A magia do fim de semana às cores
Ofim de semana é uma das instituições mais respeitadas pelos portugueses. Não se pode dizer que isso constitua um elogio para as de mais instituições nacionais, quase sempre demasiado burocráticas e solenes. Ora o fim de semana é desejado desde segunda-feira. Durante a semana, os dias não se contam a somar, tipo, terça, quarta, quinta, sexta, mas a diminuir, Faltam X dias para sábado. Muitas vezes é uma desilusão. Há tempo a mais para as ideias e isto porque os portugueses, de um modo geral não só se habituaram a que os outros pensem por eles, como se desabituaram da temível aventura de fazerem algo de diferente. Muitos perguntarão no recato da sua intimidade: caramba, há quanto tempo não vou a um cinema? E há quantas décadas não vou a um teatro? As respostas são convenientes. As salas, de hoje, têm aquele insuportável roído de fundo de dezenas de ruminantes a mastigarem pipocas e há, no ar, aquele cheiro a caramelo torrado que enjoa no meio do filme romântico ou do thriller policial. Quanto ao teatro, de tão pouco público que vai havendo, embora fiel e interessado, resvalou, demasiadas vezes, para um vanguardismo supostamente intelectual e distancia-se da compreensão popular que, em número particularmente significativo, se mantém ao nível da complexidade do Pátio das Cantigas e do saudoso Aniki-Bóbó, apesar de tudo, mais elaborados, pese a lonjura dos tempos, do que o Sozinho em Casa ou a Velocidade Furiosa.
E museus? - há quanto tempo, meu Deus? E exposições? O mais parecido a que muitos terão ido é à feira do cavalo na Golegã, do fumeiro em Vinhais ou à alentejana Ovibeja. Enfim, qualquer coisa que meta tendinhas, vendas populares e, acima de tudo, gastronomia, que é onde o português bebe mais e melhor a sua sede de cultura.
Festa do campeonato está de volta
Em todas estas coisas foi o português pensando durante os longos e intermináveis quinze dias em que estivemos sem campeonato e, por isso, sem razão para discutir na vida pública o que verdadeiramente se conhece, cumprindo assim, a sua regular participação cívica, a par de umas quantas figurinhas que, à noite, nas televisões tornam o assunto futebol num género de física quântica de complexidade inacessível ao comum dos mortais.
Felizmente, para sossego das almas inquietas, o futebol regressa esta fim de semana. Digo o futebol, porque o jogo que jogam as seleções também é futebol, mas de uma outra espécie, mais sensata, mais repousante, um género de ioga com bola, que nos deixa numa satisfação monótona, de tão consensual e pacífica.
O outro futebol, o que desperta paixões, o que nos leva à bendita inquietação de vidas sem gostos e sem gastos, que os preços estão pela hora da morte, é que está de regresso com as suas camisolas coloridas e estrangeiros acabados de chegar e que já beijam apaixonadamente os símbolos do nosso clube, numa manifestação, essa sim, sentida de inclusão social dos movimentos migrantes.
E, assim, neste fim de semana, tudo volta à normalidade da vida. Tudo se passa em redor do jogo e das suas circunstâncias. A que horas janto, se o jogo é ao fim da tarde? A que horas me deito se o jogo acaba quase ao fim da noite? Que contas poderei eu fazer na soma geral dos pontos? E não é isto, só por si, uma clara manifestação de participação cultural e de apreço pelas matemáticas?
Dirão os críticos que o futebol é o eucalipto que mata tudo em volta e que condiciona a vida de muitos portugueses a uma banalidade preocupante. Há alguma verdade nisso, mas quem se inquieta verdadeiramente em entender as razões sociais e económicas?
DENTRO DA ÁREA – UM PORTUGUÊS NO ‘TOP’ EUROPEU
Diogo Ribeiro, 18 anos, tricampeão mundial júnior de natação, bateu o recorde nacional dos 100 metros livres com 47,98 e qualificou-se para nadar a distância nos Jogos Olímpicos de Paris, depois de já ter conseguido marca de qualificação nos 50 m livres e de estar à beira de o fazer em mariposa. O facto de ter entrado no segundo 47 é notável, tanto mais que lhe deu acesso ao top europeu. Ainda assim, algo longe do novo fenómeno, o romeno David Popovic que em agosto, aos 17 anos, bateu o recorde do mundo, com 46,86.
FORA DA ÁREA – POLÍTICOS E POVO - QUE QUALIDADE?
Há sempre uma relação muito estreita entre a qualidade dos políticos e a qualidade do povo que os escolhe como seus representantes. Essa relação mantém-se estável, mas a qualidade diminui a olhos vistos. É uma preocupação séria para o futuro de Portugal. Não tanto uma questão de interesse direto e pessoal, que já não tenho idade para esses egoísmos, mas uma questão de interesse nacional. Tal como na vida pública, não se escolhem nem se protegem os melhores, mas os que mais nos sabem enganar. E o pior é que gostamos.