Depois do Vale da Amoreira, Lisboa e Cascais... o Barreiro também tem Neemias no 'playground' Fotografia Pedro Lima/Hoopers

Neemias Queta: «Já nem penso na cirurgia que fiz ao joelho»

Neemias homenageado, juntamente com o antigo internacional de futebol de praia Nuno Belchior, pela Câmara do Barreiro, no campo onde ambos jogaram em miúdos. Poste dos Celtics diz estar recuperado do joelho, que rapidamente começou o entrosamento com os colgas de Seleção, falas dos candidatos ao EuroBasket e que gostaria de ficar nos Celtics até ao fim da carreira

«Tenho muitas memórias deste campo. Vinha treinar normalmente para aqui com o [Diogo] Valente [colega de equipa] na altura do verão quando acabávamos os treinos. Mas também enquanto o sr. Chico [Francisco Barranho] não abria o Barreirense ficávamos por cá a entreter-nos até que o pavilhão abrisse. É um campo simbólico para a cidade, tem muita história e acho que foi bom ter-se tido este tipo de iniciativa», afirmou Neemias Queta no meio do mítico polidesportivo descoberto do Bairro n.º 6, onde tanta horas passou na juventude e que agora foi renovado pela câmara municipal numa intervenção com a Hoopers, empresa que já efectuou meia dúzia destas iniciativas pelo país e ajudou o poste dos Celtics a levar avante os dois Neemias Queta Training Camp (2024, 2025).

Além de novas tabelas e balizas de futsal, no chão do playground a intervenção street art de Chure Oner coloca de cada lado do recinto duas enormes caras: uma de Neemias, a outra do antigo internacional de futebol de praia Nuno Belchior, natural do barreira e que, uns bons anos antes, também ali dedicara horas a jogar e divertir-se. A separá-los ao meio  lê-se Barreiro e 2830, o código postal da cidade. 

Fotografia A BOLA

«Receber este tipo de amor na minha terra natal, onde cresci, onde vivi muitas experiências desde jovem. Mesmo ao lado do Barreirense, um dos meus maiores amores em termos de basquete, por isso, sinto-me bastante lisonjeado de ter este tipo de privilégio»

A uma par de centenas de metros fica a sede do Barreirense, onde Neemias se iniciou e cresceu no basquetebol até se mudar para o Benfica e depois partir para os Estados Unidos. Por isso foi normal que entre os muitos presentes estivessem antigos jogadores, dirigentes, treinadores e atuais basquetebolistas do clube da cidade, mas também antigos amigos de Neemias da escola e do basquete que aproveitaram o momento para o rever e recordar histórias.

«É excelente ter este tipo de intervenções e especialmente receber este tipo de amor na minha terra natal, onde cresci, onde vivi muitas experiências desde jovem. Mesmo ao lado do Barreirense, um dos meus maiores amores em termos de basquete, por isso, sinto-me bastante lisonjeado de ter este tipo de privilégio e que possa dar um bocado de nova vida a este bairro, que é histórico para o pessoal vir jogar basquetebol, futebol ou fazerem desporto durante o verão ou depois das aulas», completou ainda o internacional luso, que chegou a Portugal, vindo de Boston, na sexta-feira para se juntar à Seleção que vai ao EuroBasket-2025, entre 27 de agosto e 14 setembro.

Fotografia Hoopers

«Se não estou em erro, acho que são quatro [campos com a sua imagem]. É surreal ainda hoje ter este tipo de experiência e é algo que não levo com leveza»

E tem ideia de quantos campos destes já existem com a sua figura agora em Portugal? «Se não estou em erro, acho que são quatro [Vale da Amoreira, Moinho do Penedo, Serra de Monsanto em Lisboa, Bairro da Assunção em Cascais]. É surreal ainda hoje ter este tipo de experiência e é algo que não levo com leveza», comenta, humilde, como é lhe  habitual. Falta um campo com a sua imagem com o troféu de campeão da NBA? «Tenho que ter outro troféu, em princípio. Aí sim, pode-se fazer um desses», respondeu à brincadeira.

