2020, adeus ó vai-te embora
À hora a que começo a escrever estas linhas, os noticiários televisivos dão conta de que teve início o processo de vacinação contra o Covid-19 em Portugal. Fecho os olhos e puxo o filme um ano atrás, quando ainda ouvíamos, com leviano desinteresse, as novas que chegavam da China e davam conta de um novo vírus com potencial para se tornar pandémico. De então para cá, foi-nos dito tudo e o seu contrário, não por má fé, mas por clara impreparação par enfrentar o fenómeno que ameaçava a vida como a conhecíamos. Disseram-nos que o vírus não chegava cá, que ia perder força, que não era necessário usar máscaras, que medicamentos como o Remdesevir ou a Hidroxicloroquina iam resolver o problema, que era preciso alcançar, tão cedo quanto possível, a imunidade de grupo, e tantas outras coisas que o tempo se encarregou de diluir entre as brumas da memória. Foram muitos meses contraditórios até a poeira assentar e a comunidade científica poder clamar vitória com a vacina que promete, dentro de meia dúzia de meses, devolver-nos a algo parecido com aquilo que tínhamos em finais de dezembro de 2019.
Por cá, e no que ao Desporto diz respeito, há a lamentar os danos irresponsáveis, que perdurarão durante muitos anos, causados pela insensibilidade governativa quanto à prática desportiva
Mas não podemos passar ao lado da decisiva intervenção da FPF, em finais de abril, que desbloqueou o impasse que se verificava entre a Liga de Clubes e as autoridades de saúde, abrindo caminho ao regresso, sob tutela, das competições profissionais. Numa altura em que muitos clubes estavam a sentir uma insuportável falta de ar, de tal forma o garrote financeiro estava a apertar-se - leia-se, os operadores televisivos não estavam a dispostos a pagar se não recebessem conteúdos -, a intervenção federativa e a ação de Fernando Gomes não podem deixar de ficar registadas como o momento mais decisivo do ano. Joga-se sem público, e isso é contranatura? Mas, e embora nunca devamos esquecer que o futebol foi vítima de discriminação do Governo (que, contudo, fez questão de ficar na foto da final da Champions...) e das autoridades de saúde relativamente a outras áreas da sociedade, pelo menos tem-se jogado e prolongado a vida, enquanto se espera pelo retorno à normalidade.