Benfica de Lage soma cinco jogos sem golos sofridos (foto: IMAGO)
Benfica de Lage soma cinco jogos sem golos sofridos (foto: IMAGO)

A marca no copo de Lage

Benfica sabe bem como anular os pontos fortes dos adversários, e voltou a mostrá-lo frente ao Fenerbahçe de José Mourinho, mas uma equipa com a sua dimensão precisa de identidade própria

Empatar a primeira mão em Istambul não deixa de ser um resultado positivo para o Benfica, ainda para mais tendo em conta a expulsão de Florentino Luís, a 20 minutos do fim, mas a exibição frente ao Fenerbahçe de José Mourinho alimenta o debate do copo meio cheio ou meio vazio.

Mais do que a imagem final, a de um Benfica compreensivelmente conformado com o empate, em desvantagem numérica num ambiente difícil, o debate remete sobretudo para a abordagem inicial da equipa encarnada.

Lage reagiu bem à expulsão, de resto, ao reforçar a zona central com Leandro Barreiro, e também com Aursnes, apostando em Tiago Gouveia para fechar o lado direito e espreitar algumas arrancadas pelo corredor.

Mas o ponto de partida do Benfica em Istambul já era razoavelmente conservador. Não só pela aposta simultânea em Florentino, Enzo Barrenechea, Ríos e Aursnes, mas sobretudo pela mensagem que foi transmitida à equipa, a avaliar pela postura expectante.

Uma perspetiva vincadamente pragmática, que até pode ser entendida no contexto de um play-off da Liga dos Campeões, mas que, verdade seja dita, é recorrente no Benfica de Lage.

O resultado foi melhor do que a exibição, uma vez mais. É justo reconhecer que esses resultados têm justificado a abordagem de Lage — cinco jogos oficiais sem derrotas, zero golos sofridos e a Supertaça conquistada —, mas é bem ténue a tal diferença entre o copo meio cheio e o copo meio vazio.

O mais provável é que o Benfica venha a eliminar o Fenerbahçe na Luz, e até já vimos a águia brilhar na Europa com estratégia idêntica, mas com o tempo isso acabou (quase sempre) por revelar-se curto para a exigência interna.

No duelo com o conterrâneo José Mourinho, Bruno Lage voltou a mostrar que a sua maior virtude é esconder os pontos fortes dos adversários, mas isso não pode ser elogio suficiente no contexto em que está.

É verdade que faltam jogadores capazes de dar personalidade a este Benfica, sobretudo do ponto de vista ofensivo, mas Lage não só nega essa evidência nas conversas com os jornalistas, como ainda prescinde parcialmente da irreverência que tem à disposição.

Há muito mérito na forma como o Benfica de Lage consegue adaptar-se aos desafios impostos por cada adversário, mas no copo do treinador encarnado não podem estar só impressões de outros.

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