Alta pressão no futebol
Dando continuidade ao processo que marca de forma decisiva este último período do campeonato, volto a referenciar uma reflexão que ao longo do tempo tenho dado a conhecer publicamente, neste cair de finados, dada a luta por vezes desconcertante das equipas para vencer o título, acesso à liga dos campeões, provas UEFA, manutenção ou subida de divisão.
Este foco que o ato competitivo, provocado por uma elevada expectativa na conquista de um resultado, quando não for capaz de ser ultrapassado, pode gerar nos jogadores um presságio devastador pelo risco ou receio de perder, acusando um estado de negligência emocional, sabendo-se que, como tantas vezes tenho repetido: quando o medo de perder supera a vontade de ganhar, perde-se quase sempre, vendo-se abertas as portas dos balneários e dos seus acessos, àqueles que mais se podem identificar como os prisioneiros da desgraça.
Não se pode por isso ignorar a importância e influência que os processos emocionais exercem sobre o comportamento dos jogadores e da estrutura profissional que lhes confere a sua verdadeira identidade.
Pelas atitudes verificadas em jogadores movidos por uma causalidade onde possa residir falta de confiança, os nervos e a angústia aumenta-lhes o cansaço, pensam que tudo lhes pode sair mal, individualizando em excessivo as técnicas de ação, cometendo faltas sucessivas, discutindo sobre questões para as quais não têm possibilidades de resolução (relvado, público, árbitro, chuva, vento, etc.), deixando-se envolver por um sentimento base negativo e olhando o futuro como um pesadelo, provando que a inquietação, o desespero e a derrota têm um efeito mais retumbante.
Por vezes, a obrigação absoluta de ultrapassar o adversário pode transferir para o processo emocional um acicate, quando os jogadores não são capazes de dominar este estado de pressão.
A associar nos caso típicos de equipas que, no decorrer da época, firmaram as presenças nas diversas provas internacionais, a ser objeto de larga discussão pela inerente densidade competitiva, se viram por isso destituídas de jogadores em diversas seleções, com a interrupção de rotinas presenciais nos seus clubes de origem, enquadrados noutros perfis de exigência técnica, tática, competitiva e emocional, por vezes associando viagens de longas durações, com alterações climáticas e fusos horários a ultrapassar, pela complexidade do jet lag, que nalguns casos geraram maiores manifestações de fadiga, maior dificuldade de concentração, maior irritabilidade, maior perceção de ameaça e diminuição do estado de alerta, conduzindo a situações de maior fragilidade, quantas vezes autenticadas nas lesões num tempo de prolongada recuperação.
Para contrariar este estado de sítio, terá de se definir claramente a capacidade de empenhamento dos jogadores para um rendimento desejado, permitindo sonhar com o futuro, porque fortes, convencidos e motivados. Contudo, a capacidade humana para superar adversidades é fenomenal. Há equipas e jogadores que, após o relato de fatores adversos, renovam um espírito avassalador, transformando a adversidade numa força mobilizadora e aglutinadora, capaz despertar maior empenhamento para a obtenção do sucesso.
Contemplando o que de forma repetida procuro inserir nas minhas reflexões, tendo presente algumas das minhas experiências que foram objeto de fundamentação pelo sucesso conseguido, anoto a premente necessidade de remodelação de conteúdos no que corresponde à inserção de metodologias de treino. Sendo assim, passo a equacionar algumas dessas referências:
1. Restabelecer ou incrementar um compromisso por parte de cada jogador na concretização de objetivos quer em cada treino, quer em cada jogo, construindo para o efeito um quadro de excelência onde possa colocar os seus rankings de sucesso, podendo ser validados como um elemento desafiador de conquista (passos positivos, assistências para remate e golos, desarmes com eficácia, remates e sua qualificação, etc…). Isto é, pelo estudo e regulação dum código de conduta, permitir através do esforço, disciplina e dedicação uma matriz onde se incorpora a dinâmica de sucesso de cada qual. Estaremos, assim, a ajudar a transferir para o processo de consciência este enriquecimento dum património justificadamente qualificado e substancialmente enaltecido das funções que são exigidas, quer a cada jogador na sua individualidade, quer à equipa na sua globalidade.
Sabemos que os jogadores mais capazes de obter o sucesso também são aqueles que melhor conseguem dominar os índices de pressão que se vão acumulando ao longo do jogo. Para isso, necessitam de identificar as origens deste estado crítico. Em termos somáticos identificam-se pela transpiração excessiva, garganta seca, forte transpiração, arritmias diversas, etc… Em termos cognitivos, estão mais sujeitos às crises de pensamento (não consigo, sou fraco, tenho receio de me lesionar, etc…, aparecendo na memória uma nuvem de incerteza, provocada pelas histórias negativas dos insucessos nos desempenhos registados). Chamei-lhe, num dos artigos em tempos publicado, o veneno da memória. Como consequência de tudo isto, apresentam geralmente uma qualificação técnica de miséria — passes errados, faltas sucessivas, incapacidades flagrantes no teor de finalização, problemas de ordem disciplinar, etc. Podemos construir a partir destas avaliações e reflexões os traços de personalidade dos jogadores que mais resistem e combatem ou, por outro lado, desaparecem perante os desafios que a pressão do jogo lhes impõe.
2. Inserir na dinâmica processual de treino a técnica de visualização criativa dos gestos técnicos que estão inscritos no código do êxito participativo. É fundamental que as imagens de sucesso sejam previamente e insistentemente documentadas, exaltadas, visualizadas e experienciadas, sendo mobilizadas as fontes de convicção no desejo de se verem repetidas.
3. Outra das formas para ajudar a eliminar os estados de pressão está na aplicação metodológica do trabalho respiratório profundo, associado à técnica de relaxamento muscular progressivo com base nos exercícios de respiração/tensão/relaxamento, capazes de transmitir paz, serenidade, tranquilidade, que pode ser treinada inicialmente num gabinete, sala ou balneário para depois ser aplicada durante o jogo no momento das suas paragens (assistências médicas, substituições, etc.). Creio que esta metodologia de referência assume-se como um processo modelar que ajuda a libertar a tensão acumulada, podendo um jogador, em estado de crise momentânea, ver fortalecido o seu domínio de autoconfiança, manter ou porventura melhorar a capacidade de concentração e autocontrolo e selecionar os melhores níveis de eficácia nas tomadas de decisão.
Perante um alto estado de pressão, associando a qualquer metodologia de treino uma cultura de honestidade, autenticidade, ética, resiliência e otimismo, poderemos — com maior rigor e segurança — atestar comportamentos, ajustar desejos, invocar convicções e então sim, partir para a viagem de sonho onde poderá habilitar ao sucesso.