André Villas-Boas foi eleito presidente do FC Porto a 27 de abril do ano passado
André Villas-Boas foi eleito presidente do FC Porto a 27 de abril do ano passado (Foto: Imago)

FC Porto: 12 meses de Villas-Boas

'#Minuto 92' é o espaço de opinião quinzenal de Ricardo Gonçalves Cerqueira, jurista, gestor de empresas e sócio do FC Porto

A dimensão desportiva não correu, não está a correr, como todos desejaríamos. A equipa do FC Porto apresenta-se recorrentemente desinspirada, amorfa, sem intensidade competitiva e a cada exibição o problema parece agravar-se.

Existe, portanto, no quadro atual, um problema para resolver e ao qual não devemos fugir. Para garantir que a identidade — marcadamente aguerrida e combativa — que sempre caraterizou o FC Porto não esmorece e que o futuro não será nem de apatia nem composto de profissionais conformados com o assim-assim. Sejamos francos, o atual lote de jogadores, salvo meia dúzia de exceções, não tem estado à altura dos pergaminhos do clube que representa, sendo que, em alguns casos, não evidencia sequer competências técnicas que justifiquem a sua permanência na equipa principal. No que concerne à atitude e compromisso, bem, nesse capítulo, estamos desde há muito esclarecidos. Existe, por estas e outras razões de âmbito disciplinar, um divórcio latente entre a comunidade de sócios e adeptos e a sua equipa profissional de futebol que, sinceramente, não parece ser reversível.

Impõe-se, por isso, reorganizar o plantel, fazer sair quem está manifestamente desenquadrado do projeto desportivo do Clube e privilegiar a chegada de atletas com ambição, sede de conquistas e com princípios compagináveis com a história do FC Porto. Aliás, se recuarmos no tempo, foi a identificação seletiva e atempada de atletas — ainda que maioritariamente desconhecidos da primeira linha do futebol europeu, mas com evidentes ganas de atingir o sucesso — que, num passado não muito longínquo, foi possível construir plantéis ganhadores e que proporcionaram êxitos assinaláveis, desportivos e financeiros, ao Clube. O maior desafio é, pois, reconstruir essa base desportiva conciliando a juventude e irreverência de Rodrigo Mora e de outros talentos com idêntico perfil, com a liderança experiente de jogadores como Marcano, Diogo Costa ou Fábio Vieira, exemplos de ADN Porto e de seriedade na relação que mantêm com a instituição que representam.

Volvidos 12 meses desde a tomada de posse dos novos órgãos sociais é oportuno, e sobretudo justo, que o critério de análise não se esgote no desempenho da equipa de futebol. Exercício que, naturalmente, assume evidente preponderância pelo inegável impacto que o sucesso desportivo, ou a sua ausência, tem nas várias dimensões do Clube. Mas há mais Porto e outras variáveis que se colocam.

A nível financeiro, a administração da SAD herdou uma situação verdadeiramente periclitante, com a instituição afundada em dívidas e incumprimentos contratuais, reputacionalmente fragilizada, nacional e internacionalmente, e subjugada a interesses estranhos ao Clube, condicionalismos que têm sido paulatinamente debelados com competência, em particular a redução do passivo em cerca de 179 milhões de euros, isto no período de um ano.

Os resultados relativos ao primeiro semestre da época denotam uma inversão da trajetória de empobrecimento em que a Sociedade Anónima havia mergulhado, confirmando-se que a instituição fechou o período com um resultado líquido positivo de 334 mil euros, uma melhoria substancial dos capitais próprios e a recuperação de 66,4 milhões de euros nos capitais próprios consolidados. Performance conseguida fundamentalmente através do aumento de receitas operacionais, em particular a rubrica de bilhética que registou um incremento de 33% face ao período homólogo e uma redução de €5 M dos custos com pessoal.

No que concerne ao mercado de transferências, merecem destaque as vendas de Nico González e de Galeno por valores muito significativos que atingiram, no seu conjunto, os €110 M.

O anunciado Portal da Transparência foi lançado no site oficial do Clube e está em pleno funcionamento, permitindo monitorizar em tempo real os vários negócios que envolvem a sociedade, incluindo valores de transferências de jogadores, comissões pagas a agentes e a clubes terceiros. Além disso, concretizou-se a propalada auditoria forense aos últimos 10 anos de atividade, que veio demonstrar perdas financeiras na ordem dos 50 milhões de euros atribuídas em comissões de agenciamento entre outras decisões de gestão pouco entendíveis.

Também o aumento do número de associados, de 131 mil à data do último ato eleitoral para os atuais 150 mil, um incremento de 14%, é um sinal encorajador de mobilização do universo portista num ano particularmente difícil.

Com o lançamento do futebol feminino foi dado um passo decisivo para o crescimento da modalidade em Portugal e para a afirmação do FC Porto no contexto do desporto feminino, que culminou com a subida de divisão, sem derrotas e um registo de assistências muito acima da média. O primeiro encontro realizado no Estádio do Dragão contou com mais de 30 mil espectadores.

Estão ainda em marcha os projetos que contemplam alterações significativas das infraestruturas do estádio do Dragão em resultado do acordo celebrado com a Ithaka e a Legends que promete modernizar as instalações, dotando-as de maior conforto e comodidade, prossegue o processo de licenciamento tendo em vista a edificação do Centro de Alto Rendimento em Vila Nova de Gaia e, em simultâneo, decorrem conversações com o Município do Porto com o intuito de identificar na cidade o local onde nascerá o novo pavilhão de suporte às modalidades.

O tempo é, naturalmente, de mudança. No modo de funcionamento, no modelo de gestão, nos protagonistas. A nós, sócios e adeptos do FC Porto, compete-nos manter a exigência sobre quem lidera o Clube, cientes de que Roma e Pavia não se fizeram num dia.