Fotografia Carlos Ferreira/EJU

Patrícia e o bronze no Europeu: «Estou sem palavras, isto é incrível!»

Judoca do Gualdim Pais, de 24 anos, consegue finalmente o desejado pódio no campeonato continental de seniores; a emoção e adrenalina eram tais que estava a chorar muito antes de lhe caírem as lágrimas

Após, este domingo, ter projetado a neerlandesa Guusje Steennhuis (6.ª do ranking) para ippon a 2.04m do fim do combate pelo bronze, quando liderava já por wazari, e assim garantir um lugar no pódio no Europeu de Montpellier, Patrícia Sampaio, de 24 anos, levantou-se, puxou ambos os cotovelos com toda a força contra o corpo. 

E enquanto cerrava os punhos para libertar a adrenalina fez uma breve corrida para o meio do tatami batendo palmas antes de se deitar de barriga para cima com as mãos na cara, tal era a emoção. 

Emanuele Di Feliciantonio/EJU

Tendo já sido bicampeã europeia júnior em Sófia-2018 e Vantaa-2019 e campeã de sub-23 em Budapeste-2021, à quinta participação na competição sénior e depois de ter tido os últimos anos sempre marcados por diferentes lesões que a foram limitando, tanto nas provas como na preparação, finalmente chegava ao pódio do Campeonato da Europa absoluto. «A felicidade é muito grande», conta a A BOLA. «Estou sem palavras... Incrível. Sim, incrível é a palavra certa», retifica

«Naquele momento no tapete só pensava: ‘O que é que aconteceu? Não acredito!’», vai revelando. «Estava incrédula. Foi muito bom. Foi muita coisa ao mesmo tempo. Estava a chorar muito, mas não caiam as lágrimas. Mas já estava a chorar…», diz rindo-se.

CLASSIFICAÇÃO
-78 kg: 1.ª, Alina Boehm (Ale); 2.ª, Alice Bellandi (Ita); 3.º, Patricia Sampaio (Por) e Inbar Lanir (Isr).

«Só depois de ter saído do tapete é que comecei a chorar muito com lágrimas enquanto abraçava a Rochele [Nunes], a Rita [Fernandes, fisioterapeuta] e o Marco [Morais, selecionador]. Aí chorei a sério», completa a olímpica do Gualdim Pais, atual 11.ª do ranking mundial e 10.ª no de qualificação olímpica para Paris-2024.

Emanuele Di Feliciantonio/EJU

«Sim, andava atrás disto à muito tempo. Há muito… E como havíamos falado noutras ocasiões, um dos meus principais objetivos para este ano era uma medalha no Europeu. Ainda estava com o sabor amargo da época passada, em que nem tive oportunidade de a conquistar porque estava no hospital», recorda sobre a edição de Sófia-2022, na qual, durante as meias-finais, curiosamente num combate contra Steennhuis, de 31 anos, que conta com três pódios em Mundiais (0+2+1) e seis em Euros (0+5+1), saltou-lhe o ombro direito. 

Incidente que naturalmente a impediu que estivesse capaz de, pelo menos, lutar pelo bronze – ela bem queria ir mas não a deixaram – e a obrigou a outra intervenção cirúrgica.

E o que é que esta momento significa para si? «Um grande crescimento pessoal», responde de imediato. «Tanto a nível psicológico, como técnico e também tático. Hoje foi, realmente, um dia taticamente muito bom. Mostrei estar com qualidade mundial pela frieza que apresentei e como consegui lutar e gerir o combates. Até a frustração de perder e ter de entrar logo a seguir na repescagem», recorda sobre o único desaire que teve nos quartos de final face à italiana e n.º 1 do ranking Alice Bellandi. 

Confronto em que esteve grande parte do tempo por cima, mas que acabou por perder por wazari sofrido a 12s do fim. Para depois, na repescagem, eliminar, por wazari, a ucraniana Yelyzaveta Lytvynenko (12.ª do ranking) aos 52s do prolongamento.

Carlos Ferreira/EJU

«Acho que esta medalha mostra uma evolução gigante e também uma superação dos últimos meses, que não foram fáceis», garante. «Sinto-me orgulhosa de ver o que tenho crescido de ano para ano e o quanto evoluí esta temporada. Sinto-me orgulhosa de mim», reforça convicta depois de, em junho, ter tornado aa lesionar-se num ombro, na Mongólia, e no mês seguinte ter partido um dedo do pé direito num estágio da Seleção nos Países Baixos.

Recorde-se que, desde início da temporada 2023, Sampaio tem-se revelado como a atleta da Seleção mais consistente, contabilizando seis medalhas (1+1+4) em oito etapas do Circuito e tendo acabado a uma vitória do pódio nas outras duas. 

A última das quais há semana e meia no Grand Slam de Abu Dhabi. Primeira competição a que foi após as lesões no inicio do Verão. A única prova em que não chegara ao bloco de finais foi no Mundial de Doah, mas agora junta mais outro êxito no campeonato continental.