A revolução necessária
A final da Taça de Portugal, disputada no domingo, entre Benfica e Sporting, poderia e deveria ter sido uma montra elevada do futebol português, mas transformou-se, infelizmente, num penoso retrato dos males que persistem na nossa cultura desportiva.
Em vez de talento, espetáculo, desportivismo e exemplo, assistimos — de parte a parte — a uma monótona sucessão de interrupções, perdas deliberadas de tempo, antijogo ostensivo e, pior ainda, a demonstrações inequívocas de agressividade, quase sempre impunes e, até, festejadas com inexplicável orgulho.
Esta realidade, repetida tantas vezes ao longo da época desportiva que agora finda, não se compadece com a excelência técnica, o talento individual, a capacidade e competência de muitos dos nossos jogadores, treinadores e dirigentes reconhecidos internacionalmente.
Enquanto não houver coragem para enfrentar estes problemas com medidas estruturais e permanentes, estaremos a hipotecar irremediavelmente o futuro do futebol português.
O que está em causa é muito mais profundo do que simples questões regulamentares ou disciplinares. Trata-se da urgente necessidade de instaurar uma verdadeira cultura de valores, ética e educação desde a formação dos jovens atletas até ao topo das estruturas profissionais.
Os clubes, treinadores, dirigentes e árbitros têm responsabilidades acrescidas. É fundamental que assumam o papel pedagógico e exemplar que lhes compete, punindo rigorosamente comportamentos antidesportivos e incentivando o respeito pelo adversário, árbitros e público.
É preciso criar condições efetivas para que as famílias e as crianças regressem aos estádios sem receios, confiantes na segurança e na qualidade do espetáculo oferecido. Para isso, importa olhar para os melhores exemplos internacionais, onde o futebol é vivido como festa coletiva, assente em princípios de fair play e respeito mútuo.
Portugal merece um futebol que seja reflexo dos seus melhores valores culturais e sociais, e não a expressão triste das suas fragilidades. A mudança é possível, mas exige coragem, visão estratégica e determinação. É tempo de agir com clareza, exigência e responsabilidade, para que o futebol português recupere o lugar de destaque que, pelo talento dos seus melhores protagonistas, lhe pertence legitimamente.
Não há mais tempo a perder. O futebol português necessita, agora mais do que nunca, de uma revolução ética e cultural que o reconduza e afirme na medida do seu potencial e, sempre, na defesa da sua dignidade.