Pragmatismo tricolor gelou 'tiki-taka' canarinho a partir do banco (crónica)
Estoril e Estrela da Amadora proporcionaram um espetáculo quente que só podia terminar empatado. Num duelo de estilos diferentes, mas igualmente marcados, o pragmatismo tricolor permitiu igualar uma partida que nunca esteve fora de alcance. Os canarinhos chegaram à nota artística, mas não tiveram o sangue frio para conquistar os primeiros três pontos da temporada.
A continuidade estorilista contrastou com a revolução tricolor. José Faria colocou sete reforços e um jovem da formação no primeiro onze da época, mas foi um velho conhecido a ficar muito perto de inaugurar o marcador. Ainda muitos adeptos ainda estavam a encontrar lugar na bem composta Amoreira, já Jovane Cabral tinha rompido pela direita e ficado cara a cara com Robles. A mancha espanhola na baliza do Estoril evitou males maiores e acordou a armada canarinha.
Renan Ribeiro rimou com salvador aos 15’, ao negar um remate colocado do fantasista Guitane, que deambulou sempre por zonas interiores, à semelhança de João Carvalho na direita. Os dois criativos beneficiavam da largura dada por Tiago Parente e Pedro Carvalho, sempre em alta rotação. Convidado pelo Estrela, o Estoril teve a posse do esférico durante grande parte da partida, mas sofria com o jogo direto do adversário. Numa das inúmeras tentativas de lançamento de 50 metros desde o trio de centrais para a dupla de avançados, Gastão ganhou a frente a Bacher e expulsou o adversário.
A posição irregular do avançado angolano salvou o defesa central austríaco e voltou a precipitar o crescimento do Estoril na partida. Num momento de aparente equilíbrio de forças, Holsgrove variou de flanco com a facilidade de quem passeia na praia num domingo de manhã, Varela falhou o corte e estendeu a passadeira vermelha ao show dos laterais.
Pedro Carvalho não foi egoísta e serviu o estreante Tiago Parente para o primeiro da partida aos 36’. O golo canarinho esvaziou o balão de otimista tricolor, que só voltaria a encher na segunda parte. Mas já lá vamos.
Ao intervalo, o Estoril surpreendeu os presentes na Amoreira e apresentou o ex-Granada Ricard Sanchez para reforçar o corredor direito. O lateral espanhol formado em Madrid e Barcelona foi para os balneários, onde ficou também Robinho.
Abraham Marcus substituiu o médio do Estrela e comandou a resistência tricolor que só não reindivicou o empate aos 50’, porque a trave transformou um autogolo de Boma num corte no momento certo. Num duelo entre a paciência ofensiva e o pragmatismo, o ouro tricolor estava sentado no banco de suplentes. As entradas de Kikas e Abraham Marcus acrescentaram explosão e discernimento ao ataque estrelista, Rodrigo Pinho e Stoica tinham a frieza nas botas.
O avançado brasileiro foi descoberto involuntariamente por um corte incompleto da defesa do Estoril e serviu em bandeja de prata o golo do empate para o reforço romeno, na primeira ação dos dois em campo, aos 75'. A euforia tricolor contrastou com a confusão minutos depois, quando o comandante José Faria recebeu ordem de expulsão por tocar numa bola que se encontrava dentro das quatro linhas.
Ainda assim, o golo do Estrela confirmou o desnorte canarinho e o crescendo tricolor, nas asas de um ataque renovado e endiabrado. Paulo Moreira descobriu Stoica com uma trivela deliciosa e só não coroou uma estreia de sonho para o romeno porque Marcus desperdiçou uma abertura à medida do irreverente romeno, a cinco minutos do final.
O desespero pela primeira vitória da temporada precipitou um caos ofensivo nos minutos finais, nos quais Robles e Renan seguraram o empate com defesas apertadas. Rodrigo Pinho ainda introduziu a bola dentro da baliza canarinha, mas foi apanhado nas malhas do fora-de-jogo que ditou o resultado final.
Um ponto para cada lado e sinais de otimismo para o Estrela que recebe o Benfica no próximo sábado, no primeiro jogo da época na Reboleira.
Notas dos jogadores do Estoril: Joel Robles (7); Boma (5), Bacher (5), Amaral (5); Pedro Carvalho (7), Holsgrove (5), Laminadze (4), Tiago Parente (7); Guitane (6), Begraoui (4); João Carvalho (5). Patrick de Paula (4), Pizzi (5), Lacximicant (4), Marqués (-), Fabrício (-), Tiago Brito (-)
Notas dos jogadores do Estrela da Amadora: Renan Ribeiro (7), Schappo (6), Chernev (5), Luan Patrick (5); Sidny Cabral (6), Paulo Moreira (7), Robinho (5); Jovane Cabral (6), Varela (5); Godoy (3); Gastão (4). Abraham Marcus (6), Kikas (7), Montoia (5), Rodrigo Pinho (6), Stoica (7), João Resende (-)
Reação de Ian Cathro:
«Durante a primeira parte fizemos o trabalho que tínhamos de fazer, na segunda não conseguimos. Temos de manter outra intensidade e garantir que matamos o jogo. Não conseguimos fazer isso e não ganhámos. Quero agradecer aos adeptos e quase pedir desculpa, seria um momento mais bonito com a vitória. Não estamos super felizes.»
Reação de Luís Silva, treinador-adjunto do Estrela da Amadora:
«É sempre um jogo difícil, tivemos muitas alterações, sabíamos que o Estoril estava a dar continuidade à época passada, conseguimos esbater a sua qualidade. Tivemos a capacidade de ir atrás do resultado. Podíamos ter marcado dois golos na primeira parte, permitimos uma bola larga quando estávamos a controlar o jogo e o Estoril marcou. Nunca baixámos os braços, mesmo depois de chegarmos ao empate. Se houvesse um vencedor teria de ser o Estrela.»