Gyokeres e Rui Borges seguem caminhos separados (foto Miguel Nunes)

Afinal, Gyokeres só atrapalhava Rui Borges

Sueco acabou por 'amarrar' Rui Borges ao 3x4x3 que o treinador do Sporting nunca desejou. Saída do atacante 'libertou' o leão — que, sublinhe-se, só perdeu um jogador

Haverá poucos reforços mais decisivos em equipas campeãs do que... a manutenção da estrutura que lhes permitiu as conquistas. Tem sido este o segredo do Sporting nos últimos anos: pode perder, aqui e ali, um elemento, sim, mas, no mesmo plano, tem conseguido, com precisão cirúrgica, substituí-lo ou, noutros casos, reforçar mesmo a equipa com esta ou aquela contratação.

Foi o que aconteceu quando o trio Amorim/Viana/Varandas conseguiu, por exemplo, contratar em 2023 um então pouco conhecido Viktor Gyokeres, que, ao longo dos meses, foi acrescentando cada vez mais qualidade e sobretudo capacidade goleadora a um conjunto que já a tinha, embora em doses mais moderadas e por via de elementos como Pedro Gonçalves ou Paulinho.

Até que, a meio da última época, Amorim saiu e a casa quase veio abaixo. Mas não caiu e acabou mesmo o Sporting por sagrar-se bicampeão com Rui Borges, técnico que cedeu às suas ideias de jogo, percebendo que, na altura, o melhor era manter o 3x4x3 (ao invés do seu 4x2x3x1, bastante maleável e que em construção se transforma muitas vezes no tal 3x4x3).

O início de 2025/26 não correu bem, com derrota na Supertaça diante do eterno rival Benfica (esse sim, a mudar muitas peças em relação a 2024/25). Mas Rui Borges não cedeu às críticas e súplicas dos adeptos. Ao invés, manteve-se inflexível na ideia e foi com ela que avançou para o arranque da Liga, frente ao Casa Pia. E o que se viu foi... uma equipa em todo o seu esplendor, alegre e a divertir-se, com competência, em campo. Desta vez, não houve lutos, como aconteceu quando Amorim partiu.

A saída de Gyokeres, à luz do que se viu esta sexta-feira em Rio Maior, não deixou marcas no plantel, antes pelo contrário. O que se viu foi um Sporting livre das amarras de uma alegada Gyodependência, a deslumbrar e a mostrar que o futebol é um jogo coletivo, aqui e ali pincelado pela arte individual. E, a esse nível, os leões só perderam um jogador, uma única peça. Obviamente, não era um jogador qualquer: Gyokeres foi, unanimemente, considerado o melhor jogador da Liga nos últimos dois anos e isso não é algo que se deixe fora das equações; mas era só um jogador.

Que já se sentia a mais, que queria mais e que teve mais, saíndo para o desejado Arsenal e rendendo muitos milhões ao Sporting. Isto ao mesmo tempo que o leão mantém praticamente todos os que contribuíram para os dois títulos consecutivos, como Hjulmand, Trincão, Pote, Quenda, Geny, Inácio, e, com eles, mantêm-se as dinâmicas — surgem, aliás, curiosamente melhoradas com a saída de Gyokeres.

P. S.: Agora sem ironias, Gyokeres marcou este sábado (e de cabeça!) o primeiro dos muitos golos que fará com a camisola do Arsenal. Por cá, deixará saudades.

Poderá também interessar-lhe (vídeo):