Vitória de Sernache, campeão da 1.ª divisão da Associação de Futebol de Castelo Branco 2024/25 - Foto_ Vitória Sernache
Vitória de Sernache, campeão da 1.ª divisão da Associação de Futebol de Castelo Branco 2024/25 - Foto_ Vitória Sernache

O Vitória de Sernache tem um vício: ganhar

A equipa do concelho da Sertã perdeu apenas um jogo nos 36 jogos oficiais que fez, desde setembro de 2024. Essa derrota foi frente ao Portimonense, com um golo de penálti, em cima do minuto 90, que ditou a eliminação da Taça de Portugal

Invencibilidade é palavra de ordem no Vitória de Sernache. Não fosse o clube de Cernache do Bomjardim, a terra que viu nascer o bravo lusitano que venceu todas as batalhas que travou: o Santo Condestável, Nuno Álvares Pereira.

Os vitorianos não perdem, em jogos do campeonato, desde abril de 2024 - à data para o Campeonato de Portugal. Nessa temporada, fracassaram e acabaram por descer para as distritais de Castelo Branco.

Mas a época seguinte foi de sonho para a turma de Cernache de Bomjardim. Com a entrada do mister Natan Costa, a equipa esteve uma época inteira sem perder e este ano está de regresso ao Campeonato de Portugal.

Em entrevista a A BOLA, o treinador assumiu que agora o objetivo é estabilizar o clube nos campeonatos nacionais: «o Vitória de Sernache tem uma fama de ser um clube que sobe e desce. A ideia deste projeto é estabilizar o clube nos patamares competitivos nacionais. O clube está a reestruturar-se a nível de estrutura física e humana e está a preparar-se para ser um bom clube dos quadros nacionais.»

Se Natan Costa e os seus jogadores estão a cumprir? Estão, até, a superar… «O objetivo este ano era consolidar o clube num patamar nacional e andar classificado sempre nos seis primeiros. Se calhar estamos a superar expectativas, somos uma equipa muito ambiciosa e, sempre respeitando o adversário e sabendo que o jogo é um confronto de forças, vamos jogar sempre todos os jogos para ganhar», assumiu o técnico de 46 anos.

Natan Costa, o treinador do Vitória de Sernache - Foto: Vitória de Sernache

O Vitória de Sernache - com a companhia do Rebordosa - faz parte do restrito lote de equipas do Campeonato de Portugal que ainda não perderam esta época. Pela primeira vez, no fim-de-semana passado, o Vitória Sernache empatou. Natan Costa lamenta: «já estou com saudades de ganhar.»

É esta fome de vencer que tem levado a equipa do concelho da Sertã ao sucesso: «tenho um grupo que é viciado em competir e que dá muito valor à vitória e sabe o que ela custa, então lutam por ela todos os fins-de-semana», aponta. «Há uma energia muito boa durante a semana, durante os treinos, para que possamos ser mais fortes e para que toda a gente se possa valorizar e dignificar o clube», acrescentou.

No ano passado, os comandados de Natan Costa foram campeões da 1.ª divisão da Associação de Futebol de Castelo Branco - tendo perdido pontos apenas numa ocasião, num empate, frente ao Águias do Moradal. De resto, só vitórias. Também venceram a taça distrital, ao derrotar, nos penáltis, o Fundão.

Este ano, já limparam a supertaça da Beira Interior, também nos penáltis, frente ao Gouveia. No campeonato, estão em primeiro e, após sete jornadas, perderam pontos pela primeira vez, no último domingo. É por isso que o mister - mal habituado - já diz ter «muitas saudades de vencer».

A nível individual, Natan Costa já não perde em campeonatos desde o «dia 18 fevereiro de 2024». «Foi contra o Mortágua , ainda estava no Sertanense», recordou. Foi no final dessa época que o técnico trocou o clube da Sertã pelo rival do concelho, para ajudar a levar o Vitória de Sernache a outros patamares.

A única derrota foi… positiva

Contabilizando todas as competições, a única derrota da equipa neste últimos dois anos aconteceu no mês passado, frente ao Portimonense. Os vitorianos foram eliminados da Taça de Portugal pela turma da II Liga - «e sofremos o golo da derrota aos 90 minutos, com uma grande penalidade», lembra o mister.

Natan Costa reconhece que nesse jogo faltaram as rotinas de outros patamares: «foi um jogo equilibrado até aos 70 minutos, enquanto tivemos energia. Depois quebrámos, porque vínhamos de uma longa paragem. Nós, num mês, só tínhamos feito um jogo oficial, porque o Lajense não pôde viajar. Folgámos na Taça e depois isso refletiu-se a nível competitivo.»

«É claro que há mérito do Portimonense, que era favorito, mas penso que se o jogo fosse agora poderia ser ainda mais disputado», considera.

