Houve agressões na Assembleia Geral de 2023

Pretoriano: diretor de segurança do FC Porto tentou parar Assembleia após a primeira agressão

Carlos Carvalho reconheceu logo que não estavam reunidas as condições de segurança para a reunião magna. Diz que efetivo era escasso para tanta gente

Indicado pela equipa de defesa de Fernando Saul, Carlos Carvalho, diretor de segurança do FC Porto foi a primeira testemunha a falar na 14.ª sessão do julgamento do processo Operação Pretoriano, que prossegue hoje no Tribunal São João Novo, no Porto. O funcionário do clube azul e branco recordou tudo o que se passou na Assembleia Geral de 2023. 

«No que diz respeito à AG, julgo que não falei com o Fernando Saul. Em termos de organização é algo que parte sempre da Mesa da Assembleia Geral, temos que seguir as diretrizes da Mesa. É sempre assim que se desenrola. Vi o Fernando Saul na parte final da AG. Não houve nenhuma troca de informação se esteve na qualidade de sócio ou de trabalhador do FC Porto», disse, sendo questionado sobre quem tinha requisitado a segurança: «É requerido de acordo com as circunstâncias do evento. O plano de segurança foi assegurado de acordo com um determinado local (auditório) que, no dia, foi alterado (Dragão Arena). A partir daí as dificuldades aumentaram. Efetivo de segurança eram 5 ou 6 elementos para 150 ou 200 pessoas. A fase inicial foi com 12 elementos e, depois, ficaram 18 elementos. Mais segurança do que era normal? Sim, sim, claramente.» 

E continuou o seu depoimento: «A minha preocupação foi procurar informação para ter uma resposta a dar em termos de segurança. Existia o segundo plano para a realização da AG, que era a Tribuna VIP do Estádio do Dragão. O Dragão Arena só foi comunicado como local alternativo pelas 14h35 do dia do evento. Essa possibilidade, ainda que remota, era de ir para o Dragão Arena. Era expectável uma afluência maior, mas não foi percebida a possibilidade de vir tanta gente. Nunca falei diretamente com o dr. Lourenço Pinto, mas a informação da segurança e dos meios, antes do evento, veio dele. Falei com ele à posteriori. Eu, enquanto diretor de segurança do evento, foi com a autorização da Mesa da AG que chamei a PSP. Dirigi-me à MAG e disse que não havia condições de segurança, não estavam reunidas. Estive no estádio o dia todo, vi as pessoas a chegar. As pessoas foram chegando e colocaram-se em frente ao recinto. Quando comecei a perceber que eram demasiadas? Estive 10 minutos no P1, quando subi para o piso 3, diria que às 21 horas, nessa altura já não era possível realizar-se no Auditório. É costume contactar com Fernando Saul, da mesma forma que muita informação que recebo é para tentar avaliar as Assembleias. Nesta não tivemos informação. Porquê? Não sei». 

Questionado por que razão não foi organizado um plano para o Dragão Arena, Carlos Carvalho disse: «Pelas 14h35 recebi a informação a dizer que era possível preparar a alternativa Dragão Arena. O que fiz foi ir ao responsável de segurança privada [João Paulo Sousa] e dizer-lhe para trazer o máximo de efetivos possível. Na bancada norte saltaram para o recinto e foram para a bancada poente, ficando aí até ao final. Estava um sócio na bancada norte, de repente há uma movimentação da nascente até lá. Na bancada norte até me lembro de Fernando Madureira a gesticular para outros sócios. Dá-se, mais à frente, uma mudança de bancada. Não me lembro das agressões em si. Assisti ao segundo momento, onde o Henrique Ramos estava a falar, termina o que está a dizer e, na bancada, vão dois adeptos na sua direção e gerou-se ali um rebuliço. Os meus colegas da bancada tiraram o sócio de lá.» 

Tiago Gouveia também ouvido

Quem também prestou declarações foi Tiago Gouveia, diretor de marketing do FC Porto. «Adelino Caldeira teve intervenção na AG? Desconheço. Eu estava lá enquanto funcionário. É possível que tenha estado ao lado de Fernando Saul, que era meu colega. As tarefas que eu desempenhava eram curtas. Recebíamos da Direção os eventos do clube e da SAD e, nas Assembleias Gerais em específico, tratar com o jornal O Jogo e o Jornal de Notícias as coisas [publicação das convocatórias]. E garantir que as bandeiras estão nas mesas, tudo certo e pouco mais...», revelou, dando conta de que, ao contrário de Carlos Carvalho, já tinha indicação do pavilhão como local alternativo um dia antes: «O som para o Dragão Arena foi preparado na véspera da Assembleia Geral, era a alternativa.»

Depoimento do Comissão Marco Santos

O Comissário da PSP Marco Santos também foi arrolado pela defesa e prestou o seu depoimento perante o coletivo de juízes. «Nesta Assembleia Geral não tive grandes contactos, apenas com o diretor de segurança do FC Porto, sobre como seria a Assembleia Geral. Não tenho grande memória sobre isso, a minha obrigação neste caso era ter informações para ser a linha direta com o Comandante [da PSP]. É muito normal estarmos por dentro das preocupações do clube, que tem uma influência grande no Comando do Porto. Tínhamos a perceção de que poderia haver problemas. Tinha a ver com o facto, porque tínhamos já um candidato anunciado que podia mudar alguma coisa no FC Porto. Havia muitos adeptos que não estavam interessados e que podia haver alguma contestação. Havia uma divisão muito grande entre os adeptos. A maior parte dos adeptos apoiava, na altura Pinto da Costa, e havia pouca informação sobre quem apoiava André Villas-Boas. Tínhamos a perceção de que ia haver adeptos com ideias diferentes na Assembleia. Não tive contacto direto com o Fernando Saul. No meu serviço temos pessoas que, diretamente, tratavam com os adeptos. Fernando Saul falaria com o agente responsável pela comunicação do FC Porto. Se teria falado nesta AG? Não tenho a certeza. Havia muito movimento nas redes, mas também nos jogos. Havia uma perceção de que havia muita gente que iria comparecer. Porque é que a PSP não entrou no recinto? Não sou eu que tomo as opções táticas, mas era um evento privado, capaz de gerir a sua segurança. A PSP estava no exterior pronta a atuar. Se ninguém chamou? Não sei responder, não estive lá».

Falou com os adeptos? «Não só eu, o meu trabalho é em equipa. Falámos com adeptos, e eu também faço os jogos. Cheguei a falar. O que me transmitiram? Havia uma ideia de mudança, havia André Villas-Boas, que podia mudar o paradigma do clube. Tínhamos muitos adeptos, aliás, ligados à presidência do FC Porto, que podiam fazer o que aconteceu na Assembleia. Fazemos a revisão e a leitura de muitas redes associadas ao clube, de núcleos, claques e adeptos. Se fiquei com a ideia segura de que eram os Super Dragões? Não tirei essa ideia precisamente».

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