O Vitória de Sernache tem um vício: ganhar
Invencibilidade é palavra de ordem no Vitória de Sernache. Não fosse o clube de Cernache do Bomjardim, a terra que viu nascer o bravo lusitano que venceu todas as batalhas que travou: o Santo Condestável, Nuno Álvares Pereira.
Os vitorianos não perdem, em jogos do campeonato, desde abril de 2024 - à data para o Campeonato de Portugal. Nessa temporada, fracassaram e acabaram por descer para as distritais de Castelo Branco.
Mas a época seguinte foi de sonho para a turma de Cernache de Bomjardim. Com a entrada do mister Natan Costa, a equipa esteve uma época inteira sem perder e este ano está de regresso ao Campeonato de Portugal.
Em entrevista a A BOLA, o treinador assumiu que agora o objetivo é estabilizar o clube nos campeonatos nacionais: «o Vitória de Sernache tem uma fama de ser um clube que sobe e desce. A ideia deste projeto é estabilizar o clube nos patamares competitivos nacionais. O clube está a reestruturar-se a nível de estrutura física e humana e está a preparar-se para ser um bom clube dos quadros nacionais.»
Se Natan Costa e os seus jogadores estão a cumprir? Estão, até, a superar… «O objetivo este ano era consolidar o clube num patamar nacional e andar classificado sempre nos seis primeiros. Se calhar estamos a superar expectativas, somos uma equipa muito ambiciosa e, sempre respeitando o adversário e sabendo que o jogo é um confronto de forças, vamos jogar sempre todos os jogos para ganhar», assumiu o técnico de 46 anos.
O Vitória de Sernache - com a companhia do Rebordosa - faz parte do restrito lote de equipas do Campeonato de Portugal que ainda não perderam esta época. Pela primeira vez, no fim-de-semana passado, o Vitória Sernache empatou. Natan Costa lamenta: «já estou com saudades de ganhar.»
É esta fome de vencer que tem levado a equipa do concelho da Sertã ao sucesso: «tenho um grupo que é viciado em competir e que dá muito valor à vitória e sabe o que ela custa, então lutam por ela todos os fins-de-semana», aponta. «Há uma energia muito boa durante a semana, durante os treinos, para que possamos ser mais fortes e para que toda a gente se possa valorizar e dignificar o clube», acrescentou.
No ano passado, os comandados de Natan Costa foram campeões da 1.ª divisão da Associação de Futebol de Castelo Branco - tendo perdido pontos apenas numa ocasião, num empate, frente ao Águias do Moradal. De resto, só vitórias. Também venceram a taça distrital, ao derrotar, nos penáltis, o Fundão.
Este ano, já limparam a supertaça da Beira Interior, também nos penáltis, frente ao Gouveia. No campeonato, estão em primeiro e, após sete jornadas, perderam pontos pela primeira vez, no último domingo. É por isso que o mister - mal habituado - já diz ter «muitas saudades de vencer».
A nível individual, Natan Costa já não perde em campeonatos desde o «dia 18 fevereiro de 2024». «Foi contra o Mortágua , ainda estava no Sertanense», recordou. Foi no final dessa época que o técnico trocou o clube da Sertã pelo rival do concelho, para ajudar a levar o Vitória de Sernache a outros patamares.
A única derrota foi… positiva
Contabilizando todas as competições, a única derrota da equipa neste últimos dois anos aconteceu no mês passado, frente ao Portimonense. Os vitorianos foram eliminados da Taça de Portugal pela turma da II Liga - «e sofremos o golo da derrota aos 90 minutos, com uma grande penalidade», lembra o mister.
Natan Costa reconhece que nesse jogo faltaram as rotinas de outros patamares: «foi um jogo equilibrado até aos 70 minutos, enquanto tivemos energia. Depois quebrámos, porque vínhamos de uma longa paragem. Nós, num mês, só tínhamos feito um jogo oficial, porque o Lajense não pôde viajar. Folgámos na Taça e depois isso refletiu-se a nível competitivo.»
«É claro que há mérito do Portimonense, que era favorito, mas penso que se o jogo fosse agora poderia ser ainda mais disputado», considera.
Mesmo assim, a única derrota em 36 jogos foi positiva, já que deu para, pelo menos, dignificar o clube e a pequena vila de Cernache do Bomjardim: «demos uma resposta boa, dignificámos o clube. As pessoas da terra ficaram felizes e orgulhosas daquilo que fizemos e, de certa forma, reforçou a nossa confiança, para o campeonato.»