Fotografia Pedro Lima/Hoopers

E onde é que gostavas que aparecesse um campo consigo? «Não gosto deste tipo de iniciativas, acima de tudo. Não gosto de aparecer, é mais isso. Mas acho que o ideal é mesmo ter um na minha terra, no Vale da Amoreira, que já tenho, e agora este. Já estou satisfeito. Estou bastante grato à Hoopers, à Câmara do Barreiro e a todo o pessoal que esteve por trás deste projeto», vai dizendo no intervalo de centenas de autógrafos e fotografias com amigos e desconhecidos fascinados ao lado dos seus 2,13m.

«Transição fácil na Seleção»

 De partida esta segunda-feira para Málaga com a Seleção, onde irá defrontar a Espanha [terça-feira] e no dia seguinte a Espanha B antes de se mudar para Madrid para enfrentar a Argentina [dia 10], Queta, de 26 anos, ainda conseguiu efetuar dois treinos com a Seleção no final do estágio no Luso.

«Foi excelente voltar a treinar com o pessoal. Muitos já não os via há vários anos, alguns com quem já não treinava há bastante tempo, mas pareceu-me ser uma transição fácil. Lembro-me bastante bem do estilo de jogo deles e eles do meu»

«Foi excelente voltar a treinar com o pessoal. Muitos já não os via há vários anos, alguns com quem já não treinava há bastante tempo, mas pareceu-me ser uma transição fácil. Lembro-me bastante bem do estilo de jogo deles e eles do meu. É como se fosse uma conexão fácil de voltar a ter e estamos a recriá-la com os treinos e jogos. Acho que estamos no bom caminho», garante o campeão pelos Celtics em 2023/24 que, por compromissos na NBA ou lesão no verão, a segunda e última vez que alinhou na Seleção sénior foi em agosto de 2022, numa vitória contra o Chipre.

«Estou praticamente a 100%»

Já sobre a intervenção cirúrgica que fez ao joelho esquerdo depois dos Celtics terem sido eliminados no play-off pelos Knicks, e que foi mais ou menos mantida em algum secretismo até a equipa de Boston lhe ter dado o ok para jogar e poder ir ao EuroBasket, umas das razões porque voltou aos Estados Unidos, para ser reavaliado, garante que está pronto. «A cirurgia já foi há bastante tempo. Temos de manejá-la de qualquer maneira, mas penso que estamos no bom caminho. Sinto-me praticamente a 100 por cento, é uma questão de voltar a ganhar ritmo. Jogar cinco contra cinco e tirar um bocado aquele bloqueio mental que até agora sentia. É mais uma questão de nem sequer pensar que houve uma cirurgia. Já passou. Estou confiante e bastante confortável. É só voltar a ganhar força e ter ritmo dentro do campo», concluiu.

Fotografia Pedro Lima/Hoopers

E expectativas para o EuroBasket? «A expectativa é ir jogo a jogo. Sabemos que é um grupo difícil e o campeonato não é para equipas fracas, das que vão para lá com o pensamento de já estarem contentes por lá ter chegado. Nenhum de nós está contente com isso. Queremos ir mais longe pois estamos a lutar por algo inédito, por Portugal. Alcançar uma classificação histórica seria ideal, mas temos de pensar partida a partida. Lutando por cada minuto como se fosse o último termos maiores chances para ganhar e é o mindset certo para ter», analisa antes de considerar quais considera os favoritos nesta edição.

«Temos bastantes peças no perímetro, até no pintado com o Miguel Queiroz, sendo um dos veteranos, a jogar a poste alto. Depois existe o Travante Williams, o Diogo Brito, o Rafa Lisboa, o Diogo Ventura… Muitos jogadores que sabem assumir quando o momento chega»

«Acho que nunca se pode contar com a Espanha de fora, a Sérvia tem uma equipa bastante bem construída, com jovens e jogadores mais velhos com experiência. A Letónia realizou um bom Mundial há alguns anos e jogar em casa vai ser bom para eles, a Grécia é igualmente boa…Há muitas seleções fortes. Mas também é a questão de matchups, quando chegar à altura das eliminações», analisa.

