Época 2023/2024: o que está em jogo
Aépoca que agora se inicia tem uma importância fundamental a curto e médio prazo para os clubes que lutam pelo título. Ao contrário dos anos anteriores, teremos apenas uma equipa com entrada direta na Liga dos Campeões. A temporada de 2024/2025, que é quando este pressuposto se vai verificar, coincide com a mudança de formato da competição, que trará consigo mais jogos e mais prémios aos participantes. Assim, quem vencer o campeonato terá uma vantagem competitiva enorme, porque financeiramente terá mais recursos e estará mais estável. A vertente financeira não resolve jogos ou campeonatos, mas permite alcançar ativos com maior qualidade, o que, por si só, aumenta a probabilidade de sucesso.
CAMPEONATO É O OBJETIVO PRINCIPAL
NO início de cada ano todos os clubes definem objetivos e estratégias. Este ano não foge à regra. Em Portugal, por norma, o campeão perde entre 15 e 20 pontos. Há campeonatos que se decidem na perda de pontos com os clubes de menor dimensão e outros em que o confronto direto é decisivo. Este ano, pelos motivos atrás identificados, o campeonato ganha uma dimensão superior. Não tenho dúvidas de que o principal objetivo dos clubes grandes é vencer a Liga Portugal, mesmo que estejam a fazer uma boa campanha nas competições europeias, mas, estrategicamente, este é o ano em que faz mais sentido apostar as fichas todas na competição interna. Porquê? Porque o prémio será muito maior do que ser campeão: o prémio é ter a possibilidade de ganhar supremacia sobre os rivais diretos.
Benfica
BENFICA — REFORÇAR OS ALICERCES
OBenfica parte com vantagem, não só por ser o atual campeão, mas porque financeiramente está mais estável, o que lhe permite atrair e procurar alvos de qualidade superior. É também aquele que está a fechar mais rapidamente o plantel, com aquisições cirúrgicas e de inquestionável qualidade. De um ano para o outro perde apenas um titular - Grimaldo (Enzo já tinha saído em janeiro). Consegue manter todo o plantel e reforçá-lo com Kokçu, jovem de 22 anos que foi o melhor jogador do campeonato dos Países Baixos, e Di María, que tem uma qualidade inquestionável e que, se estiver em boas condições físicas, será sem dúvida uma grande mais-valia para o Benfica e para o campeonato nacional.
Desportivamente o trabalho está a ser bem feito porque financeiramente existe margem para arriscar. A estrutura encarnada tem a perfeita noção de que vencendo o campeonato este ano não só conseguirá reforçar a sua solidez financeira, que é indispensável para que o projeto desportivo se continue a desenvolver com sucesso, como ganhará uma enorme vantagem sobre os rivais diretos. O risco existe em todas as decisões que são tomadas. No caso do Benfica, o investimento que se está a fazer em aquisições é inferior ao do último ano, sendo que o plantel é mais forte e competitivo. Contudo, o orçamento está claramente a aumentar e é aqui que reside o grande risco: se o Benfica não conseguir vencer o campeonato ou mesmo ficar em segundo lugar, que dá acesso à terceira eliminatória da Champions League, as receitas cairão a pique e o Benfica terá de dar vários passos atrás.
A estrutura do Benfica sabe que ao correr este risco (aumento acentuado dos custos com pessoal) a probabilidade de ter sucesso desportivo aumenta, mas não é garantido. Contudo, será fundamental que os responsáveis benfiquistas saibam o que irão fazer se o rendimento desportivo não corresponder ao pretendido. A isto chama-se preparar o futuro no presente, com os pés no chão e de uma forma estruturada.
FC PORTO — A LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO
Aequipa azul e branca apresenta uma situação financeira muito débil, que é consequência de uma má gestão dos recursos, ao longo dos últimos anos. A época de 2022/2023 acabou por ser mais um ano negativo para as contas do FC Porto. Porque é que isto é importante? Porque a difícil situação financeira do clube acaba por afetar o planeamento e preparação da nova época. Com Sérgio Conceição ao leme, ninguém tem dúvidas de que o FC Porto será uma equipa competitiva. Não tendo margem financeira, a estratégia passará por reforçar a equipa com jogadores low cost e que conheçam o nosso campeonato. A aquisição de Fran Navarro é, sem dúvida alguma, um bom exemplo.
