Martín Anselmi e o FC Porto: um projeto arrojado, no mínimo
«Com Anselmi, iniciamos a continuação de um projeto que temos em vista para o clube, com um futebol arrojado. Todos vão ficar bastante entusiasmados». Estas palavras soam agora um pouco estranhas, mas são de André Villas-Boas, na apresentação de Martín Anselmi como novo treinador do FC Porto, já lá vão mais de três meses.
De entusiasmo nem vale a pena falar nesta altura, já o futebol arrojado tem muito que se lhe diga. Com mais pontos perdidos do que Vítor Bruno (em menos jogos), um sistema que tem exposto a equipa e que faz brilhar adversários que vão de Pavlidis a Kikas, e com uma festa que voltou a dar sinais de indisciplina no balneário, tudo o que o treinador argentino trazia de mais promissor está a desvanecer-se.
É, portanto, na questão do projeto que prefiro centrar-me. Quando a estrutura azul e branca decidiu apostar num jovem técnico sem experiência no futebol europeu, mas com uma aura de atrevimento e boa presença, além do tal futebol arrojado que levou entusiasmo a outras paragens, estava a romper com a continuidade que Vítor Bruno tinha como principal destaque no currículo.
Ao ir buscar Martín Anselmi, Villas-Boas estava a apostar num projeto, o que significa que não pensou em alguém para tentar sobreviver a esta época desportiva, mas para construir o que vem a seguir. Alimentaram-se as comparações até com a chegada de Ruben Amorim ao Sporting, e com aquele 4.º lugar na luta com o SC Braga que no ano seguinte valeu o título. A pressão já não era a mesma de Vítor Bruno: ser campeão ou ganhar a Liga Europa em 2025 eram alucinações longínquas.
O problema é que estes três meses de Martín Anselmi não só não trouxeram resultados imediatos, como deixaram muito mais dúvidas sobre o que será o futuro. O presidente tem agora duas hipóteses: manter a crença no projeto a que se referia no final de janeiro, reforçá-lo interna e externamente e dar-lhe outro plantel para atacar a nova época, ou desistir de tudo o que acreditou há três meses e começar de novo, desta vez à procura de um treinador com provas dadas para não correr o mesmo risco.
Nenhuma delas será fácil, mas qualquer uma terá de ser assumida por Villas-Boas, assim como os objetivos desportivos para 2025/26, ou o próximo mercado de transferências. Martín Anselmi tentou transmitir confiança com a declaração, antes do jogo com o Moreirense, de que ficará no clube «até 2027, no mínimo», mas é o presidente que tem, no máximo, duas semanas para ficar entusiasmado com o projeto arrojado que escolheu.