Técnico comentou as eleições do clube da Luz e garantiu que os encarnados têm a capacidade de fazer uma grande época

Lage e as palavras de Mourinho: «Tenho as costas largas»

Treinador esteve na Faculdade de Motricidade Humana e, à saída, falou aos jornalistas. Comentou a atualidade do Benfica e os reparos de José Mourinho ao plantel, que não encara como crítica

Bruno Lage comentou, esta sexta-feira, a atualidade do Benfica. Em declarações aos jornalistas, o treinador setubalense abordou a saída do clube em setembro, falou das eleições e, ainda, reagiu aos reparos de José Mourinho, garantindo que as águias têm «um plantel de qualidade» e que «podem fazer uma grande época».

«Não tenho acompanhado tanto como seria normal. Após a minha saída o melhor foi afastar-me e colocar distância. Sempre disse que o maior adversário do Benfica seria o fator tempo, por isso se eu pedia tempo para mim, é legítimo que se peça tempo para o José Mourinho também. O número de treinos é muito curto, há mais tempo para jogar do que para treinar. Tem de haver um período de tempo que seja materializado em treinos onde o treinador possa ter todos os jogadores e fazer crescer a sua ideia de jogo. O Benfica tem plantel, tem treinador, mas precisa de tempo. O Benfica tem um plantel de enorme qualidade, um treinador que não precisa de apresentações. Tem todas as condições para fazer uma grande época. No ano passado, também partimos em desvantagem e chegámos ao primeiro lugar e dos quatro títulos, vencemos dois», começou por dizer o técnico, na Faculdade de Motricidade Humana, onde participou numa palestra sob o tema Periodização do treino em futebol: caso de uma época com Mundial de Clubes 2025, perante um salão nobre repleto de estudantes.

«Não vou dizer se a minha saída foi precipitada ou não. Aquilo que acho, pela experiência, é que na Champions, cada jogo tem a sua história. Enquanto houver possibilidade de conquistar os pontos necessários, a equipa tem de acreditar. O exemplo do ano passado vai ao encontro disso. Quando perdemos com o Feyenoord, quando empatámos com o Bolonha. Perdemos cinco pontos em casa mas a equipa teve capacidade para ir conquistar seis pontos fora no Mónaco e em Turim. O importante é acreditar enquanto houver pontos em disputa», continuou, acrescentando que viu a reeleição de Rui Costa como um acontecimento «perfeitamente normal» e que as eleições foram um dos fatores que não lhe permitiram triunfar: «Obriga a ter muita gente, seis candidatos com seis ideias diferentes e com os adeptos distribuídos pelos seis. Não há união.»

À medida que vamos tendo experiência, ficamos com as costas mais largas

Sobre as palavras de Mourinho, que disse que, quando chegou ao Benfica, a equipa «não mordia», o treinador afirmou que não as encarou como um reparo: «À medida que vamos tendo experiência, ficamos com as costas mais largas. Mas não senti isso como crítica. Cada treinador é diferente e tem a sua ideia de jogo. O importante é criar condições para a equipa se adaptar à forma de jogar de cada treinador. Schmidt tinha uma ideia de jogo diferente da minha, havia jogadores que passaram a jogar mais vezes connosco, como o Carreras, havia jogadores que jogavam noutras posições. É uma questão de adaptação.»

«Não me senti a prazo no Benfica. Fizemos um mercado muito competitivo, mas não sou ingénuo. Sabia muito bem, uma vez mais tive essa infelicidade de entrar com um período de eleições à minha frente... Percebi que num ou outro momento menos positivo ou em que um treinador com enorme prestígio como Mourinho estivesse no mercado, que as coisas podiam acontecer. Mas construímos um plantel de grande qualidade, agora, há ajustes que têm de ser feitos, claro. Mourinho pode aproveitar o mercado de janeiro para contratar jogadores que vão ao encontro da sua ideia de jogo», referiu, deixando claro que não sente qualquer mágoa em relação à direção encarnada pela maneira como o processo da contratação de Mourinho se desenrolou: «Estou em paz com Mário Branco, apenas não concordei com a não alteração do jogo com o Santa Clara

«Saí sem mágoa, desejo o melhor para o Benfica e quero que o grupo conquiste o título. Senti que tinha condições para continuar o trabalho e acreditava no plantel que construímos. Não me cabe a mim dizer se o presidente se precipitou», afirmou.

«É altura de o inferno da Luz voltar a ser o inferno da Luz»

A saída de Kerem Akturkoglu no final do mercado de verão também foi tema: «Não posso dizer se houve propostas concretas antes do que aconteceu, mas o que posso garantir é que houve avanços e recuos. Ele tinha começado bem a época, sentia-se muito feliz no Benfica. As minhas decisões foram sempre em função do que era melhor para a equipa, tínhamos de ter um plantel vasto para dar uma boa resposta.»

«É altura de o inferno da Luz voltar a ser o inferno da Luz, mas para os nossos adversários. Agora que está eleito Rui Costa é importante o inferno da Luz voltar. Vou-lhe confessar. Os adeptos sabem o que foi o início da época, a equipa atingiu objetivos como foi vencer a Supertaça, garantiu o acesso à Champions, venceu os quatro jogos do campeonato. Depois daquele jogo com o Santa Clara, estarmos a vencer por 2-0 em que a equipa tem uma boa resposta frente ao Qarabag e aos 25 minutos, no primeiro ataque à nossa baliza, haver uma assobiadela à equipa. Não é normal. Aconteceu agora com o Casa Pia. É o momento de os adeptos perceberem que durante 90 minutos a equipa tem de ter o apoio.»

Numa altura em que faltam duas jornadas para o dérbi com o Sporting, Bruno Lage recusou a ideia que este jogo será decisivo e afirmou que o campeonato começa... agora: «O dérbi é sempre muito importante, quem está atrás precisa desses pontos. É importante, mas não decisivo.»

«Os campeonatos começam quando todos os grandes estão a jogar nas competições europeias. Só assim estão nas mesmas condições. Em agosto, não têm as mesmas condições de uma equipa que está a jogar as eliminatórias. O campeonato começa agora.»

Por fim, questionado sobre se coloca a hipótese de regressar à Luz, Lage foi evasivo: «O Benfica foi um capítulo que fechou e nós seguimos em frente para o próximo objetivo. Admite voltar? O que admito é arranjar o projeto certo para continuar a trabalhar.»