Neemias Queta: «Este vai ser o ano de chegar lá acima»
Pelo segundo ano consecutivo Neemias Queta aproveitou o início das férias, e desta vez antes de disputar o EuroBasket 2025, para, com o apoio da Adidas e da Hoopers, realizar o seu training camp no Pavilhão da Quinta dos Lombos, em Carcavelos. Se na passada temporada contava com 40 rapazes e raparigas, desta vez dobrou a aposta e tem 80 jovens, com recorde de 32 meninas, interessados em desenvolver as capacidades basquetebolísticas.
Carlos Barroca mantém a liderança técnica de uma vasta equipa de treinadores a que se juntou Taaj Ridley, um dos adjuntos de Joe Mazzulla nos Celtics e chefe da equipa de treinadores encarregues de desenvolvimento dos jogadores de Boston, assim como daqueles que estão nos Maine Celtics, da G League. Trabalha com o poste português há mais de dois anos e juntou-se a todos no arranque do campo esta segunda-feira de manhã e durará até domingo, para cantar os Parabéns a Você... a Neemy, que no domingo celebrou 26 anos.
Pouco depois, Queta conversou com a BOLA sobre esta aposta, aquela que considera ter sido a sua melhor temporada de sempre na NBA, em que se estreou no cinco inicial, das importantes saídas que têm acontecido nos Celtics e de que está confiante quando de juntar à Seleção, a 1 de agosto, para preparar o EuroBasket 2025. Ah, e que lhe deviam ter oferecido um bolo de doce de ovos em vez de um chocolate...
— Segunda edição do seu Campo de Treinos Neemias Queta, desta vez traz um treinador adjunto dos Celtics [Taaj Ridley] - qual foi essa ideia – e agora já só faltam os 400 miúdos que desejava ter no ano passado?
— Acho que foi muito fácil trazer o Taaj. Assim que soube que eu tinha o campo, falámos logo e resolvemos mesmo que o ideal era trazê-lo, porque ele sempre foi bom com miúdos, traz boa energia e também tem experiência em fazer campos com crianças. Por isso penso que era a parceria ideal. Assim também aproveita para conhecer um bocado Portugal, vem cá de férias e é top.
— Desta vez só ainda não deu foi para trazer o Joe Mazzulla [treinador dos Celtics].
— Não sei. Não sei até que ponto ele tem paciência para isto...
— Há duas épocas foi campeão e teve uma oportunidade de viver algo que nunca na carreira havia vivido, assim como de jogar mais. Mas nesta última, apesar dos Celtics só terem chegado às meias-finais de Este, disputou 62 jogos na regular season, com um média superior de minutos e atuou mais no play-off. Acha que esta foi a sua melhor temporada de sempre?
— Podemos dizer que sim. Foi uma época mais consistente do que a temporada anterior e tive menos lesões. Creio que senti-me melhor dentro de campo, até pela maneira como já estava o entrosamento com alguns meus colegas, fez-me melhor. Por isso, acho que foi um ano bastante positivo, mas ainda tenho muito que trabalhar.
— Na noite em que foi campeão, há duas épocas, disse-me: «Vais ver para o ano como é que vou aparecer…». Chegou a atingir esse nível que estava tão disposto naquela noite, em trabalhar tanto, estava tão entusiasmado. Atingiu esse nível a que achava que podia chegar no final da época?
— Digamos que sim, mas ainda tenho muito para fazer. Cada época é uma temporada diferente e tens de arranjar maneiras novas de te superar. Acho que consegui fazê-lo no ano passado e neste tenho de arranjar outras novas maneiras.
— Na temporada passada estreou-se na NBA a jogar no cinco inicial. Foram seis vezes. Ainda se lembra qual foi o jogo em fez essa estreia?
— Acho que foi com Atlanta [Hawks]. Sim, Atlanta…
— Ganhou?
— Sim, ganhámos.
— Acabou com uma valorização de +31 [10 pontos, 7 ressaltos, 1 roubo e bola, 1 desarme, 0 turnovers em 23m], igual ao Derrick White [base, colega de equipa].
— Yeah, foi um bom jogo. Vencemos para aí por 20/30 pontos, não?
— Sim, venceu por 93-123. Esse encontro marcou- o?
— Foi um bom jogo, sim. Senti-me… nem sabia que ia começar de início nesse dia. Foi mesmo perto do fim que me disseram, penso que foi porque o [Kristaps] Porzingis ficou doente e tive de assumir, não foi? [integrou o cinco com Jrue Holiday, Derrick White, Jayson Tatum e Al Horford].
— Na semana passada, Brad Stevens [presidente para o basquetebol dos Celtics] disse que você e o Luke Kornet [foi para os Spurs] eram uns suplentes de luxo que a equipa tinha, para jogarem no quarto e terceiro lugar na rotação e que as pessoas nem se apercebem disso e também que acha que rendem muito mais do que aquilo. E lançou-lhe, por assim dizer, um desafio, pois acredita que que pode ter um grande impacto esta época. Vê essas declarações como um desafio e que estão a apostar muito em si nesta temporada? Já falaram consigo ou ainda foi só isso que ele disse publicamente?
— Não, já falaram comigo e, acima de tudo, o que acho que tenho de fazer é continuar a evoluir aos poucos. Sei o que tenho de fazer, o que esperar e, principalmente, que tenho muito trabalho pela frente.
