Arda Guler a celebrar um dos cinco golos que marcou ao serviço do Real Madrid, esta época
Arda Guler a celebrar um dos cinco golos que marcou ao serviço do Real Madrid, esta época - Foto: IMAGO

Guler abre o livro: encontro com Ronaldo, lição de Jesus e estreia com Vítor Pereira

Jovem de 20 anos escreveu uma carta a contar a sua história desde os escalões de formação até à conquista da Champions, falando do momento em que o seu ídolo o ignorou e também histórias curiosas sobre os seus ex-treinadores portugueses

A completar a sua segunda temporada ao serviço do Real Madrid, Arda Guler abriu o livro e escreveu uma carta aos miúdos do seu país, a contar a sua história, desde os escalões de formação do Fenerbahçe à conquista da UEFA Champions League. O jovem de 20 anos começou por recordar a primeira vez que foi chamado à equipa principal... e por um português, Vítor Pereira.

«Um dia, o Fenerbahçe chamou-me para um amigável da equipa principal. Eu tinha 15 anos. Nem sequer tinha treinado com a equipa principal. Lembro-me de ver como os séniores eram fortes. Luiz Gustavo... 80 quilos de músculo. Eu? Nada. Pele e osso. Acho que foi em agosto de 2021 que o Vítor Pereira me chamou para o meu primeiro jogo competitivo, em casa do HJK Helsínquia. Tínhamos muitas lesões e quando um dos nossos jogadores teve de sair na segunda parte, o Vítor Pereira virou-se para o banco e viu que lhe restavam três jogadores. Um era guarda-redes, o segundo era também guarda-redes e o terceiro era um miúdo de 15 anos que parecia um apanha-bolas. 'Arda, prepara-te.' O meu coração estava a bater tão depressa. Na Playstation é só o comando que está a tremer. Na vida real é o teu corpo todo! De alguma forma, senti-me mais calmo quando entrei em campo», disse, avançando até à sua primeira temporada nos merengues, em que venceu a Champions.

Vítor Pereira a abraçar Arda Guler após mais um jogo do Fenerbahçe

«Estar no banco não é fácil. Quando ganhámos a Liga dos Campeões, não tive vontade de levantar o troféu, porque não tinha contribuído muito em campo. Foi por isso que fiquei tão tímido quando Ancelotti me deu o microfone. Não estava a pensar ir para o topo do autocarro, porque estava muito cansado, e lembro-me que dois dos meus amigos me mandaram mensagens: 'Onde estás? Não te estamos a ver'. Eu estava lá em baixo a falar com o Kroos e o Modric, e o Modric estava a perguntar-me se o Mourinho ia para o Fenerbahçe. Os meus amigos diziam: 'Estás maluco? Acabaste de ganhar a Liga dos Campeões! Vai lá para cima festejar!'», começou por dizer, contando a história da primeira (e única) vez que defrontou Cristiano Ronaldo, num jogo entre Portugal e Turquia no Euro 2024.

Arda Guler a levantar a UEFA Champions League pelo Real Madrid em 2024

«Eu sou assim. Não basta ganhar um título. Tenho de sentir que o mereci. Por isso é que o Euro foi diferente. Quando marquei contra a Geórgia, o meu telemóvel explodiu. Gosto. Seguidores. Mensagens. Parabéns. Que loucura. Para o nosso jogo contra Portugal, eu estava um pouco nervoso. Esperava que o Ronaldo falasse comigo depois do jogo, porque o respeito muito. Então, no dia do jogo, a Marca publicou esta primeira página: Guler desafia Cristiano. Oh, não... a verdade é que me senti honrado por partilhar o campo com o Cristiano. Já viste 'A Última Dança'? O Cristiano é como o Michael Jordan. Uma manchete como esta é combustível para ele. Portugal ganhou 3-0 e, depois do jogo, não falou com ninguém», afirmou, revelando uma lição que aprendeu com Jorge Jesus, ainda na Turquia.

«Uns dias mais tarde percebi o que ele sentia, porque no autocarro, a caminho do estádio, vi um vídeo de um grupo de adeptos austríacos. Eles diziam: 'Quem é o Arda Güler?' Fiquei chocado. Porque é que alguém diria isto de mim? Mas depois lembrei-me de quando o Jorge Jesus me deixou de fora da equipa durante semanas no Fenerbahçe. Um dia, ele formou duas equipas para treinar livres e eu não estava em nenhuma delas. Estava sozinho a bater os cantos. Estava a chover a cântaros e quando cheguei a casa chorei imenso. Prometi a mim próprio que nunca mais voltaria a ter esta sensação. As pessoas vêem-me como um jogador criativo, mas também sou um guerreiro. Põem-me no banco? Vou esforçar-me mais. Falam mal de mim? Eu dou cabo de ti. Quando vi o clip da Áustria, era eu que estava a entrar em modo Michael Jordan. Estavam sempre a cantar sobre mim no jogo. Atiraram-me copos de cerveja. Perfeito. Quando assisti ao nosso segundo golo, virei-me para os adeptos austríacos. Obrigado. Acho que levei isso a peito», atirou.

Jorge Jesus a falar com Arda Guler no final de um jogo do Fenerbahçe

Guler terminou com um pedido aos jovens adeptos turcos e garantiu que o alto da sua carreira não vai terminar por aqui: «Fiz 20 anos no início deste ano. Há muitos outros sonhos no meu caderno. Quero tornar-me um jogador importante para o Madrid. Quero conquistar o título da Liga dos Campeões. Também gostaria de ser o número 10 deste clube. Acima de tudo, quero abrir caminho para uma nova geração de jogadores turcos. Sei que sou a grande esperança do futebol turco, mas não quero ser o único. Quero abrir a porta a todos os outros.»

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