A hora da verdade: quem está em vantagem?
Os clubes portugueses, sobretudo aqueles que continuam presentes em todas as provas, aproximam-se de um período verdadeiramente infernal. As próximas semanas serão intensas, desgastantes e potencialmente decisivas para o rumo da época. A grande questão é simples: quem chega mais preparado para enfrentar o que aí vem?
FC Porto: o calendário mais favorável
Entre os três grandes, o FC Porto é quem tem maior margem de manobra. A vantagem confortável na Liga permite-lhe gerir com mais tranquilidade, e o calendário, pelo menos no papel, é mais acessível do que o dos rivais. Até ao final de dezembro, o FC Porto joga mais vezes no Dragão, um fator que tende a pesar nesta fase em que o desgaste físico começa a acumular-se.
Em janeiro, o FC Porto também terá menos jogos, consequência da eliminação precoce da Taça da Liga — um revés que, num contexto de sobrecarga, pode agora transformar-se numa vantagem competitiva. Além disso, competindo na Liga Europa, encontrará adversários teoricamente menos exigentes do que aqueles que Benfica e Sporting enfrentarão na Liga dos Campeões, onde o nível de intensidade e dificuldade é substancialmente superior.
Benfica e Sporting: semanas decisivas e adversários de peso
O Benfica enfrenta um ciclo particularmente duro. Até ao final de dezembro joga fora com o Moreirense, recebe o Famalicão, desloca-se a Braga, e pelo meio tem uma ida ao Algarve para jogar com o Farense uma eliminatória da Taça de Portugal. Em janeiro terá ainda a Final Four da Taça da Liga, onde encontrará o SC Braga nas meias-finais e, em caso de apuramento, Sporting ou Vitória na final. Logo depois, caso ultrapasse o Farense na Taça de Portugal, terá um jogo a eliminar no Dragão ou em Famalicão. No plano europeu, o desafio aumenta exponencialmente: deslocação à Juventus e receção ao Real Madrid, dois jogos que exigem o máximo dos jogadores em termos físicos, mentais e competitivos.
O Sporting vive uma realidade semelhante. Até ao fim do mês, terá deslocações muito difíceis: Santa Clara para a Taça de Portugal e Vitória SC para o campeonato. Janeiro trará a Taça da Liga e a pressão da Liga dos Campeões, com duelos de grande risco competitivo frente ao PSG e a ida a Bilbau. É um calendário que exige profundidade, experiência e qualidade na gestão de momentos de fadiga.
O momento conta
O futebol vive do momento, e quando o calendário não dá tempo para trabalhar, a capacidade de resposta imediata torna-se decisiva. Há três variáveis fundamentais a ter em conta.
A primeira são os resultados: vitórias trazem confiança, tranquilidade e reduzem a pressão. Uma equipa que entra num ciclo positivo tende a tornar-se mais forte, mesmo quando o desgaste aumenta.
A segunda são as exibições: ganhar é importante, mas convencer é determinante. As exibições validam o trabalho do treinador. Bruno Lage é o melhor exemplo: apesar de vencer com frequência, nunca apresentou consistência exibicional suficiente e acabou despedido. Bastaram um empate e uma derrota para precipitar a sua saída, simplesmente porque não se via evolução no jogo praticado.
A terceira variável são as lesões / ausências e a profundidade do plantel: os três têm motivos de preocupação. No Benfica, Lukebakio estará de fora algumas semanas; No FC Porto, Luuk de Jong perdeu a época; no Sporting, Quenda e Pedro Gonçalves são as mais recentes baixas de peso, para não falar das ausências de Diomande e Catamo que irão representar as suas seleções no CAN em janeiro.
Com o calendário cada vez mais apertado, o cenário de lesões deixa de ser exceção e passa a ser regra. A gestão do plantel será decisiva: dar oportunidades a todos, manter o grupo motivado e utilizar a formação para colmatar ausências pode ser um fator diferenciador e determinante. Uma rotatividade equilibrada garante ainda ritmo, confiança, união e capacidade de reação em momentos adversos. Por fim, a capacidade de adaptação dos treinadores é decisiva. O exemplo de Rui Borges na última época é paradigmático: manteve o sistema que encontrou, adaptou-se ao contexto, maximizou recursos e superou ausências importantes em momentos chave.
Mercado de janeiro: precisão, não revolução
O mercado de janeiro é curto, difícil e pode ser crucial. Não é uma altura para revoluções, mas sim uma oportunidade para ajustes cirúrgicos. Qualquer contratação deve reunir duas condições essenciais: adaptação imediata e impacto competitivo rápido. Os clubes portugueses não têm margem financeira para errar. A falta de um plano desportivo estruturado e conjunto tem fragilizado o país nos rankings da UEFA, e a possibilidade de manter apenas duas equipas na Liga dos Campeões é um alerta que deve condicionar (e moderar) os investimentos.
Como tal, só deverá investir quem estiver ativo nas competições europeias e com hipótese real de lutar pelo título. Mesmo esses terão de ser racionais. Para o Benfica, sobretudo pela menor margem de erro, os jogos até ao fim do mês de dezembro serão decisivos na definição da estratégia para o mercado.