Nem sempre é fácil escrever um artigo de opinião sobre um ou mais acontecimentos. Exige, no mínimo, alguma serenidade e tranquilidade de espírito que, infelizmente, não podemos controlar. No meu caso, e relativamente a este jornal, o dia para escrever é certo e não pode estar obviamente dependente, todas as semanas do meu humor ou estado de espírito. Ao longo destes quase três anos a escrever este artigo semanal, apenas duas vezes, uma por razões profissionais, e outra por razões de saúde, tive de pedir a compreensão do Director para me dispensar deste compromisso com o jornal e os seus leitores.


Esta semana, praticamente desde segunda - feira, e ultrapassada uma semana de reflexão de vários aspectos da minha vida, incluindo, como é obvio, o Sporting, comecei a pensar o que é que iria escrever, obviamente, sobre o mesmo Sporting. Estive quase para pedir dispensa, mas resolvi não o fazer, contando com a ajuda  de alguma lucidez que me resta, no meio de tanta amargura e desgosto.


 Tudo começou no Sporting - Benfica e, designadamente, com aquela chuva verde que se abateu sobre o Rui Patrício. Logo ali, afirmei que o Sporting não iria vencer o Benfica. Não cabe na cabeça de ninguém que um jogo, onde se exige a maior concentração, comece e se interrompa daquela maneira. Lembrei-me de um jogo, há muitos, muitos anos, com a Académica, o que fizeram ao Vítor Damas, só porque se falava que ia, como aliás foi, para o Santander! Vítor Damas ficou na história por si, porque as massas do futebol são de uma enorme ingratidão. Isto sim, foi ingratidão, não aquele de que fala Bruno de Carvalho. No caso de Rui Patrício, que, quando começou, podia ter terminado logo, não fora Paulo Bento, foi uma irresponsabilidade sem nome, seguida de uma ainda maior, que foi a não censura firme e determinada. Não houve sequer um «que chato»! Mas a semana correu, com alguma acalmia, porque o jogo com o Marítimo era importante.


Comecei então a preocupar-me com a noticia de que Bruno de Carvalho iria estar ausente. Não porque pensasse que ele faria falta junto de um grupo onde, como já todos tinham percebido, não era bem-vindo, mas para se afastar de um cenário eventualmente negativo, sob todos os pontos de vista, como aliás viria a acontecer.


Não satisfeito com esta ausência significativa, que os acontecimentos posteriores explicam, Bruno de Carvalho dá uma entrevista ao Expresso - e não interessa quando foi dada, mas quando foi publicada - da qual se extrai, em conclusão, que o treinador já era, e alguns jogadores já seriam!...


Depois a tirada do Pai. Depois a reunião de segunda-feira, com aquela conferencia de imprensa ridícula à janela do carro, onde se refere a ursos, mas que me fez retornar à entrevista do Expresso, onde proclama que «para ter sucesso, a primeira coisa a fazer é criar fama de maluco. Depois é só mantê-la».  E porque é que retornei?


Porque foi aí que constatei definitivamente que o problema não é a fama. É a realidade, e com pena o digo!...


Na segunda-feira à noite, na Sporting TV, neguei-me a comentar a não suspensão de Jorge Jesus, para não fazer figura de urso, face a reuniões a que não assisti, embora tenha conseguido tirar as minhas conclusões, porque uma das vantagens da velhice é a experiência pessoal da vida e o conhecimento da sociedade desportiva. Bruno de Carvalho entrou em directo, via telefónica, contando a sua versão, a qual não me mereceu qualquer outro comentário para além da afirmação: ouvi atentamente as palavras do presidente; registo - as educadamente! Interiormente, assumi a ruptura e proclamei para mim mesmo: basta!


E bastava mesmo. Anteriormente, quando das declarações via facebook por causa do Atlético de Madrid - Sporting, e por causa de processos pendentes muito importantes para o futuro do Sporting, aventei a hipótese de uma incapacidade temporária, que alguns qualificaram de burnout - expressão que, francamente, não conhecia e que corresponde a um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional. Será talvez interessante ler alguma coisa sobre o assunto e fazer comparações...


Mas o pior estava para vir na terça - feira: uma verdadeiro acto de terrorismo, que jamais imaginaria ser possível, fosse onde fosse. Eu sabia, todos sabíamos, e Bruno Carvalho confirma-o na entrevista ao Expresso, que este não procura o amor dos jogadores, mas também era notório o ciúme dos mesmos. Por mim, sempre estive convicto, que Bruno Carvalho estava com os jogadores apenas no momento do sucesso, e para beneficiar dele, sem perceber que cada um tem a sua quota - parte no sucesso. Nas derrotas, e de uma forma geral, sempre tirou o cavalinho da chuva, o que é uma coisa que qualquer balneário não aceita. A pouca consideração que tem pelos jogadores profissionais está traduzida no comentário, perante os acontecimentos de Alcochete: que chato! Bruno  de Carvalho que tantas vezes se queixa - e muitas vezes com razão -de hipocrisia e cinismo no discurso, falou com sinceridade dum acontecimento hediondo: que chato! Chato foi não ter sido cínico, ao menos uma vez na vida! Ficava-lhe bem!


E a partir daqui Bruno de Carvalho ficou sem qualquer condição para continuar presidente. Já não é o estilo ou a forma. É o conteúdo e aquilo que parecia tão caro a ele: o amor ao Sporting. Não consigo perceber como é que ele consegue assistir à destruição do clube e da SAD, porque a sua teimosia, prolonga a agonia e dá pasto aos oportunistas que sempre aparecem nestas ocasiões.


O símbolo do clube é o leão, e este, neste momento, está ferido no seu orgulho, que é o orgulho de todos nós. Mas não deixará de se levantar, porque a sua alma, o nosso esforço, dedicação e devoção levar-nos-ão de novo à glória.


A SAD porém é uma outra realidade, que sem prejuízo dos símbolos e da alma do clube, actua num mercado objetivo, onde o símbolo é essencialmente o euro. Burn significa em português arder, queimar. Peço a Bruno de Carvalho que se retire, porque a questão já não é burnout, mas  SAD burn!


P.S.: Leões vamos vencer a Taça, porque a merecemos mais do que nunca. Bebemos o fel, venha um pouco de mel!