Martín Anselmi salienta que a equipa ainda tem muito para assimilar

Marcano: quando os filhos nos salvam do abismo

'Estádio do Bolhão' é o espaço de opinião semanal do jornalista Pascoal Sousa

Anselmi é um bom comunicador e sabe tocar em pontos sensíveis na avaliação do contexto que o rodeia. E aqui não falo sobre futebol, mas da forma carinhosa como falou sobre o regresso de Marcano à competição, em Arouca, depois de quase ano e meio de inatividade. «Sei que queria que o seu filho o visse a jogar uma vez mais», afirmou o argentino e só esta frase dá-nos uma ideia muito pequena da enorme provação pela qual passou o central espanhol, de 37 anos.

É bom lembrar que Marcano esteve oito meses a recuperar de uma rotura ligamentar e a 24 de maio passado foi submetido a intervenção cirúrgica para reforço muscular da face posterior da coxa direita. Fez apenas sete jogos em quase duas temporadas, mas nunca deixou de ser resiliente e um capitão silencioso, mas ativo num balneário cheio de juventude e irreverência.

Escrevi há tempo que, do grupo de centrais, Marcano é o mais competente a sair com bola. Não é preciso ser um génio para se chegar a essa conclusão, mas é preciso ser um ser excecional para, a meio de um longo e penoso tratamento, Marcano não ter pensado em desistir. E se terá pensado nisso, encontrou forças para avançar. Provavelmente no filho que tanto queria voltar a vê-lo jogar. Os filhos dão-nos essa força inexplicável.

É fácil esquecer que, por detrás dos jogadores, existem pessoas com famílias, emoções, alegrias e tristezas, tal como todos nós. As palavras de Marcano em Arouca revelaram um medo compreensível pelo futuro, mas, acima de tudo, uma esperança inabalável no presente. Em nome do seu filho, está determinado a vencer esta e muitas outras batalhas.