As cadeias alimentares no futebol
Flamengo venceu Atlético Mineiro na final da Copa do Brasil. Foto Paula Reis/Flamengo

As cadeias alimentares no futebol

OPINIÃO23.11.202409:20

JAM Sessions é o espaço semanal de opinião de João Almeida Moreira, correspondente de A BOLA no Brasil

A Liga dos Campeões distribuiu cerca de 2000 milhões de euros pelos participantes em 2023/24 – a Taça dos Libertadores da América entregou meros 214.

O vencedor da principal competição europeia, que no ano passado foi o Real Madrid, pode faturar até 114 milhões de euros; o campeão da Libertadores de 2024, o Botafogo ou o Atlético Mineiro, vai receber 31.

Estas diferenças, assim como a posição de Flamengo e Palmeiras na classificação do site Transfermarkt dos clubes mais valiosos do planeta, em 59.º e 60.º, respetivamente, entalados entre os franceses de meio da tabela Nice, 58.º, e Rennes, 61.º, são citadas dia sim, dia sim, no Brasil para demonstrar a luta desigual entre o futebol sul-americano e o futebol europeu. E para justificar o undecacampeonato – o palavrão é atribuído a quem é campeão 11 vezes seguidas – dos representantes do Velho Continente no Mundial de Clubes, cinco do Real Madrid, dois do Bayern, um do Barcelona, um do Chelsea, um do Liverpool e um do Manchester City, e apenas seis vezes em finais frente a clubes sul-americanos.

«É a ditadura do capital», lamenta-se no Brasil. «Uma injustiça», queixam-se as torcidas locais. O mundo é, de facto, demasiado desigual – e o mundo do futebol acompanha-o. Mas a desigualdade dói mais quando a sentimos na pele do que quando fazemos outros senti-la.

«Aqui [na Argentina] entre o Torneio dos Campeões do Mundo e a Copa da Argentina não dá nem para cobrir os autocarros dos adeptos... mas o clube pertence aos sócios», escreveu Juan Sebastián Verón, hoje presidente do Estudiantes de La Plata, numa rede social, por entre emojis de sorrisos, provavelmente amarelos. La Brujita comentava a notícia dos quase 16 milhões de euros ganhos pelo Flamengo com o triunfo na Copa do Brasil, sobre o Atlético, há dois fins de semana. O Fla faturou 32 vezes mais do que o vencedor da Copa da Liga argentina, precisamente o Estudiantes, de Verón, um arrebatado defensor das SAD no seu país.

Ou seja, da mesma forma que os brasileiros (e demais sul-americanos) se sentem impotentes para lutar contra o poder do capital europeu ilustrado no tal undecacampeonato, os argentinos (e demais sul-americanos) sentem-se impotentes para lutar contra o poder do capital brasileiro ilustrado no seu hexacampeonato, a contar já com 2024, na Libertadores.

É a tal cadeia alimentar que, traduzida para Portugal, permitiu ao Sporting desviar o treinador do SC Braga em 2020 e ao Manchester United desviar o treinador do Sporting em 2024.

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