A procura de reforços no mercado interno foi uma estratégia que teve muito bons resultados no início do século com José Mourinho. Não tendo margem financeira para poder gerir, este ano, torna-se ainda mais crucial para o universo azul e branco. Vencer o campeonato ou, no limite, ficar em segundo é uma questão fundamental para o FC Porto. Porquê? Porque o FC Porto está, neste momento, em falência técnica, ou seja, tem capitais próprios muito negativos (aproximadamente €200 M). A ausência da Liga dos Campeões fará com que as receitas caiam de uma forma muito acentuada e, por isso, o orçamento terá, necessariamente, de ser reduzido de forma drástica. Desta forma, a presença na Champions é uma questão de sobrevivência para a administração portista que, assim, conseguirá continuar a empurrar o problema com a barriga.
A pressão sobre o sucesso desportivo é enorme, num ano em que não existe muita margem de investimento. O que não deixa de ser interessante é que aqueles que são responsáveis pela atual situação financeira do clube tiveram no primeiro semestre uma remuneração/compensação de €2.966.73M, o que corresponde a um aumento de 157%, face ao mesmo período no ano anterior. Não deixa também de ser interessante que, no 1.º semestre, as despesas de representação da SAD do Porto foram de €622.032. Isto equivale a um crescimento de 79,6% face ao mesmo período no ano anterior e a um gasto de mais de 100.000€ por mês, numa administração que recebeu aproximadamente 3 milhões de euros de remuneração!
SPORTING — RECUPERAR O CAMINHO PERDIDO
APÓS uma época muito negativa, e que culminou num quarto lugar, o Sporting tem a oportunidade de corrigir os erros que foram cometidos. Financeiramente, a SAD verde e branca está, neste momento, mais estável. Sem acesso aos milhões da Liga milionária, a realidade é que o ano fiscal do Sporting, para a nova época, está concretizado, já que foram feitas as vendas de Ugarte e Porro. Apesar de estável financeiramente, a margem para investimento continua a ser reduzida e é importante que os alvos façam a diferença. No jogo a jogo o Sporting é uma equipa competente e capaz. Para voltar a fazer uma boa temporada, numa prova de regularidade, terá de ter maior equilíbrio e competitividade no plantel. A aquisição de Gyokeres (avançado), um lateral-direito e mais do que um médio, serão fundamentais para o Sporting poder ter a ambição de voltar a encontrar o caminho perdido no último ano. A estrutura leonina tem noção da importância da nova época e do retorno que pode obter se conseguir vencer o campeonato ou ficar em segundo lugar, e lutar pela fase de grupos da prova milionária. O risco de ficar, novamente, de fora dos lugares de acesso à Liga dos Campeões poderá fazer com que o Sporting perca, irremediavelmente, o comboio da frente da liga portuguesa.
BRAGA — A OPORTUNIDADE
OSC Braga sendo um outsider, percebe a oportunidade que tem, esta época, para dar um salto qualitativo. Se conseguir melhorar a classificação do último ano, ou seja, ficar em primeiro ou segundo lugar, dará um enorme passo de aproximação aos três grandes, ficando muito bem posicionado para poder ter ambições diferentes no futebol português. Depois de já conseguir efetuar vendas de €30 M, de não ter necessidade de vender alguns dos seus melhores jogadores e de conseguir comprar atletas por valores mais elevados, a oportunidade de dar o salto desportivo poderá estar à porta num ano de enorme pressão para os três grandes.
A VALORIZAR
Di Maria. Di María tinha propostas bem mais tentadoras em termos financeiros do que o Benfica. Ter escolhido o clube da Luz e a liga portuguesa, num momento em que ainda é titular da seleção campeã do mundo, merece elogios. A forma como foi recebido também correu mundo e deve ser um bom cartão de visita, não só, para o Benfica como para a promoção da nossa liga no exterior.
A DESVALORIZAR
FC Porto. A história não se apaga. Ninguém está acima das instituições. Por muitas desavenças que possam existir entre Pinto da Costa e André Villas-Boas, o reconhecimento das conquistas internacionais do clube deverá estar sempre presente. Tal não aconteceu quando o FC Porto destacou nas redes sociais as conquistas externas do clube, mas ocultou a Liga Europa, alcançada em 2010/2011, com Villas-Boas no comando dos azuis e brancos.