Luís Montenegro e Rui Costa na tribuna presidencial do Estádio Nacional (Foto: Miguel Nunes)
Luís Montenegro e Rui Costa na tribuna presidencial do Estádio Nacional (Foto: Miguel Nunes)

Rui Costa ganhou na razão mas perdeu no mais importante

Tão grave quanto a agressão cobarde de Matheus Reis é o silêncio do Sporting. Mas quando isto passar não se vai falar do pisão, mas na pisadela do leão à gestão do grande rival

«É fazer uma falta ao Trincão e pronto, pára-se o jogo, acabou o jogo!» Mais palavra menos palavra foi este o desabafo de Rui Costa em conversa com o primeiro-ministro Luís Montenegro na tribuna presidencial do Estádio Nacional, facilmente percetível nas imagens de TV, a respeito do lance que resultou no penálti sobre Gyokeres cometido por Renato Sanches na final da Taça de Portugal. O mesmo Rui Costa que depois de concluída a partida queixou-se da arbitragem, mencionando vários lances, mas acertando apenas num, o da agressão cobarde a Andrea Belotti.

Mas pode o presidente do Benfica ter razão nas observações que faz e no entanto ser-lhe apontada parte da responsabilidade pela derrota? E é possível distinguir um evento que prejudicou gravemente uma equipa e atribuir justiça à vitória da outra? No mundo polarizado de hoje isso parece impossível, mas nunca é demais tentar furar a cortina de fumo.

Em primeiro lugar, o Benfica: é verdade que faltou a Renato Sanches o discernimento no penálti sobre Gyokeres depois de falhado o carrinho de António Silva. Mas este foi o risco que se correu ao colocar numa final um futebolista que não jogava há quase dois meses e cheio de problemas físicos. E se não havia mais opções é porque há lacunas momentâneas na equipa (o lesionado Manu Silva terá feito falta na segunda metade da época) e outras estruturais – porque mais uma vez Aursnes teve de tapar o buraco à direita numa posição onde alinha um adaptado (Tomás Araújo) na ausência do lesionado Alexander Bah, o único lateral-direito de raiz.

O Sporting, que tem um plantel com menos opções em quantidade, mostrou no entanto ser o mais equilibrado: todos os jogadores lançados por Rui Borges na segunda parte acrescentaram valor; os leões acabaram a partida com dois avançados de peso ao passo que Bruno Lage (que em janeiro prometeu «resolver» o problema de aqueles tipos não saltarem a uma bola) decidiu prescindir do único dos três pontas de lança com valor para jogar no Benfica.

O discurso magoado (e legítimo) do presidente das águias entende-se na lógica do adepto, mas enquadra-se na do presidente derrotado, algo que prejudica-o mais do que beneficia, mesmo em contexto de eleições - se decidir mesmo recandidatar-se. Porque daqui a umas semanas vai falar-se menos do pisão na cabeça e mais na pisadela que o Benfica mais uma vez levou do velho rival, mesmo tendo sempre mais dinheiro – mas gastando pior.

Mas que uma coisa não abafe a outra: Matheus Reis merece a condenação de todos. No futebol há entradas duras que se aceitam no calor do jogo, mas aquilo ultrapassa a linha vermelha traçada pelos próprios jogadores – nunca é perdoado o arrastar de pés perante as saídas no chão dos guarda-redes, por exemplo; é uma espécie de lei sem letra. O defesa do Sporting não só não evitou pisar a cabeça de um adversário como o fez de forma ostensiva. Mas tão grave quanto o gesto é a ausência de um pedido de desculpas do jogador ou uma posição do clube.

Na semana passada elogiei a elevação de Frederico Varandas na hora de celebrar o bicampeonato e admito que esperava mais do presidente leonino nos dias que se seguiram àquele ato vergonhoso. «Somos diferentes» é uma frase muitas vezes ouvida nos seus discursos. Agora seria uma excelente oportunidade de reforçar o slogan. Porque não pode valer tudo, mesmo para quem vive a febre de uma vitória merecida e uma goleada na gestão.

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