Era comum ver André Cruz celebrar golos de livre direto, Foto A BOLA

O segredo dos livres diretos perfeitos desvendado aos 55 anos

André Cruz contou-nos tudo sobre a sua especialidade; ainda hoje é recordado por muitos como o melhor marcador de faltas que passou no Sporting

— Os seus livres diretos continuam a ser recordados pelos adeptos do Sporting. Muitos dizem que nunca mais apareceu um marcador de livres diretos como André Cruz. Quer explicar-nos, agora que já pode revelar o segredo, como o fazia tão bem?

— Há muito treino. Desde criança que tínhamos uma brincadeira aqui no Brasil, em Portugal não sei se existe, chamava-se rebatida. Dois contra dois, dois iam para a baliza, e não podiam usar as mãos, dois ficavam, um a rematar o outro ao lado. Se a bola batesse no poste e entrasse valia dois, se batesse no travessão e entrasse valia três. E como não podiam defender com a mão havia sempre a rebatida, um saía da baliza e jogava-se dois contra um e por aí fora. Essa prática, o facto de eles não poderem defender com a mão, levava-me a procurar sempre o ângulo da baliza e aí fui crescendo. E depois entrou a barreira e para mim era muito fácil colocar a bola, como eu brincava todos os dias àquela brincadeira da rebatida. Tinha de colocar sempre a bola nos ângulos, num ou noutro. Foi uma questão de adaptar-me à barreira, ao guarda-redes e ao treino.

— E correu bem…

—  A partir do momento em que entrei num clube, no Ponte Preta, comecei a treinar todos os dias, todos os dias, depois do treino havia sempre cobrança de livres para melhorar. No Nápoles, quando cheguei, houve treino muito forte e no final todos estavam cansados, mas pedi ao treinador para treinar cobrança de faltas. ‘Mas você está cansado’, disse-me. ‘Não tem problema, eu vou lá’, respondi. ‘Mas não tem guarda-redes’, avisou o treinador e eu disse-lhe: ‘Não há problema, só preciso da baliza, da barreira e das bolas, em relação ao resto não há problema, só preciso de fazer o movimento’. E isso fez com que eu melhorasse cada vez mais. Mas só isso não basta, pois há o jogo e a pressão, é completamente diferente. No treino erramos e podemos repetir, no jogo muitas vezes só temos uma vez e temos de estar concentrados a 100 por cento. Foi o que aconteceu contra o FC Porto, quando cheguei houve um Sporting-FC Porto, foi um só lance, precisava de estar concentrado, focado, tranquilo, frio. E o movimento acabou saindo naturalmente. Marcação de livres é treino desde criança.