Não há futebol encantador de Bruno Lage, mas os objetivos do Benfica têm sido alcançados. FOTO MIGUEL NUNES
Não há futebol encantador de Bruno Lage, mas os objetivos do Benfica têm sido alcançados. FOTO MIGUEL NUNES

Liga Portugal: a questão da competitividade

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Definição de competitividade

Um dos argumentos que mais se utilizam na discussão em torno da competitividade do nosso campeonato é que chegamos às últimas jornadas com equipas a lutarem para não descer de divisão, outras a lutar por um lugar europeu e duas ou três a lutarem pelo título. Se analisarmos a competitividade por este ângulo, então sem dúvida que a nossa Liga está muito competitiva A questão é que como em todos os temas, há diferentes formas de avaliar a realidade. Incluo-me naqueles que analisam a competitividade de outra forma. Em praticamente todas as ligas europeias existe uma grande diferença pontual entre os dois ou três primeiros e os restantes. Então o argumento de termos equipas a lutar até à última jornada pela manutenção, pela Europa ou pelo título é demonstrativo de competitividade? Em minha opinião não. Por competitividade pretendo ir ao encontro do que o treinador do Casa Pia referiu recentemente: a diferença entre os grandes clubes em Portugal e os restantes é enorme e difícil de combater. Ora a competitividade de uma Liga analisa-se jogo a jogo, através da real capacidade de jogar para vencer. Em Portugal todos percebemos que na maior parte dos jogos só um dia mau fará com que os grandes percam pontos. A forma como a nossa competição está a evoluir faz com que financeiramente a diferença entre grandes e todos os outros seja cada vez maior. Em vez de atenuarmos distâncias estamos a cavar um fosso cada vez maior. Em Inglaterra, por exemplo, qualquer equipa tem capacidade de criar dificuldades aos reais favoritos ao título. A competição tem vindo a ser desenvolvida com o objetivo de proporcionar uma maior capacidade financeira a todos os clubes, de forma a tornar a competição mais atrativa e a experiência dos adeptos única e especial.

Europa como barómetro

Outro ponto que nos permite analisar a competitividade da nossa Liga é a forma como nos comportamos nas provas europeias. Uma liga competitiva deverá ser mais homogénea e mais competitiva interna e externamente. Quando avaliamos a nossa performance nas competições europeias a que conclusão chegamos? Os três grandes continuam a ter boas performances, mais ou menos regulares e a acrescentar pontos para o ranking de Portugal. Aqui devemos acrescentar o comportamento do Braga, que também tem tido um papel relevante não só internamente, mas também no contexto europeu. E os outros clubes, quantos pontos somam para o ranking? A conclusão é fácil: as restantes equipas têm tido uma contribuição irrelevante para o ranking europeu de Portugal. Recentemente perdemos, de forma natural, uma posição no ranking para os Países Baixos e a consequente redução de equipas nas competições europeias. De forma a quererem desvalorizar este facto e a reafirmarem que o caminho que estava a ser seguido era o ideal, a justificação para perdermos a nossa posição no ranking foi a de que os pontos na Liga Conferência valiam tanto como na Liga dos Campeões. Sem dúvida que este é um facto. Então por que motivo nós não conseguimos somar pontos na Liga Conferência? Por que motivo este ano não vamos ter nenhuma equipa nesta competição? A resposta parece-me óbvia: estamos a criar a ilusão de que temos uma Liga cada vez mais competitiva, mas na realidade está a perder influência e dimensão. Ao contrário do que muitos possam pensar, esta perda de competitividade é um problema de todos. Se continuarmos nesta trajetória, mais tarde ou mais cedo, teremos apenas uma equipa com presença na Liga dos Campeões, o que fará com que este problema deixe de ser exclusivamente dos pequenos e chegue também aos grandes.

A valorizar - João Palhinha
Regressou a Inglaterra pela porta grande e num contexto que pode potenciar todas as suas capacidades.

Benfica a ser Benfica

Num ano de enorme tensão para o clube, o Benfica conseguiu, de uma forma segura, passar os primeiros obstáculos e o difícil mês de agosto. Depois de vencer a Supertaça eliminou, com total justiça, Nice e Fenerbahçe. A vitória da última quarta feira só peca por escassa. Uma primeira parte de total domínio de jogo em todos os capítulos: abordagem ao jogo, bolas paradas e equilíbrio defensivo (que continua a ser um dos problemas da equipa). O domínio foi tal que o Fenerbahçe parecia uma equipa banal, incapaz de contrariar a pressão da equipa encarnada. Um dos grandes vencedores deste início de competição é Bruno Lage que, sem praticar um futebol encantador, conseguiu atingir todos os objetivos propostos com um extra que é o facto de ainda não ter sofrido golos em competições oficiais.

Portugal vs. Europa

O jogo entre o Benfica e Fenerbahçe ficou marcado por decisões, no mínimo, discutíveis por parte da equipa de arbitragem. Toco neste tema para demonstrar a diferença de comportamento, por parte de dirigentes ou candidatos, nas realidades portuguesa e europeia. A questão que coloco é a seguinte: o que teriam feito a atual administração da SAD encarnada ou alguns candidatos à presidência do Benfica se esta arbitragem tivesse sido feita na nossa Liga? Por que não se aborda o tema das arbitragens na Europa como se abordam os jogos na Liga Portugal? Por que se fazem comunicados internamente, mas quando a realidade é europeia o comportamento é diferente? A minha conclusão é simples. A primeira é que os dirigentes ou candidatos querem ganhar pontos através do populismo. A segunda é que em Portugal existe a ideia de que quem faz pressão sobre a arbitragem é beneficiado. Em terceiro, cria-se uma retórica que desculpabiliza quem toma decisões. Por último não o fazem na Europa porque a UEFA tem pulso firme sobre estas situações e porque os árbitros não se sentem pressionados com eventuais queixas.

A desvalorizar - Ruben Amorim
A derrota para a Taça frente ao Grimsby da quarta divisão veio aumentar ainda mais a pressão sobre o jovem técnico português.

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