Varandas e Amorim antes do Sporting-City, último jogo do agora treinador do United em Alvalade à frente dos leões (Foto: IMAGO)

O grande trambolhão de Varandas

Presidente leonino não conseguiu juntar à continuidade de Amorim por mais uns jogos um mais maturado processo de seleção do seu substituto e as consequências estão à vista

As crises são sempre curtas onde há processo e estabilidade criados em cima de estrutura forte. Quando esta é apenas formada por uma pessoa, que sai, tudo colapsa. É que a teoria do ninguém é insubstituível é sempre válida, exceto se não se encontra o substituto certo.

Quando alguém com a dimensão de Ruben Amorim, que tinha peso gigantesco nas decisões e o dom de acertar na maior parte, deixa tamanho vazio e não é ele quem decide quem o preenche (o que é entendível a partir de várias perspetivas) a margem de erro dispara. Porque essa era a única garantia de que, entre os habituais decisores, haveria uma sucessão consciente e sólida. Claro que Amorim não se contratou a si mesmo, porém quem o fez já antes tinha falhado, o que demonstra pelo menos inconsistência.

João Pereira ainda pode resultar, todavia, o horizonte está a cada dia mais negro. Se não conseguir dar a volta às dificuldades, ficamos para já sem saber se num outro contexto poderia ter dado resultado. Porque talvez pudesse. O jovem técnico tem problemas na imagem e, sobretudo, na comunicação, e hoje ambos são fundamentais no que é mais importante: convencer quem está à sua volta das suas ideias. A conferência de Imprensa de antevisão ao jogo com o Moreirense, a meu ver, fragilizou-o em demasia. Foi por isso que perdeu? Talvez não, mas também não foi ali que a equipa recuperou a confiança ou uma parte dela.

Ao adiar a saída de Amorim por um par de semanas, Varandas conquistou uma pequena vitória, contudo, faltou-lhe visão para a engrandecer, porque ao manter a equipa ligada aos triunfos também ganhou tempo para decidir bem. E não o usou. Manteve o plano. Não procurou mais. Talvez nem tenha pedido conselho ao treinador cessante. Confiou no toque de Midas que pensou ter adquirido com os sucessos deste.

A melhor decisão que o presidente do Sporting poderia ter tomado teria sido encontrar alguém que não desse margem a eventuais dúvidas dos jogadores, alguém que os convencesse rapidamente de que um primeiro mau resultado tinha sido apenas mero acidente.

O que já não parece de todo acidente é o novo trambolhão de Frederico Varandas, que mais isolado ficará no final da época com a saída de Hugo Viana para o Manchester City. Três derrotas depois, o Sporting dominador e impositivo parece já longínqua miragem. Há mesmo alguma razão para que os adeptos não fiquem preocupados?