O sorriso de Ruben Amorim, treinador do Man. United (Foto: IMAGO)
O sorriso de Ruben Amorim, treinador do Man. United (Foto: IMAGO)

Amorim: a sorte dá muito trabalho

OPINIÃO19.04.202509:30

Manchester United-Lyon entra na história por vários motivos. E vai ajudar a construir a imagem de um treinador que é realmente especial, capaz de transformar um ogre num príncipe

Reviravoltas desconcertantes há muitas, mas o que assistimos na noite de quinta-feira, em Old Trafford, vai muito além do imaginável, provando que o futebol continua a forçar os limites do razoável. O Manchester United-Lyon ficará na história por muitos motivos. Por ter sido o jogo com mais golos marcados num prolongamento em provas europeias, por nunca terem ocorrido dois golos no minuto 120 de uma partida sob a égide da UEFA ou simplesmente porque pode ter sido o momento que dará a Ruben Amorim uma imagem que transcende o treinador que percebe de táticas e estratégia – um certo ar de milagreiro, porque só por milagre é possível transformar estes jogadores numa equipa que está a duas etapas de conquistar a segunda prova de clubes mais importante da Europa.

Não há maior paradoxo do que concentrar em Harry Maguire a figura de salvador: um central que exibe erros básicos nos apoios, no um contra um defensivo e uma profunda inaptidão no entendimento da linguagem corporal dos avançados adversários. E mesmo assim foi o único com sentido de golo e sobre quem foi colocada a coroa de louro. É por desafiar a lógica que o futebol consegue ser tão belo.

Talvez só daqui a um ano, quando (e se…) tiver outro plantel e estiver noutro patamar da classificação que Ruben Amorim falará sobre esta noite como falava daquelas partidas resolvidas com as subidas do seu capitão à área adversária (Maguire foi o seu Coates): era engraçado mas configurava um sinal de desespero e impotência. Porque jogos como o United-Lyon só acontecem porque há muitos erros.

Do ponto de vista da qualidade individual e coletiva, o Lyon foi melhor, mesmo com 10 jogadores - demonstração do bom trabalho de Paulo Fonseca neste histórico do futebol francês. Mas os grandes treinadores são aqueles que em determinados momentos da carreira parecem ser tocados com a varinha. Ou no caso de Ruben Amorim, são já vários os momentos. No Sporting chamaram-lhe estrelinha, no Manchester United ainda estão a pensar num nome para isto – por enquanto fica só a alusão ao Fergie time, aquela capacidade que o United tinha em virar jogos nos últimos minutos sob o comando de Alex Ferguson. Mas também já se terá chegado à conclusão de que quando alguém tem sorte muitas vezes é porque há um trabalho sólido por detrás – fundamentalmente um trabalho mental. Uma variante que o faz ter uma aura realmente especial. Aquele abraço de Onana significa muita coisa.

Análise de João Daniel Rico ao apuramento do United para as meias-finais da Liga da Europa
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