Análise de Nuno Félix na Bola da Noite ao triunfo do Benfica sobre o FC Porto por 4-1

Benfica: como Lage faz crescer o melhor Di María

Gestão, estratégia, muito talento e o extremo argentino cada vez mais comprometido com a equipa

Ángel Di María foi fundamental na vitória de quarta-feira no Mónaco, por 3-2, na 5.ª jornada da fase de liga da Champions. Do pé esquerdo do astro argentino, de 36 anos, saíram assistências para o segundo e terceiro golos do Benfica, que confirmaram a vitória frente aos monegascos e sublinham o extraordinário momento do argentino.

Nos últimos três jogos, Di María marcou dois golos na vitória por 4-1 frente ao FC Porto, no campeonato, marcou três golos e fez uma assistência nos 7-0 ao Estrela da Amadora, na Taça de Portugal, e assistiu, então, duas vezes no 3-2 do Mónaco. Esta época, o extremo soma oito golos e cinco assistências em 16 jogos, 12 na condição de titular. É rei das assistências no plantel dos encarnados, em igualdade com o médio norueguês Fredrik Aursnes, e tem apenas menos um golo que o melhor marcador, o extremo turco Akturkoglu.

A qualidade do futebol não é surpresa no campeão do mundo pela Argentina, mas há detalhes que têm contribuído para potenciar o rendimento dele.

Em primeiro lugar, o facto de ter colocado ponto final na carreira pela seleção deixa o jogador mais disponível para o clube. Poupa-se ao desgaste nas pausas FIFA e esses momentos são aproveitados pelo treinador para realizar treino extra. Por outro lado, embora Roger Schmidt, o anterior treinador, também o tivesse feito no primeiro terço da época passada, e no início desta, com Bruno Lage a utilização de Di María tem sido claramente menos exaustiva. É o 10.º mais utilizado do plantel, mas, desde que Lage chegou, em setembro, o atacante foi 12 vezes titular mas em nenhum jogo atuou até final. É substituído normalmente entre os 70/80 minutos, à exceção do jogo com o Mónaco, no qual saiu aos 90' para Rollheiser jogar a compensação.

«Metemos o Di María no congelador para estar fresquinho contra o Mónaco (...) O que eu quero do Di María é que ele esteja sempre assim: fresquinho, soltinho e a criar a dinâmica que temos criado. Tem sido fantástico trabalhar com ele. Aquilo que eu quero é que ele se apresente na plenitude da sua capacidade, da sua competência e com a dinâmica que traz ao nosso corredor direito», foram palavras de Bruno Lage que ilustram bem não apenas a importância do jogador, assim como a atenção que lhe é dedicada nos treinos e dirigida nos jogos.

A ESTRATÉGIA

No que diz respeito à forma como o Benfica tem jogado desde que mudou de treinador, esse é ponto que também tem, verifica-se nas exibições, beneficiado o argentino e o equilíbrio da equipa. Quando Lage assumiu o comando ainda tinha Aursnes a regressar de lesão muscular. Questionado sobre onde iria colocar a jogar o versátil médio norueguês, o treinador respondeu que «tinha um plano». O plano, percebe-se melhor agora, é ter Aursnes a equilibrar o corredor direito, pressionando a saída de bola do adversário e fechando espaços, funcionando, quase, como um guarda-costas para a criatividade de Di María ganhar asas.

O plano tem resultado e temos visto em campo o melhor Di María, com passes deliciosos e golos planetários, de primeira e até de bicicleta, que passam para segundo plano a idade dele. Temos visto, também, Di María cada vez mais comprometido — desde o festejo em que abraça os adeptos à forma como, por exemplo, vibrou no banco durante o período de compensação do jogo no Mónaco e depois festejou no relvado. Di María termina contrato com o Benfica no verão e tentar que fique parece cada vez mais a jogada sensata.