João Almeida: «Ainda tentei, mas não tive forças na subida final»

No alto da Bola del Mundo, João Almeida cruzou a meta com o olhar cansado e o corpo no limite, mas com a certeza de ter escrito uma das páginas mais marcantes da sua carreira. O português da UAE Emirates fecha a penúltima etapa da Volta a Espanha como virtual segundo classificado da geral, atrás de Jonas Vingegaard. 

No último quilómetro da penúltima etapa, o dinamarquês lançou o ataque que selaria a vitória do dia e a liderança final da corrida. João Almeida, já curto de forças, tentou resistir. Mas as pernas não responderam. «Acreditei [que podia destronar Vingegaard] até ao final. Mas no último quilómetro, quando o Jonas atacou, senti que não conseguia segui-lo e que ele estava mais forte. Eu não tive forças», confessou, sem esconder a frustração, mas também sem deixar espaço para arrependimentos. 

O português da UAE Emirates, debilitado por uma semana marcada pela doença, entregou-se por completo. A sua equipa apertou o ritmo durante quase toda a etapa e em grande parte da subida final, endurecendo cada metro de estrada, tentando quebrar os rivais. O esforço foi heróico, mas insuficiente para travar o Jonas Vingegaard, bicampeão do Tour (2022-23), que venceu a etapa após 165,6 quilómetros desde Robledo de Chavela com 22 segundos de vantagem sobre o corredor luso. «Foi superdifícil, estive no limite durante toda a etapa. Tínhamos de tentar, não tínhamos nada a perder», explicou João Almeida, ainda com o cansaço marcado no rosto, pouco depois de cortar a meta no quinto lugar. 

«A ideia era endurecermos a etapa o máximo que conseguíssemos. Infelizmente, tenho estado doente esta semana, as sensações não eram as melhores, mas ainda tentámos e penso que isso é o que importa. [Acabo] sem arrependimentos, fizemos o que pudemos. Parabéns ao Jonas, ele foi superforte», afirmou, reconhecendo o mérito do adversário. 

«Foi uma Vuelta muito dura. Terminamos no segundo lugar, penso que podemos estar satisfeitos. É um orgulho poder fechar em segundo uma Vuelta, ainda mais atrás do Jonas Vingegaard. Acho que é bastante bom», resumiu, com uma serenidade que só pertence a quem se entrega de corpo inteiro. 

As circunstâncias – uma doença inoportuna – poderiam ter sido desculpa. Mas João não as usou. «Tenho estado doente. São circunstâncias que acontecem, temos de lidar com o que temos. Mesmo assim demos o nosso melhor e podemos estar orgulhosos», disse, deixando também um agradecimento sentido ao público que o apoiou durante toda a corrida. 

O segundo posto na geral, agora virtualmente garantido, tem o peso da história. Meio século depois de Joaquim Agostinho, Portugal volta ao pódio da Volta a Espanha. João Almeida, aos 27 anos, assina o melhor resultado da sua carreira numa grande Volta, depois do terceiro lugar no Giro 2023 e dos quartos lugares no Tour 2024, na Vuelta 2022 e no Giro 2020. 

E quando a pergunta inevitável chegou – se desperdiçara a chance de vencer a sua primeira grande Volta – a resposta foi fiel à sua natureza calma e determinada: «Todas as corridas são uma oportunidade. É uma de muitas [de ganhar uma grande Volta]. Criaremos outras no futuro», assumiu João Almeida, que no alto da Bola del Mundo perdeu um duelo, mas conquistou um feito.