O PSG mudou o seu paradigma de recrutamento
O PSG mudou o seu paradigma de recrutamento (Foto: Imago)

Cultura organizacional

'O lado invisível' é o espaço de opinião quinzenal de Rui Lança, diretor executivo de outros desportos do Al Ittihad, da Arábia Saudita

Por vezes, olhamos para o tema da cultura organizacional como um daqueles conceitos pesados, cheios de chavões e, na prática, pouco aplicáveis ao dia a dia. Mas nada podia estar mais longe da verdade. Ao longo dos anos, há clubes que têm demonstrado exatamente o contrário: uma cultura organizacional forte, coerente e percetível até para quem está de fora, e que contribui de forma decisiva para uma robustez estrutural e que nos aproxima do sucesso.

Um dos exemplos mais emblemáticos foi, durante muito tempo, o Bayern de Munique. Mais recentemente, o PSG tem mostrado como é possível transformar uma cultura interna em poucos anos e — coincidência ou não — com reflexo nos resultados. Mas, para isso, é preciso coragem, visão e uma estratégia. Uma estratégia que, talvez, nem tenha de ser complexa, mas sim exequível, assente em pilares claros, com valor acrescentado, mensuráveis e, sobretudo, alinhados com o propósito e a cultura do clube. E este provavelmente era vencer, mas mudou a forma como o quis atingir.

O PSG mudou o seu paradigma de recrutamento. É verdade que os jogadores continuam a ter um elevado valor de mercado, mas deixaram de ser as estrelas. São atletas que, pelo menos em campo, onde os podemos observar, demonstram ter como principal objetivo o sucesso coletivo. Desde o jogador mais valioso vindo do Nápoles, aos jovens talentos, passando pelo capitão que viu nesta mudança um caminho mais perto rumo ao sucesso. Ao contrário de anos anteriores, e de outros clubes, não se assistiu a uma simples injeção de dinheiro para mascarar a ausência de vitórias, mas sim a uma mudança sustentada.

No alto rendimento, um dos maiores desafios é manter a coerência com aquilo em que se acredita: a estratégia, o propósito, a cultura que se quer implementar. Especialmente quando se perde. A tentação é reagir, em vez de reajustar. É gerir de fora para dentro, e não o contrário. É abandonar o processo, em vez de confiar nele. E isto aplica-se tanto a clubes grandes, como a médios ou pequenos, com orçamentos maiores ou menores. A verdadeira questão está na coerência e convicção num projeto que não vacila a cada derrota. Isso não é fácil, mas se todos reagirem de igual forma, não há nada que diferencie quem está dentro dos clubes e os que estão do lado de fora.