Início relativamente auspicioso
1— A primeira palavra só pode ser, obviamente, para Jorge Costa. O homem, o pai, o filho, o marido e também, claro, o jogador: do FC Porto e da Seleção Nacional. Um atleta exemplar, na entrega, no querer, na ambição, na superação, mais do que nas suas características inatas para jogar à bola. Foi um duríssimo adversário, do Vitória e de todos os adversários do FC Porto, mas é isso mesmo que faz com que mereça a nossa homenagem.
O que aconteceu esta semana à equipa do FC Porto não é uma coisa qualquer, não apenas a perda de um dos seus símbolos, como a circunstância em que ocorreu, no seio da equipa, algo que não é fácil de lidar.
É impossível que essa circunstância não marcasse indelevelmente esta partida. As palavras emocionadas de Diogo Costa no final do jogo são reveladoras disso mesmo. Devemos saber ter a grandeza de saber homenagear os nossos adversários, Jorge Costa foi um adversário do Vitória, ontem, segunda-feira, 12 de agosto, era dia de o homenagear, pelo que me dissocio totalmente dos que procuraram impedir que a homenagem tivesse a dignidade que merecia, e me associo ao Presidente do Vitória, que visivelmente se distanciou disso mesmo.
2 — O jogo. Uma vitória merecida do FC Porto, contra um Vitória que quis jogar olhos nos olhos com este adversário. A postura do Vitória honrou o jogo e o nosso emblema. O Vitória tem a primeira grande oportunidade da partida, logo nos primeiros momentos do jogo. E sem prejuízo da supremacia do FC Porto, a verdade é que o primeiro golo acontece num falhanço inacreditável do Vando Félix, uma saída completamente à queima, incompreensível no nível a que nos encontrámos. Vando Félix é um excelente jogador, tem muito potencial, mas é um perigo colocá-lo com responsabilidades defensivas, para que não tem nem a calma nem a preparação; um erro individual crasso que acaba por condicionar o plano de toda a restante equipa. No último golo, Charles também não esteve bem e acaba por ser muito mal batido.
Isto não retira o mérito à vitória do FC Porto, até porque os números por que ocorreu não deixam margem para qualquer dúvida, mas analisando friamente é impossível ignorar o relevo que estes dois momentos tiveram para a vitória do FC Porto e para os números por que ocorreu.
3 — O futuro. Não me esqueço que escolhi como título para o meu último texto n’ABOLA «a primeira época das nossas vidas», numa ligação à conhecida música de Sérgio Godinho.
Não me esqueço do que com isso quis dizer, relativamente à aposta que está a ser feita num total rejuvenescimento tanto do plantel como da própria equipa técnica. O resultado de ontem foi duro, mas a postura que o Vitória apresentou em campo deixa-me bastante esperançoso.
Daí o título de início relativamente auspicioso, porque o resultado não é nada auspicioso, mas a postura do Vitória em campo é, por outro lado, auspiciosa. Ouço sempre os treinadores a dizer que vão a todos os campos para tentar ganhar os jogos, mas raramente vejo essa postura em campo, tanto do ponto de vista tático como na abordagem dos jogadores.
Nesta segunda-feira, 12 de agosto, não senti nada disso. Vi um Vitória crescido, a não ter receio de se atirar para a defesa do FC Porto, a disputar verdadeiramente o jogo.
É evidente que, provavelmente, foi precisamente essa postura a responsável pelo resultado e seu desnível, talvez. Mas se isso ocorre num contexto de construção de uma equipa ofensiva, agressiva, confiante, pois então terá valido a pena.
É uma equipa em construção num jogo contra um adversário muito difícil e num contexto dificílimo, mas em que o Vitória se apresenta para disputar a partida e os pontos. Isso, gosto de ver. E, além de gostar de ver é, na minha apreciação, bastante auspicioso.