Festa rija de jogadores e adeptos do emblema de Torres Vedras após o triunfo sobre os casapianos - Foto: Carlos Barroso/LUSA
Festa rija de jogadores e adeptos do emblema de Torres Vedras após o triunfo sobre os casapianos - Foto: Carlos Barroso/LUSA

Rainha garantida no carnaval de Torres (crónica)

Emblema do Oeste apurado para os quartos de final com inteira justiça. Taça? Só para quem não viu o jogo... 'Frango' de Daniel Azevedo (des)ajudou à festa

Um quarto de século depois, o Torreense está nos quartos de final da Taça de Portugal. Na época 1998/1999, o emblema do Oeste tinha pontificado pela última vez na referida fase da prova — tendo sido, na altura, eliminado pelo Vitória de Setúbal (0-3) —, mas agora já tem lugar garantido entre as oito melhores equipas da competição na temporada em curso.

Se a tradição manda dizer que houve taça, uma vez que o Torreense, da Liga 2, eliminou o Casa Pia, da Liga, a verdade é que o fato de tomba-gigantes só pode ser colocado ao conjunto de Vítor Martins uma vez que assim manda a tradição. Porque, e em bom rigor, apenas quem não viu o jogo pode ficar surpreendido com o resultado. O conjunto azul-grená (que até jogou de branco) foi superior em vários momentos do jogo, com e sem bola, sendo que à organização defensiva juntou uma boa dose de veneno nas transições ofensivas.

Após umas primeiras tentativas sem objetividade, de parte a parte, eis que os forasteiros decidiram aquecer a noite gélida de Rio Maior: contra-ataque de régua e esquadro, passe de Costinha, cruzamento milimétrico de Musa Drammeh e Dany Jean, à entrada da pequena área, desviou de primeira para o fundo das redes da baliza contrária.

Até ao intervalo, os gansos tentaram reagir, mas nunca conseguiram efetivar os intentos. Até porque à falta de qualidade de definição no último terço juntava-se o bloco compacto que se edificava do outro lado.

Gonçalo Brandão percebeu que tinha de fazer alguma coisa e chamou Jérémy Livolant para a etapa complementar. O extremo francês agitou as águas e ofereceu de imediato o golo a Kelian Nsona, que desperdiçou (47'). No minuto seguinte, o camisola 29 viu Unai Pérez negar-lhe os intentos.

Avesso ao desperdício dos casapianos, o Torreense aproveitou. E contou com a colaboração de Daniel Azevedo: livre batido por Costinha, a bola parecia relativamente simples para o guarda-redes dos gansos, mas... não era. E entrou. Estava (quase) tudo contado.

O melhor que o Casa Pia conseguiu foi reduzir, por intermédio de Livolant, de penálti — mão de Diadié que foi descortinada pelo VAR.

O Torreense vai defrontar a UD Leiria nos quartos de final e a rainha tem presença garantida no emblemático carnaval de Torres Vedras.

O melhor em campo: Costinha (Torreense) 7
A experiência a ditar leis na zona nevrálgica do terreno. O médio, de 33 anos, sabe tudo do jogo e define quase sempre bem. Acelera quando é o momento oportuno, retém a posse quando assim é necessário, e é altamente eficaz no momento do passe, seja a curta ou a longa distância. Se estes dados, que (também) apresentou neste duelo com o Casa Pia, já eram suficientes para estar um degrau acima dos demais, ainda lhes juntou mais dois momentos... decisivos: interferência direta no lance do primeiro golo, a chamar a desmarcação de Musah Drammeh, à esquerda, e letal na marcação do livre que dobrou (com a forte colaboração de Daniel Azevedo) a vantagem do Torreense. Um verdadeiro número 10.
A figura: Jérémy Livolant (Casa Pia) 6
É um dos habituais indiscutíveis dos gansos e o facto de ter começado o jogo no banco de suplentes só pode entender-se com a gestão da sua condição física. Como as coisas não estavam a correr bem ao intervalo, Gonçalo Brandão lançou-o para a etapa complementar e o extremo francês deu alma ao ataque casapiano. Tentou pela via do remate e da assistência, mas só foi verdadeiramente feliz da marca dos 11 metros. Ainda assim, o penálti que converteu não foi suficiente para que a sua equipa chegasse, sequer, ao empate.

As notas dos jogadores do Casa Pia:

As notas dos jogadores do Torreense:

Gonçalo Brandão (treinador do Casa Pia):

Um resultado que não queríamos. Tínhamos ambição de chegar longe na prova. Na primeira parte tinhamos de ter sido muito melhores. E defrontámos uma equipa bem organizada, com individualidades boas. Na segunda parte tentámos tudo, tivemos remates e ocasiões, mas não conseguimos. Parabéns ao Torreense.

Vítor Martins (treinador do Torreense):

Sabíamos do grau de dificuldade de jogar contra um Casa Pia muito pragmático, era um degrau muito difícil, mas organizámo-nos bem. Agora temos de estar alerta diante da UD Leiria, é um dérbi e tem todos os ingredientes para ser um jogo fantástico. Vamos tentar ganhar para chegarmos às meias-finais da Taça.