José Águas e Mário Coluna com a Taça dos Campeões de 1961 (Foto: A BOLA)
José Águas e Mário Coluna com a Taça dos Campeões de 1961 (Foto: A BOLA)

25 anos sem o senhor José Águas

Estreou-se pelo Benfica em 1950, foi campeão da Europa em 1961 e 1962 e morreu há 25 anos: 10 de dezembro de 2000

José Pinto de Carvalho Santos Águas, o capitão do Benfica bicampeão europeu (1961 e 1962), morreu há exatos 25 anos:10 de dezembro de 2000. Era avançado elegante e goleador, de estilo fino e era visto como exemplo de desportivismo e dedicação. Permanece, um quarto de século depois, como símbolo de uma carreira ímpar: cinco títulos de campeão nacional, sete Taças de Portugal, duas Taças dos Campeões Europeus. O homem que levantou as duas Taças dos Campeões do Benfica.

Recuemos um pouco mais de 75 anos. A 18 de setembro de 1950, Pedro Gomes, Mascarenhas Pereira e José Águas chegavam a Lisboa, contratados pelo Benfica. «Fizemos uma ótima viagem. Nenhum de nós enjoou. Estamos prontos a começar hoje mesmo a nossa preparação. Estou encantado com tudo isto, que ainda me parece um sonho. Trago comigo a obrigação moral de não desiludir os meus amigos e os desportistas do Lobito. Procurarei vencer — por eles e por mim. Jogo futebol desde 1948, no Lusitano do Lobito. Nasci em Luanda e tenho 23 anos. Sempre fui benfiquista. Agora é trabalhar e tentar corresponder. Aproveito para, por intermédio de A BOLA, saudar toda a Família Benfiquista, especialmente os jogadores metropolitanos. Desejo ser, acima de tudo, um bom camarada», foram as palavras de José Águas, após a viagem entre Luanda e Lisboa.

«O jogo era mais áspero e muito mais rápido em relação ao que estava habituado», disse Águas sobre a estreia pelo Benfica

Cinco dias depois, frente ao Atlético, na Tapadinha, Águas estreava-se com a camisola do Benfica, treinado por Ted Smith. Houve empate a duas bolas e ainda sem golos do novo recruta. A BOLA viu assim a sua exibição: «O avançado-centro estreante, que não constituiu decepção, demonstrou a sua natural estranheza pelo ambiente e pelo próprio andamento do jogo, tanto mais que lhe coube enfrentar um adversário, rápido, rijo e sabedor.»

E Águas analisaria assim o jogo de estreia: «Nem queiram saber o que senti... Quando subi ao terreno de jogo, pareceu-me ter entrado numa autêntica “fornalha”. Depois, começado o encontro, achei logo diferença: o jogo era mais áspero e muito mais rápido em relação ao que estava habituado. E a intensa preparação a que fora submetido nos dois treinos da semana anterior influiu também no meu rendimento, que foi inferior ao que eu previa.»

«Prometedora exibição do novo avançado-centro do Benfica, que marcou quatro golos», escreveu Ribeiro dos Reis em 1950

A 1 de outubro, porém, tudo seria diferente. O Benfica recebeu, no Campo Grande, o SC Braga e goleou por 8-2, com quatro golos de Águas, aos 30’, 35’, 72’ e 88’ ao guarda-redes Cesário. A BOLA, sob a pena de Ribeiro dos Reis, um dos históricos deste jornal, titulava assim a sua exibição: «Prometedora exibição do novo avançado-centro do Benfica, que marcou quatro golos». O mais espetacular, segundo Ribeiro dos Reis, fora o último: «Centro da esquerda e remate por alto, feito com a parte lateral da cabeça, com o corpo todo no ar».

«Trata-se dum avançado-centro habilidoso, cuja melhor arma nos parece ser a sua extraordinária ‘souplesse’ de movimentos, que lhe permite saltar sem grande esforço às bolas altas e dar a bola dominada, com a cabeça ou com os pés, aos seus companheiros. Falta-lhe velocidade inicial, quando arranca para a disputa da bola, mas depois desenvolve bem a passada a caminho do objetivo. Joga com calma, serenidade e inteligência. Não deu a impressão de ser avançado-centro estático, que só arranca depois do companheiro endossar a bola. Pouco espalhafatoso, procura resolver as situações com mais calma que pressa», escrevia ainda Ribeiro dos Reis.

«Que outros desportos gosto? Natação e pingue-pongue», dizia Águas em A BOLA

Águas viu assim a estreia a marcar: «Jamais olvidarei a marcação do primeiro golo. No último golo, sim, senti ainda maior emoção, pois os aplausos pareciam não mais terminar. Foi o melhor golo da minha carreira! Que outros desportos gosto? Natação e pingue-pongue.»

Treze anos depois das estreias a jogar e a marcar pelo Benfica, José Águas tornara-se na primeira grande figura internacional do futebol português, catapultado pelas conquistas da Taça dos Campeões Europeus, algo pelo qual o Sporting de Peyroteo, por exemplo, não pôde fazer, dado que a prova estreou-se após o desmembramento dos Cinco Violinos.

Águas, entre 1950 e 1963, marcou nada menos de 319 golos em 281 jogos pelo Benfica, média superior a um por jogo. Marcava de todas as formas possíveis e imaginárias, mas foi de cabeça, sobretudo, que mais se destacou. Tal como, duas décadas depois, o seu filho Rui. Aos 33 anos, depois de sair do Benfica, jogou um ano no Áustria Viena. Apostaria ainda na carreira de treinador e, em 1967/68, foi campeão na 2.ª Divisão ao serviço do Atlético. Morreu há 25 anos, mas continua eterno em quem gosta de futebol e da vida.

BILHETE DE IDENTIDADE

Nome

José Pinto de Carvalho Santos Águas

Data de nascimento

9 de novembro de 1930

Local de nascimento

Luanda, Angola

Falecimento

10 de Dezembro de 2000

Clubes

Lusitano do Lobito (1948 a 1950), Benfica (1950 a 1963) e Áustria Viena (1963/1964)

Seleção Nacional

25     jogos, 11 golos (1952 a 1962)

Títulos

7 Campeonatos Nacionais (1954/55, 1956/57, 1959/60, 1960/61 e 1962/63)

7 Taças de Portugal: (1950/51, 1951/52, 1952/53, 1954/55, 1956/57, 1958/59 e 1961/62)

2 Taças dos Campeões Europeus (1960/61 e 1961/62)

Troféus individuais

5 vezes melhor marcador do Campeonato Nacional

1951/52 (28 golos), 1955/56 (28), 1956/57 (30), 1958/59 (26) e 1960/61 (27)

1 vez melhor marcador da Taça dos Campeões Europeus

1960/61

4 vezes melhor marcador da Taça de Portugal

1950/51, 1952/53, 1954/55 e 1957/58