Mesmo assim, a única derrota em 36 jogos foi positiva, já que deu para, pelo menos, dignificar o clube e a pequena vila de Cernache do Bomjardim: «demos uma resposta boa, dignificámos o clube. As pessoas da terra ficaram felizes e orgulhosas daquilo que fizemos e, de certa forma, reforçou a nossa confiança, para o campeonato.»

Sernache… com S ou com C?

Curiosamente (com C), o clube Vitória de Sernache apresenta-se com um nome diferente do da terra Cernache do Bomjardim.

«Cernache do Bomjardim é com C, mas o clube é com S, porque foi assim que foi batizado… já há uns anos valentes. Aquilo, na altura, acho que podia ser de uma forma ou de outra e quem fundou o clube pôs S e assim ficou. É o que está nos estatutos do clube», explica Natan Costa.

O segredo para a invencibilidade?

Com os pés bem assentes na terra, o treinador não promete aquilo que não sabe se pode cumprir: «Acho que não faz muito sentido uma equipa que veio da distrital de Castelo Branco estar publicamente a assumir que o objetivo é a subida, quando só fez um quarto do campeonato. Estamos focados apenas na ambição semanal, que é o jogo a jogo. No final, fazem-se contas.»

«Já jogámos com metade das equipas, falta a outra metade. Temos sido competentes, mas sabemos que ainda só estamos a entrar em novembro, e aquilo que aconteceu até agora foi só um arranque. É preciso consolidar resultados, classificações, processos…», acrescenta.

O Vitória de Sernache ocupa, atualmente, o 1.º lugar, com 19 pontos, da Série C do Campeonato de Portugal. Mesmo tendo um jogo em atraso, o clube da Beira Baixa leva três pontos de avanço, para o 2.º classificado, que é a Naval (16 pontos).

Natan Costa elogia o seu plantel, com grande parte dos jogadores que transitaram das distritais a baterem-se agora a um grande nível no Campeonato de Portugal: «Houve nove jogadores que vieram da distrital de Castelo Branco, outros que tinha descido de divisão no ano passado, mas que eu lhes reconheço qualidade. Alguns vieram da liga sub-23. E depois há três contratações mais sonantes que são o André Dias, que veio do Salgueiros, o Henrique Cavalcante, do Elvas, e o Miguel Rosário, do Arronches e Benfica, que vieram de equipas que fizeram um bom campeonato, no ano passado.»

Fora isso, continua o mister, «não há jogadores de Liga 3 nem Liga 2, mas é um plantel em que o ego é colocado de lado e há um forte espírito de recuperação e solidariedade, que se reflete em competição», enaltece.

O segredo para a invencibilidade? «Não há segredos» e nem toda a invencibilidade é sinal de satisfação. «Há é muita ambição e tenho a certeza que hoje vou encontrar um plantel com muita vontade que chegue o jogo de domingo, para voltarmos a saborear uma vitória», refere Natan, que quer voltar a sorrir, na recepção ao Peniche, de domingo.

«Projeto com grande potencial»

Um dos jogadores que Natan foi buscar foi Edgar Moura, mas já na época transata, convidando-o para «dar um passo atrás para dar dois à frente».

O médio defensivo estava no Rabo de Peixe do Campeonato Portugal, quando o mister, que o tinha orientado já na época anterior, no Sertanense, o contactou para o projeto do Vitória de Sernache, das distritais de Castelo Branco.

«Eu trabalhei com o mister no Sertanense, antes de ir para o Rabo de Peixe. Depois, ele contactou-me outra vez e aceitei o projeto, porque vi que tinha grande potencial, apesar de dar um passo atrás. Mas é o que se diz, às vezes, é preciso dar um passo atrás para dar dois à frente», afirma.

Edgar Moura continua entusiasmado com a equipa e destaca a união que há no clube: «a nossa união enquanto grupo faz a força. Trabalhamos sempre arduamente todas as semanas. Encaramos todos os jogos para ganhar. Somos uma grande família, tanto em campo como fora de campo.»

Sobre a derrota contra o Portimonense, a única de Edgar Moura desde dezembro de 2023, altura em que ainda estava no Rabo de Peixe, o médio defensivo fala numa derrota difícil. Será fruto do vício de ganhar? «Sabíamos que íamos ter bastantes dificuldades, mas é óbvio que tínhamos sempre aquele sonho de passar à próxima fase. Eles tiveram a felicidade de ter um penálti aos 90 minutos», lamenta.

O defesa de 22 anos nascido em Sintra, que também pode jogar a lateral direito, traça os objetivos para o futuro: «as ambições coletivas é sempre o jogo a jogo. Primeiramente, é a manutenção, claro, mas encaramos todos os jogos sempre para ganhar (…) A nível individual, espero fazer uma boa época aqui, valorizar-me e estabelecer-me no Campeonato de Portugal.»