Martina Navratilova é contra a regra da WTA que permite a atletas trans competir no torneio com que se identificam. IMAGO

Navratilova: «Não é por ter rabo de cavalo e unhas pintadas que é uma rapariga»

A antiga tenista, uma das primeira figuras do desporto mundial a assumir-se lésbica, reafirma que os homens trans não devem competir com as mulheres. A WTA permite que atletas trans compitam no torneio com cujo género se identificam

Martina Navratilova, vencedora de 18 títulos de Grand Slam, considera «um erro» que as mulheres transsexuais possam competir no circuito feminino de ténis professional, o WTA.

Numa entrevista à BBC, a antiga jogadora que nasceu na Chéquia e se naturalizou americana declarou que os «os corpos masculinos devem competir na categoria masculina» repetindo uma ideia que há muito defende e deixou clara, e que lhe causou vários dissabores entre alguns elementos da comunidade LGBTQI+.

A antiga tenista de 68 anos foi uma das primeiras figuras da modalidade a assumir a sua homossexualidade e, desde então, tornou-se acérrima defensora da comunidade LGBTQI+, apesar de, como a própria afirmou, as suas posições já lhe terem causado diversos problemas.

«Eles só precisam competir na categoria adequada, que é a masculina. É simples. Mas, ao incluir corpos masculinos no torneio feminino, alguém não vai ter vaga nesse torneio. Uma mulher não estará a entrar em prova porque um homem vai jogar no seu lugar», argumentou.

«Não é justo. Não é por ter rabo de cavalo e unhas pintadas que é uma rapariga», explicou. «Tomar hormonas não elimina as vantagens em altura, comprimento dos braços e força dos homens biológicos», considerou a antiga vencedora de Wimbledon que, em dois dos títulos conquistados, foi treinada por uma atleta trans, Renée Richards, provavelmente a atleta transgénero mais proeminente da história do desporto.

Nasceu homem, tornou-se médico e começou a jogar ténis profissionalmente em 1976. Antes do US Open de 1976, Richards, com 42 anos, recusou-se a fazer um teste cromossómico e processou a USTA alegando discriminação de género. No verão de 1977, o juiz Alfred Ascione, do Supremo Tribunal do Estado de Nova York, decidiu a favor de Richards, argumentando: «Esta pessoa agora é uma mulher».

Richards perdeu na primeira ronda de singulares para Virginia Wade, mas chegou à final de pares, antes de perder para Martina Navratilova e a sua parceira, Betty Stove. 

Richards treinou a superestrela lésbica Navratilova entre 1981 e 1983, período em que a checo-americana venceu Wimbledon, em 1982 e 1983, o Open da Austrália, em 1981 e 1983, Roland Garros, em 1982, e o Open dos EUA, em 1983.

«Sempre fui receptiva a todos os processos de transição, de quem decide e apoio, mas isso não lhes dá o direito de competir contra as mulheres que decidem não o fazer. E essas mulheres?! E essas raparigas?!», questionou.

O regulamento da WTA permite que as tenistas transexuais possam competir se assinarem uma declaração a revelar que são mulheres, ou não binárias, e que os seus níveis de testosterona se encontram abaixo de certos níveis há dois anos.