Real Madrid B foi à Europa após perder Taça para... o Real Madrid

A 4 de junho de 1980, o Estádio Santiago Bernabéu foi palco de um dos episódios mais insólitos da história do futebol: a final da Taça do Rei entre o Real Madrid e a sua equipa B, o Real Madrid Castilla. Foi a primeira vez que um clube disputou a final da principal competição nacional contra a sua própria equipa reserva, num feito que continua inigualado. 

O percurso de ambas as equipas até à final foi impressionante. O Real Madrid entrou em prova nos oitavos de final, eliminando o Logroñés com vitórias por 3-2 e 2-0. Nos quartos de final, venceu o Betis por 2-1 e empatou 1-1 no segundo jogo. Nas meias-finais, enfrentou o rival citadino Atlético Madrid, empatando 0-0 na primeira mão e 1-1 na segunda, avançando depois de vencer por 4-3 no desempate por grandes penalidades.  

Por outro lado, o Castilla surpreendeu tudo e todos ao eliminar equipas da primeira divisão como o Hércules, o Athletic Bilbao e a Real Sociedad. Nas meias-finais, recuperou de uma derrota por 0-2 frente ao Sporting Gijón, vencendo por 4-1 na segunda mão e garantindo um lugar histórico na final. 

A final decorreu perante 65 mil espectadores no Santiago Bernabéu e terminou com uma vitória clara por 6-1 da equipa principal. Os golos do Real Madrid foram marcados por Juanito (2), Santillana, Andrés Sabido, Vicente del Bosque e Francisco García Hernández. O único golo do Castilla - que alinhou de roxo - foi apontado por Ricardo Álvarez, tornando-se assim o único jogador de uma equipa B a marcar numa final da Taça do Rei. 

Os plantéis também merecem destaque. No Real Madrid, destacavam-se nomes como o guarda-redes García Remón, os defesas Sabido, Pirri, Benito e Camacho, os médios Ángel, Del Bosque e Stielike, e os avançados Juanito, Santillana e Cunningham, sob orientação de Vujadin Boskov.

Já no Castilla, que era treinado por Juanjo García Santos, figuravam jogadores como Agustín na baliza, Juanito, Herrero, Castañeda e Casimiro na defesa, Álvarez, Gallego e Bernal no meio-campo, e Pineda, Paco e Cidón no ataque. 

Para além da Taça, nessa época, o Real Madrid alcançou a dobradinha, sagrando-se campeão da LaLiga 1979/80, erguendo o seu 20.º título nacional, e foi semifinalista da Taça dos Clubes Campeões Europeus, onde foi eliminado pelo Hamburgo.  

O Castilla, por sua vez, terminou a segunda divisão de forma segura, no sétimo lugar, para além da presença na final da Taça do Rei, o que lhe valeu mais um feito inédito...

Como finalista vencido da Taça, o Castilla conseguiu a qualificação para as competições europeias na época seguinte, tornando-se a única equipa B da história a disputar uma prova continental.

Na edição de 1980/81 da Taça das Taças, o Castilla continuou a surpreender. Na primeira eliminatória, defrontou o West Ham e, na primeira mão em Madrid, levou a melhor sobre os londrinos, vencendo por 3-1, com golos de Paco Machín, Balin e Valentín Cidón.

Na segunda mão, contudo, os hammers superiorizaram-se e viraram a eliminatória, goleando por 5-1. A eliminação precoce não retirou mérito ao feito histórico de representar o futebol espanhol numa competição europeia sendo apenas uma equipa B, recheada de vários atletas jovens que viriam a integrar o plantel principal do Real Madrid anos mais tarde. 

Para a história fica esta equipa do Castilla, que chegou onde ninguém pensou que chegasse e que conseguiu um feito que será, verdadeiramente, inigualável.

Isto porque, desde a reforma do regulamento da Taça do Rei em 1990, a Real Federação Espanhola de Futebol passou a impedir a inscrição de equipas filiais (como o Real Madrid Castilla ou o Barcelona B) na competição.

A medida foi tomada para evitar conflitos de interesse, sobretudo no caso de as equipas principais e secundárias do mesmo clube poderem cruzar-se em fases adiantadas da prova - como aconteceu em 1980. 

Como tal, este Real Madrid Castilla será para sempre... único.