
Pelo meio, o Santa Clara. A deslocação a Ponta Delgada é, da minha perspetiva, mais importante que o jogo ela precede: Mónaco na Luz. E não só no curto prazo.
A irregularidade da equipa é algo que, obviamente, tem de tirar sono a Bruno Lage. O treinador já fez várias coisas boas nesta época, errou noutras – insisto que, na minha opinião, a maior delas todas foi o Benfica de Munique – porque não se pode olhar para esta equipa apenas pelos resultados. É preciso ver o contexto.
Lage herdou um plantel que não era dele, ficou mais satisfeito com o mercado de inverno e, agora, as lesões ceifaram-lhe opções. Mas há algo que se tem tornado percetível ao longo da temporada.
O Benfica tem tido rendimento bastante aceitável na Liga dos Campeões, diria até que tem tido um desempenho bastante bom, com duas exceções: o resultado em casa com o Feyenoord e a estratégia na Baviera.
Atrevo-me a dizer que o Benfica tem sido melhor na UEFA Champions League do que na liga portuguesa, olhando à globalidade das coisas. Claro que se tem de ter em conta o estilo de jogo. O Benfica pode jogar de uma maneira na Europa e internamente tem de ser outro. Mas melhorar essa inconstância doméstica passará também pelos jogadores perceberem algo que todos os adeptos do clube sabem: o Santa Clara é mais importante que o Mónaco.
Não falo especificamente deste momento, deste jogo nos Açores, mas sim de todos os Santa Claras que o Benfica tem de defrontar ao longo da temporada.
Uma cultura de vitória cimenta-se sabendo que um jogo de campeonato, num estádio com cinco ou seis mil espectadores, provavelmente num relvado em mau estado, debaixo de chuva ou vento forte, tem de ser jogado com a mesma concentração e ambição de uma partida frente a um grande nome na Liga dos Campeões.
Não é um trabalho fácil, mas é um trabalho que me parece que o técnico dos encarnados tem mesmo de fazer em dois níveis. No mental com os jogadores e nas opções em campo: por exemplo, Lage trocou Otamendi, Carreras (castigado), Florentino, Di María e Pavlidis, todos claros titulares, por António Silva, Beste, Leandro Barreiro, Amdouni e Arthur Cabral nas Aves. É verdade que esse 1-1 chegou num dezembro carregado de jogos, mas não me desvio da ideia inicial: é mais relevante o Santa Clara do que o Mónaco e se houver esforços adicionais a fazer, esses são para sábado e não para terça-feira.