Benfica em Newcastle: o vermelho a destoar do cinzento

NEWCASTLE — Ainda à sombra de St. James’ Park, que é como quem diz a uns cinco minutos a pé, o vermelho de montra com chapéus e cachecóis do Benfica, com réplica do Estádio da Luz em 3D, com camisola retro e uma bola dos encarnados, destoa do cinzentismo da luz de outono e de casas cujos tijolos já foram mais laranjas.

Na loja Back Page encontra-se tudo, sobretudo, do Newcastle, objetos ou bibliografia, mas também de outros clubes, ingleses ou estrangeiros, e encontra-se Gary Oliver, 54 anos, um geordie com orgulho, como são todos os que cresceram à beira do rio Tyne, aqui por Newcastle.

Sabe muito de futebol e alguma coisa saberá de negócio para fazer montra que possa atrair, para lá de ingleses, os mais de 2500 adeptos do Benfica que estão a chegar e que já se vão vendo pela cidade. Gary é, claro, do Newcastle United e, sem qualquer pergunta, começa logo a disparar, como um dos melhores pundits (comentadores) da TV inglesa.

«É um jogo muito importante para nós. Perdemos com o Barcelona [1-2 em St. James' Park] e conseguimos uma boa vitória com o St. Gilloise [4-0 na Bélgica]. Mas não será fácil vencer o Benfica. Perdemos da última vez que jogámos com eles», começa por dizer, referindo-se aos quartos de final da Taça UEFA (1-3 na Luz, 1-1 em Inglaterra), na época 2012/2013.

«O Benfica tem pedigree europeu, é um clube de nível internacional e José Mourinho dá a este jogo um ingrediente especial, pela relação que tinha com Bobby Robson. Sempre foi simpático e respeituoso para os adeptos do Newcastle e para o clube. Todos reconhecem isso», assinala.

Martin Hendersen, ao lado, também funcionário, mete-se na conversa quando ouve falar do Benfica. «O primeiro jogo a que o meu pai me levou foi para ver o Benfica em St. James’ Park, em 1971, num particular de pré-época. Estava lá o Eusébio», dispara, para depois mostrar, com orgulho, uma foto no telemóvel com o programa do jogo e foto do Pantera Negra.

Oliver prossegue a conversa, recorda Hélder Cristóvão — «marcou ao Sunderland e não precisa de pagar um copo em Newcastle» — e Hugo Viana — «agora está no Manchester City». E também a conquista da Taça das Cidades com Feiras de 1968/1969. «Eliminámos o Sporting e o V. Setúbal», atira, vaidoso. Mas o Newcastle não ganhou assim tantos troféus. Quebrou um jejum de 70 anos com a vitória da Taça da Liga. «Imagine isso acontecer com Benfica, Sporting ou FC Porto», pediu. E é realmente difícil de imaginar.