Clássico como este nunca vi

FC Porto e Sporting defrontam-se hoje no Dragão e não tenho memória de uma perceção tão generalizada sobre o favoritismo dos leões (ainda que Rui Borges não o queira nem possa assumir veementemente). Os dragões sentem-se afastados do título, não só pela diferença pontual, mas porque o mercado de inverno o confirmou: as saídas de Galeno e Nico e as entradas discretas de jovens alegadamente promissores colocaram um ponto final nas expectativas desportivas para esta época.

Não é, contudo, a primeira vez nos últimos anos que o FC Porto se sente inferior a um dos rivais antes de entrar em campo, seja em resultados acumulados, qualidade das exibições ou do plantel. A maior diferença, creio, está precisamente na reação que sempre se esperou dos azuis e brancos nestes momentos (e especialmente com Sérgio Conceição ao leme nesse período). É que, nesta altura do campeonato, até o presidente André Villas-Boas já assumiu que a equipa não tem assumido os pilares do tão badalado ADN portista - e também daí a aposta em Martín Anselmi, que até agora tem parecido, na atitude e no discurso, dragão desde pequenino.

A atravessar uma crise de identidade ao fim de décadas a falar a uma só voz, o FC Porto recebe o Sporting sem a garantia de que jogadores com menos qualidade, uma equipa sem confiança e um treinador de risco vão juntar-se, suar a camisola e lutar pela honra. Já Conceição dizia que não se ganham títulos a longo prazo só com raça (e eu concordo!), mas suponho que hoje ela desse muito jeito...

É por isso curioso que a pressão esteja do lado azul e branco. Os leões também já passaram por quase tudo esta época, mas recuperaram nas últimas semanas o estatuto de favoritos ao título (com uma enorme ajuda dos rivais). Rui Borges já teve as provas mais exigentes: arrancou com uma vitória frente ao Benfica para a Liga e afastou o FC Porto da Taça da Liga, antes de perder na final, nos penáltis, novamente frente aos encarnados. Se ganhar no Dragão, o Sporting manterá as boas sensações, mas, mesmo que perca, as expectativas serão as mesmas: o bi. No entanto, do lado portista, e mesmo sem crença nos troféus ainda em disputa (Liga e Liga Europa), só a vitória manterá o FC Porto vivo. As restantes opções - mais prováveis - não só podem significar o perigoso adeus à Liga dos Campeões do próximo ano (e atenção ao SC Braga...), como podem confirmar o que os portistas mais temem: quase tudo falhou este ano e ninguém vai acabar a festejar nos Aliados com o Relatório & Contas na mão.