O passado e o futuro de Thiago Silva

O FC Porto não quer Thiago Silva para seis anos, contratou-o para seis meses, a pensar nas necessidades da equipa na primeira metade de 2026. Trata-se de uma decisão que denota, por um lado, atenção ao pormenor, e por outro, ausência de complexos quanto ao que diz o cartão de cidadão...

Há quem sustente que o presente não existe, porque se esgota no instante em que é: apenas há passado, conhecido, e futuro, desconhecido. Assim sendo, sabemos que Thiago Silva, 41 anos, foi um extraordinário jogador, líder nato, que brilhou ao mais alto nível do futebol mundial, o que não sabemos é aquilo que ainda tem para dar ao FC Porto, entre janeiro e maio de 2026.

Mas não perdemos pela demora, o Ano Novo está já aí ao virar da esquina, e não tarda veremos o que é que a dupla Villas-Boas/Farioli pretende do antigo internacional canarinho. Alguma coisa de curto prazo há de ser, obviamente. E tanto pode ter a ver com o equilíbrio da equipa, como com a maturidade para aguentar momentos de especial pressão. Haverá quem não entenda como é possível contratar um jogador de 41 anos.

Não pertenço a essa corrente. Os campeonatos não se ganham com equipas com futuro, mas sim com aquelas que vão a cada instante esgotando o presente, baseados na maximização dos recursos disponíveis. Se Thiago Silva tem condições para jogar duas dezenas de jogos, total ou parcialmente, durante cinco meses; e se o treinador tem em mente uma utilização específica para o jogador, por que não? Por preconceito? Francamente, nunca vi um cartão de cidadão a jogar... 

Mas haverá mais alguma coisa a dizer sobre esta aquisição do FC Porto. Quando quem manda aposta neste tipo de sintonia fina, uma espécie de filigrana, pensada para uma função específica num espaço temporal determinado, é porque tem uma ideia, que pretende complementar. Ora, ter uma ideia (de jogo, neste caso) é sempre uma vantagem, porque para quem navega sem rumo, nenhum vento é favorável.

E os riscos? São diminutos. Imagine-se que corre mal, ou por inadaptação ou por algum incidente físico. Estamos perante meia dúzia de meses de salário, sem outros custos ou encargos, nada que sobrecarregue demasiado as finanças portistas. E se corre bem, como um dia disse, à chegada a Alvalade, Ruben Amorim? 

Quer isto dizer que, por norma, sou a favor da contratação de veteranos? Não. Mas uma equipa é ela e as suas circunstâncias e, pontualmente, pode ser avisado apostar na experiência, sem que seja possível fazer de nada disto uma regra. Caso a caso é que é. Embora mais novos, recordo-me do estardalhaço feito em torno das contratações de Beto Acosta e Jonas, com muita gente a rasgar as vestes porque Sporting e Benfica estavam a gastar dinheiro com jogadores ‘reformados’. Afinal, o ‘matador’ Acosta foi essencial no Sporting de Inácio, e Jonas passou à história como um dos melhores (e mais úteis) estrangeiros a vestir a camisola da águia. 

Uma contratação como a de Thiago Silva é muito fácil de destratar, daí que quem está a dar a cara por ela mostra ter convicções fortes, e um grande desinteresse por aquilo que a opinião pública e publicada possa pensar. Convicções fortes é o que falta aos líderes fracos, que se deixam governar de fora para dentro. Neste caso, sem fazer a mínima ideia do que o futuro reserva a Thiago Silva no FC Porto (veja-se Luuk de Jong) a única coisa a fazer é apreciar a forma como vai ser aproveitado, pelo veterano brasileiro, cada piscar de olhos em que é... presente.