Gyokeres com Tomás Araújo no dérbi
Gyokeres com Tomás Araújo no dérbi - Foto: IMAGO

O que está em jogo na última jornada da Liga

A Liga Portugal Betclic 2024/25 aproxima-se da última jornada com decisões-limite por tomar, tanto no topo como no fundo da tabela. O que está verdadeiramente em jogo são milhões de euros que podem definir o futuro financeiro dos clubes envolvidos. Mas não só. É muito mais do que isso

Na luta pelo título, Sporting e Benfica chegam à derradeira ronda empatados com 79 pontos, com vantagem para o Sporting devido à melhor diferença de golos no confronto direto. Ser campeão ou terminar em segundo lugar não serve apenas para aumentar o número de troféus alcançados. O campeão assegura o acesso direto à fase de grupos da Liga dos Campeões, com um encaixe imediato na ordem dos 40 milhões de euros.

Ainda assim o impacto vai muito para além das verbas arrecadadas no imediato. Vencer um campeonato fortalece a ligação emocional dos adeptos ao clube, estimula a fidelização das gerações mais jovens e alimenta a máquina de marketing global. Cada novo adepto pode representar, a médio prazo, uma fonte de receitas sustentadas com mais bilhetes, merchandising e subscrições diversas, entre outros. Não vencer, para clubes com ambições estruturais, pode significar estagnar ou perder terreno num mercado em que a dimensão da base de fãs está diretamente ligada à sustentabilidade financeira.

O segundo classificado, ao depender de pré-eliminatórias, arrisca-se a falhar a Liga dos Campeões. Este quadro pode comprometer grande parte das receitas projetadas. Já o terceiro lugar, atualmente ocupado pelo FC Porto, garante apenas presença na Liga Europa, com um prémio financeiro significativamente inferior.

A pressão económica é talvez ainda mais sofrível na luta pela manutenção. Boavista (26 pontos), Farense (27) e AVS (27) estão separados por poucos pontos. A eles, junta-se ainda o Estrela da Amadora (29). Três destes emblemas enfrentam a possibilidade real de descida à Liga Portugal 2.  Esta despromoção representa perdas imediatas de receitas televisivas e de patrocínio, redução da exposição mediática e dificuldades acrescidas na retenção de jogadores. A quebra pode ultrapassar vários milhões de euros. É uma diferença que pode ser devastadora para clubes que já operam com orçamentos apertados. A médio prazo, pode comprometer infraestruturas, formação e até a existência de projectos sustentáveis.

Em comparação com outras ligas europeias, a realidade portuguesa revela a fragilidade do nosso modelo. A La Liga, por exemplo, em Espanha, apresenta uma saúde financeira cada vez mais sólida. O Real Madrid tornou-se recentemente o primeiro clube a ultrapassar os mil milhões de euros em receitas numa temporada, de acordo com o relatório Football Money League 2025 da Deloitte. Essa robustez financeira é sustentada por uma base de adeptos global, reforçada por sucessos desportivos regulares. O ciclo é virtuoso.

Esta disparidade entre as realidades espanhola e portuguesa reforça o peso trágico da última jornada da Liga Portugal Betclic. Cada ponto disputado pode decidir um futuro diferente. Um golo marcado ou sofrido poderá traduzir-se na diferença entre investir, crescer e competir, ou a árdua sobrevivência à margem da elite do futebol nacional.

Com tanto por decidir na última jornada, o desempenho dos árbitros assume uma importância central. As suas decisões, para além dos resultados das partidas, poderão impactar profundamente na saúde financeira de Sporting e Benfica e dos clubes que lutam para escapar à Liga Portugal 2. Espera-se, por isso, coragem e isenção absolutas. A última jornada não decidirá apenas a ordem na tabela classificativa da Liga Portugal Betclic. Poderá decidir o futuro de instituições desportivas, económicas e sociais. É esse o peso real do futebol moderno.

João Rodrigues dos Santos, Professor Associado e Coordenador da área de Economia e Gestão da Universidade Europeia