— Está a custar ver aquela equipa que foi campeã a começar a ser separada, também por razões económicas. Para quem conviveu dois anos com eles e foram campeões, custa ver sair esses jogadores [Kristaps Porzingis Jrue Holiday, Luke Kornet e possivelmente Al Horford]?
— Sim, sem dúvida. Não são perdas fáceis porque são colegas com quem passas mais tempo do que com a tua própria família, durante o ano todo. Crias rotinas, crias amizades, crias uma empatia entre nós e uma familiaridade que não se substitui e fica para a vida.
O Jrue era um jogador que nos dava um bocadinho de tudo, um canivete suíço para nós e depois era um tipo excelente no balneário [sentava-se ao lado direito de Neemias nas cabinas]. O KP era cinco estrelas, trazia uma boa energia e era super difícil para outras equipas conseguirem pará-lo dentro do campo. Quanto ao Luke, era com quem passava a maior parte do meu tempo todos os dias, treinávamos juntos e foi um jogador que me marcou muito em termos de passar a tocha para mim. Não vai ser fácil substituí-los como pessoas e como jogadores, mas lá vamos ter de o fazer.
— Pronto para a Seleção?
— Pronto.
— O que é que é para si ir a este EuroBasket, já que foi campeão da Europa sub-20 Divisão B? De certeza que era a próxima fase com que sonhava em termos de Seleção.
— É top. O Europeu é o que sempre queremos fazer desde jovens, representar a Seleção no EuroBasket, onde toda a gente está a ver e acho que é uma excelente oportunidade para nós, para nos testarmos com os melhores e termos um bocado de uma experiência que nos vai marcar para a vida.
— Jogou os dois primeiros jogos desta campanha de apuramento, depois houve um verão que não pôde atuar porque se havia lesionado [e quando estava na NBA não podia participar durante a época], mas agora está de volta. Viu alguns jogos deles, o que é que é a força desta Seleção para terem chegado a esta qualificação?
— Toda a gente diz resiliência e acho que é mesmo a resiliência que marca esta Seleção, porque não é de todo fácil ter de jogar com estas equipas que são, supostamente, tão melhores [que Portugal]. No entanto, temos o nosso valor e, acima de tudo, sabemos o quanto trabalhámos para chegar a este ponto e penso que temos muita vontade de vencer.
— Foi considerado um apuramento de uma Seleção sem estrelas. Para esta fase final vai haver uma estrela dentro da equipa, com o seu ingresso?
— Não, não… de todo….
— Não é muito dado a de ser estrela, é isso?
— De todo. Deus me livre de ser estrela, não é? Acho que, acima de tudo, o que quero fazer é só ajudar a equipa a ganhar. Eles fizeram este apuramento praticamente e literalmente sem mim. O que posso acrescentar dá-nos uma ajuda e talvez um bocado mais de força e moral, não sei. Mas, acima de tudo, vamos para ganhar jogo a jogo.
— Um dos adversários vai ser a Letónia [Grupo A], onde, em princípio, estará o Porzingis, seu antigo colega de equipa. Chegaram a falar sobre irem jogar um contra o outro?
— Sim, quando os grupos foram sorteados ainda estávamos no decorrer da época e falámos logo sobre isso. Soube que ia ser em Riga, na terra dele, e deu-me logo algumas dicas do que se fazer por lá, restaurantes e outras coisas. Não é que vá ter muito tempo para isso, mas acredito que vai ser uma boa experiência estar ali com a família dele. Vai ser bom mas, acima de tudo isto é business, vamos para jogar.
— Outra seleção do grupo é a Sérvia, das melhores do mundo, bronze nos Jogos Olímpicos de Paris. E conta com aquele que, para muitos, é considerado o melhor jogador do mundo na atualidade, Nikola Jokic. Como é que é ter que defender o Jokic, pois já teve de o fazer algumas vezes?
— Não é fácil, é muito completo. O Jokic é um jogador que consegue passar a bola, avançar e fazer um bocado de tudo, mas acho, sobretudo, que iremos estar a preocuparmo-nos com um jogador específico. Temos é que nos preocupar connosco. Quem temos de controlar, o que temos de fazer e, principalmente, jogar o jogo.
— Ontem [domingo] fez anos, 26. Que prenda é que ainda não lhe deram que devia ter recebido?
— […] Fico mais contente pelo que tenho do que não tenho. Claro que há sempre algo que desejas ter, mas acho que são mais coisas banais do que sentimentais...
— E que coisa banal que lhe deviam ter oferecido e não deram? Lembraram-se de lhe dar um bolo, pelo menos?
- Yeah, yeah… um bolo de chocolate. Se calhar um bolo de doce de ovos também era bom. Gosto mais de bolo de doce de ovos do que bolo de chocolate. Não sabiam, mas também se aceita.
— Joga o [vídeo jogo] NBA2K?
— Népia.
— Mas sabe que valorização é que tinha na época passada?
— 75?...
—71. Mas este ano [NBA2K 2026] está com 76. Acredita que eles, durante o campeonato vão ter que mudar a sua valorização?
— Seria o ideal, não é? Acho que sim. Acho que vai ser o ano de chegar lá em cima. Vai ser um bom ano.