Andebolista diz que sai mais ao pai, na forma de jogar e no feitio, enquanto que o irmão, Martim, sai mais à mãe

«Sou parecido com o meu pai que era um jogador raçudo»

Mudou-se de armas e bagagens com o irmão para o Sporting, quando o pai se tornou treinador dos leões. É um «orgulho» ser filho dos antigos internacionais Ricardo Costa e Cândida Mota, mas ser filho do treinador é diferente

- Prof. Ricardo, mister. Como é que trata o seu pai?

- Às vezes nem o chamo! Nos treinos, às vezes tento só chegar à beira dele e começar a falar certos assuntos, mas nem o chamo, fico ali numa indecisão. Se é mister, se é Costa, se Ricardo. Às vezes sai pai. Por isso, às vezes nem o chamo e espero que ele me chame.

- É difícil ser filho do treinador?

- Não, agora já não é. Eu comecei com ele, foi no Avanca, estivemos meia época. Aí foi mais difícil, porque eu ainda era muito novo, tinha 15 anos e não sabia muito bem lidar com isso. Foi bom porque foi como um teste antes de virmos para o Sporting. O Martim também teve a oportunidade de estar com o meu pai no FC Gaia, por isso tivemos um pequeno teste antes de passarmos para um clube grande.

Ricardo Costa, ponta direita, da Seleção Nacional

É chato o treinador?

- De vez em quando [risos].Mas agora já está fácil [risos].

Cândida Mota e Ricardo Costa apoiam os filhos Kiko e Martim Costa, da Seleção Nacional de andebol, no Mundial 2025
Cândida Mota e Ricardo Costa apoiam os filhos Kiko e Martim Costa, da Seleção Nacional de andebol, no Mundial 2025

- E é difícil ser filho do Ricardo Costa?

- Às vezes é difícil ser filho do treinador. Do Ricardo Costa não, isso é um orgulho. Ser filho do treinador é muito mais difícil do que ser filho do Ricardo. Ser filho do Ricardo para mim é ótimo.

Cristina Gomes, Cândida Mota (centro) e Judite Paris na Seleção Nacional

- E da Cândida [Mota, internacional de andebol], claro, porque a genética aqui não engana. O que herdou de cada um deles?

- Acho que eu sou mais pai e o Martim herdou da minha mãe. Eu não me lembro de ver a minha mãe jogar, sei do que o meu pai fala e ela conta, mas acho que era mais atiradora. O meu pai gostava mais de driblar, da ponta, naquele um contra um…Acho que sou mais parecido ao meu pai e o Martim é mais a minha mãe.

Cândida Mota

- E de feitio?

- Acho que é o mesmo [risos]. O Martim sai à minha mãe e eu ao meu pai, que era muito raçudo quando jogava. Herdei um pouco disso. Bom, pensando bem o Martim também [risos]. Na verdade, temos todos essa mentalidade, essa veia competitiva. Nascemos numa família assim.

Ricardo Costa quando era jogador do FC Porto

- Só se fala de andebol.

- Não [risos]. De andebol, de competição, de vencer, de lutar, de treinar. Em todos os desportos. Em Espanha há muitos campos em todo o lado onde se pode jogar basquetebol, futebol, andebol. Quando o meu pai estava no Ademar Leon íamos para esses locais e jogávamos todos os desportos possíveis e queríamos ganhar sempre! E quem perdia ficava muito chateado. [sorri]. Herdámos isto de toda a gente.

- As primeiras memórias do andebol são em Espanha?

- Sim, de quando o meu pai foi jogar para lá. Tinha dois anos, três anos e ele ficou seis épocas. Lembro-me mais ou menos. Lembro-me no final dos jogos do meu pai, quando era em casa, ia para dentro de campo e queria jogar com os colegas dele. Também me lembro, que dentro do pavilhão, debaixo da bancada, havia um sítio para as crianças que não quisessem entrar a ver os jogos, brincarem, tinha balizas e muitas outras coisas. Eu ia para lá jogar andebol. Lembro-me disso e de ir para dentro de campo jogar com eles.

- Nunca lhe passou pela cabeça a fazer outra coisa que não fosse jogar andebol?

- Não. O Martim ainda experimentou o basquetebol em Espanha. Eu não, mas gosto de praticar outras modalidades! Adoro. Padel, voleibol de praia, ténis, surf. Tudo o que seja desporto. E poder ganhar! [risos].

Kiko, Ricardo e Martim Costa

- Quando acaba o jogo, vais para casa com o pai? Ou para os treinos?

- Para o jogo vamos em carros diferentes. Cada um gosta de ouvir a sua música, cada um gosta de se preparar no seu tempo. Para o treino, também vamos em carros diferentes. Nos primeiros anos, quando eu não tinha carta, e o Martim também não, íamos todos juntos. Isso foi mais difícil. Agora cada um tem o seu carro e é melhor [sorri]. Se o treino corre mal, não estamos os três no carro a falar. Cada um vai no seu carrinho, ouve a sua música, digere à sua maneira. Mas claro, se o jogo corre mal, ou o treino corre mal em casa...

- E a mãe dá conselhos?

- Não, hoje em dia já não... Já não precisam. Antes dava-me. Agora acho que já não é preciso. Também tínhamos treinador em casa, por isso. Termos dois treinadores, não é boa ideia. Imagina se se chateiam com ideias diferentes [risos].