Taremi critica regime do Irão: «A culpa da situação do país está nas mãos de outras pessoas»

Mehdi Taremi foi o herói da partida entre Irão e Quirguistão ao marcar o golo da vitória dos iranianos, em jogo a contar para a qualificação asiática para o Mundial 2026. Contudo, um momento que deveria ser de felicidade acabou por resultar na revolta do avançado ex-FC Porto.

Após o apito final, na conferência de imprensa, Taremi não teve papas na língua e respondeu aus adeptos que, durante a partida, chamaram o atleta de bisharaf, uma palavra rude em farsi (língua persa muito falada no Irão) usada para chamar alguém de 'pessoa sem honra'.

«Disseram-me para não dizer nada, mas bisharaf é uma palavra rude. Não podemos chamar bisharaf uns aos outros. Foram outras pessoas que fizeram coisas ao país. Como é que o facto de sermos bisharaf é da nossa responsabilidade? Somos responsáveis por estas coisas que estão a acontecer ao país para sermos bisharaf?» questionou Taremi, visivelmente revoltado.

«Parem de estar sempre a dizer isso, nós não somos bisharaf. Por amor de Deus, essa é uma palavra rude. Eu não vos devia chamar isso e vocês não nos deviam chamar isso. Sei que a situação económica do país é difícil para todas as pessoas. Também temos queixas contra a realidade que existe. A situação tem de melhorar. O senhor Amir [selecionador do Irão] disse mil vezes que tem de melhorar, eu disse, todos nós dissemos que tem de melhorar. Todos nós sabemos isso. Esta pressão que se exerce sobre as pessoas comuns, é natural que elas desabafem algures. Mas não a este nível», acrescentou.

O ex-FC Porto não ficou por aí e uniu-se à população nos protestos contra as condições de vida no Irão e dirigiu a mensagem diretamente para o governo do país: «Nós também temos família. Somos iguais a vocês. Todos nós amamos este país. Todos queremos que este país seja bem sucedido em todos os domínios. Estas coisas acontecem ao país e nós temos de sofrer os insultos, outros atletas têm de sofrer insultos... por amor de Deus, a culpa não é nossa. Nem eu, nem pessoas 1000 vezes maiores do que eu, podemos mudar as coisas. Nem celebridades, nem atletas, nem atores, nem sei quem mais: a culpa não é nossa. Está nas mãos de outras pessoas.»