Fotografia A BOLA

«Ele [Hugo Gonzalez] foi convocado [seleção de Espanha]? Lá vou ter de o fritar…[risos] Já o conheci quando foi depois a Boston. Conversámos sobre como foi o tempo que passou no Real Madrid e ele perguntou-me um bocado de Portugal. Falámos sobre o que se passa dos dois lados. Pareceu-me um miúdo cinco estrelas»

E para quem não gosta de ser estrela, será que os adversários não o vão ver como a referência dos Linces e por isso impor-lhe uma maior pressão? Queta considera que «isso até pode ser bom. «Estamos a jogar basquete e pode-se tirar o melhor jogador de campo que existe a possibilidade de surgir o sexto/sétimo homem e marcar 20/30 pontos no jogo e passamos a ganhar. É aproveitar as vantagens e desvantagens e perceber quando temos perigo para o nosso lado. Temos bastantes peças no perímetro, até no pintado com o Miguel Queiroz, sendo um dos veteranos, a jogar a poste alto. Depois existe o Travante Williams, o Diogo Brito, o Rafa Lisboa, o Diogo Ventura… Muitos jogadores que sabem assumir quando o momento chega. Existe um bom misto e equilíbrio. Como se diz: é um prato onde há proteína, vegetais, as carnes, temos tudo».

Caso Mário Gomes utilize Neemias já amanhã contra Espanha no Torneio Internacional de Málaga, existe essa dúvida uma vez que o selecionar disse que gostaria que que o poste já tivesse alguns treinos com maior entrosamento com a equipa, aquele irá encontrar do lado contrário o novo colega em Boston, base/extremo Hugo Gonzalez, 28.ª escolha do draft. «Ele foi convocado? Lá vou ter de o fritar…[risos] Já o conheci quando foi depois a Boston. Conversámos sobre como foi o tempo que passou no Real Madrid e ele perguntou-me um bocado de Portugal. Falámos sobre o que se passa dos dois lados», revela. «Pareceu-me um miúdo cinco estrelas. Todas as indicações que vi vindas do Real Madrid e da seleção de Espanha foram boas. Trabalha árduo, joga bastante rijo e tem bastante potencial para dar certo, eventualmente», acrescenta.

Fotografia A BOLA

«Sinto-me bem em Boston. Tenho lá pessoas que gostam de mim lá e querem o meu bem. Que me estão a ajudar a evoluir imenso. Gosto da cidade, é excelente. A comida é top. É muito perto de casa. É daquelas situações quase que perfeitas para mim»

E vai ter de pensar em alguma praxe especial para rookies? «Eu? Não! Ainda estou na transição de jogador jovem para veterano. Ainda a perceber como vou lidar com isso», declara.   

Voltando à questão de imagem em playgrounds, em que é modesto, era giro ter um em Boston com a sua imagem? «É sempre giro. Nunca se diz que não, mas acho que não é algo que esteja na minha mente. Não é uma prioridade»,

E ainda que as careiras na NBA deem muitas voltas, nunca se sabe até o que pode acontecer no meio da época, da maneira como atualmente se sente na cidade e na equipa, vê-se ser um jogador dos Celtics o resto da carreira? «Sim, sinto-me bem em Boston. Tenho lá pessoas que gostam de mim lá e querem o meu bem. Que me estão a ajudar a evoluir imenso. Gosto da cidade, é excelente. A comida é top. É muito perto de casa. É daquelas situações quase que perfeitas para mim».

Nuno Belchior: «Passei aqui a minha infância»

Igualmente solicitado para fotografias e autógrafos, Nuno Belchior, de 42 anos, estava também de regresso ao playground da infância. «Fiquei surpreendido quando o Frederico [Rosa, presidente da CM Barreiro] me chamou, pois nem sabia que iria haver a requalificação do Bairro 6. E quando me disseram que teria a minha cara e a do Neemias, fiquei muito contente com uma homenagem destas, num sítio que me diz muito», afirma.

«Passei aqui a minha infância praticamente a jogar futebol. E agora tem a minha cara! O Neemias é bastante mais novo, nunca nos cruzamos, mas agora podemos partilhar o campo. Ainda jogo e ele também», salienta o duas vezes campeão do Mundo e outras tantas da Liga Europeia. «Aliás, vínha cá jogar até terem começado as obras e, normalmente ao fim de semana, fazemos cá uma peladinha e às vezes até um petisquinho aqui dentro do Bairro 6. E agora tem a minha cara…», repete, satisfeito.