Sernache… com S ou com C?
Curiosamente (com C), o clube Vitória de Sernache apresenta-se com um nome diferente do da terra Cernache do Bomjardim.
«Cernache do Bomjardim é com C, mas o clube é com S, porque foi assim que foi batizado… já há uns anos valentes. Aquilo, na altura, acho que podia ser de uma forma ou de outra e quem fundou o clube pôs S e assim ficou. É o que está nos estatutos do clube», explica Natan Costa.
O segredo para a invencibilidade?
Com os pés bem assentes na terra, o treinador não promete aquilo que não sabe se pode cumprir: «Acho que não faz muito sentido uma equipa que veio da distrital de Castelo Branco estar publicamente a assumir que o objetivo é a subida, quando só fez um quarto do campeonato. Estamos focados apenas na ambição semanal, que é o jogo a jogo. No final, fazem-se contas.»
«Já jogámos com metade das equipas, falta a outra metade. Temos sido competentes, mas sabemos que ainda só estamos a entrar em novembro, e aquilo que aconteceu até agora foi só um arranque. É preciso consolidar resultados, classificações, processos…», acrescenta.
O Vitória de Sernache ocupa, atualmente, o 1.º lugar, com 19 pontos, da Série C do Campeonato de Portugal. Mesmo tendo um jogo em atraso, o clube da Beira Baixa leva três pontos de avanço, para o 2.º classificado, que é a Naval (16 pontos).
Natan Costa elogia o seu plantel, com grande parte dos jogadores que transitaram das distritais a baterem-se agora a um grande nível no Campeonato de Portugal: «Houve nove jogadores que vieram da distrital de Castelo Branco, outros que tinha descido de divisão no ano passado, mas que eu lhes reconheço qualidade. Alguns vieram da liga sub-23. E depois há três contratações mais sonantes que são o André Dias, que veio do Salgueiros, o Henrique Cavalcante, do Elvas, e o Miguel Rosário, do Arronches e Benfica, que vieram de equipas que fizeram um bom campeonato, no ano passado.»
Fora isso, continua o mister, «não há jogadores de Liga 3 nem Liga 2, mas é um plantel em que o ego é colocado de lado e há um forte espírito de recuperação e solidariedade, que se reflete em competição», enaltece.
O segredo para a invencibilidade? «Não há segredos» e nem toda a invencibilidade é sinal de satisfação. «Há é muita ambição e tenho a certeza que hoje vou encontrar um plantel com muita vontade que chegue o jogo de domingo, para voltarmos a saborear uma vitória», refere Natan, que quer voltar a sorrir, na recepção ao Peniche, de domingo.
«Projeto com grande potencial»
Um dos jogadores que Natan foi buscar foi Edgar Moura, mas já na época transata, convidando-o para «dar um passo atrás para dar dois à frente».
O médio defensivo estava no Rabo de Peixe do Campeonato Portugal, quando o mister, que o tinha orientado já na época anterior, no Sertanense, o contactou para o projeto do Vitória de Sernache, das distritais de Castelo Branco.
«Eu trabalhei com o mister no Sertanense, antes de ir para o Rabo de Peixe. Depois, ele contactou-me outra vez e aceitei o projeto, porque vi que tinha grande potencial, apesar de dar um passo atrás. Mas é o que se diz, às vezes, é preciso dar um passo atrás para dar dois à frente», afirma.
Edgar Moura continua entusiasmado com a equipa e destaca a união que há no clube: «a nossa união enquanto grupo faz a força. Trabalhamos sempre arduamente todas as semanas. Encaramos todos os jogos para ganhar. Somos uma grande família, tanto em campo como fora de campo.»
Sobre a derrota contra o Portimonense, a única de Edgar Moura desde dezembro de 2023, altura em que ainda estava no Rabo de Peixe, o médio defensivo fala numa derrota difícil. Será fruto do vício de ganhar? «Sabíamos que íamos ter bastantes dificuldades, mas é óbvio que tínhamos sempre aquele sonho de passar à próxima fase. Eles tiveram a felicidade de ter um penálti aos 90 minutos», lamenta.
O defesa de 22 anos nascido em Sintra, que também pode jogar a lateral direito, traça os objetivos para o futuro: «as ambições coletivas é sempre o jogo a jogo. Primeiramente, é a manutenção, claro, mas encaramos todos os jogos sempre para ganhar (…) A nível individual, espero fazer uma boa época aqui, valorizar-me e estabelecer-me no Campeonato de Portugal.»