PARTE 2 - Treinador da Oliveirense conversou com A BOLA sobre a ambição na temporada, o espírito que deseja nos jogadores para lutarem contra orçamentos, dificuldades que sabe que encontrará para voltar a ter êxito naquilo que todos têm falhado: ganhar ao Benfica na Luz, o que mudou esta época no conjunto de Oliveira de Azeméis, as rivalidades nos dérbis regionais, sobretudo da Ovarense para com a a formação de Oliveira de Azeméis, a falta de cultura desportiva no País e o êxito da Seleção.
— Além das passagens pelo Benfica, FC Porto, Lusitânia e Portugal Telecom, fez a carreira quase toda como jogador no Beira-Mar, Illiabum, Ginásio Figueirense e Aveiro Basket. Clubes de uma região que tem uma grande paixão pelo basquetebol. Ainda sente a rivalidade nos derbies?
— Desde que sou miúdo que se sentia muito algumas rivalidades. E ainda se sentem. No meu caso, sempre me pus um pouco à parte disso. É um aspecto que não ligo. Mas, por exemplo, a Oliveirense-Ovarense é um dérbi com muita carga profissional. Não noto tanto isso nos adeptos do Oliveirense, mais nos da Ovarense. Na cultura vareira, encaram esse jogo como uma final de campeonato. Aliás, o ex-capitão dessa equipa, no ano passado, numa entrevista à FPB-TV, basicamente disse que o jogo mais importante era contra a Oliveirense.
É verdade, nesta região vive-se alguns dérbis emocionalmente de forma diferente. Eu é que nunca liguei muito, mas noto, muitas vezes, que quando vamos a Ovar existe uma diferença do comportamento dos jogadores no campo. É cultural.
Respondendo à questão, é verdade, nesta região vive-se alguns dérbis emocionalmente de forma diferente. Eu é que nunca liguei muito, mas noto, muitas vezes, que quando vamos a Ovar existe uma diferença do comportamento dos jogadores no campo. É cultural.
Em Oliveira de Azeméis não sinto tanto, nem dos adeptos. Não é do nosso perfil, pelo menos enquanto lá sou treinador. E já antes acho que não se notava tanto.
— Qual é o pavilhão, que não o da Oliveirense, que lhe dá mais gosto de ir lá jogar?
— Gosto muito do Dragão Caixa, está muito bem conseguido. É confortável e bonito. É o que mais aprecio ir como adversário
— E qual acha que tem melhores condições, desde balneários, locais para o público… O que gostaria que fosse o modelo para os recintos do campeonato?
— O da Luz, que é mais antigo e o projeto é completamente diferente. A estrutura surgiu no Euro 2004 e é mais do que um pavilhão. O Dragão Caixa é uma obra à parte. Esses dois são modelos daquilo que deveriam ser outras estruturas.
Somos um dos piores países da Europa em termos daquilo que é a cultura desportiva e a missão coletiva dos clubes, das associações e federações nas diversas áreas de negócio, sejam elas de carinho social ou não. Portanto, somos um povo com zero de cultura desportiva
— Corre o rumor que a NBA poderá criar um campeonato na Europa e fazer concorrência à EuroLiga porque considera que há muito para crescer no continente de forma que seja rentável ao nível do negócio. Acha que em Portugal também há muito para crescer?
— Em Portugal há muito para crescer. Somos um dos piores países da Europa em termos daquilo que é a cultura desportiva e a missão coletiva dos clubes, das associações e federações nas diversas áreas de negócio, sejam elas de carinho social ou não. Portanto, somos um povo com zero de cultura desportiva e não podemos apontar só os dedos aos dirigentes, jornalistas ou aos próprios treinadores que, muitas vezes, têm pouco sentido coletivo - característica do povo português - daquilo que são os contributos que podemos dar à modalidade.
Nem sequer temos consciência, a parte da consciencialização, para que serve uma competição. Ela serve para quê? Qual é o propósito de haver a Liga Betclic? Já refletimos sobre ela, os prós e contras? O que é que queremos daqui a cinco anos? Onde é que queremos que os jogadores portugueses estejam? O que é que a competição faz?
É preferível ser o maior da minha aldeia do que ser o segundo dos melhores do mundo. Esta é um bocado a cultura que temos em Portugal. E não só no desporto, infelizmente. Temos pouco sentido coletivo operacional.
É giro porque não temos nenhuma reflexão, ou poucas, acerca daquilo que é a competição. E nós, treinadores, muitas vezes também damos poucos contributos porque estamos preocupados em ganhar a cultura desportiva que temos: o campeonato dos três grandes. O mais importante é ser campeão nacional, não é disputar competições europeias, não é dimensionar o jogador português para as Seleções. Não é nada disso. É ganhar o campeonato dos três grandes e ser o maior da minha aldeia. Se o for está tudo espetacular.
É preferível ser o maior da minha aldeia do que ser o segundo dos melhores do mundo. Esta é um bocado a cultura que temos em Portugal. E não só no desporto, infelizmente. Temos pouco sentido coletivo operacional.
Também era importante as pessoas refletirem o que é que nos levou a competir outra vez, para lá das capacidades de quem gera seleções nacionais. Além disso, existem mais fatores que, se calhar, nos levaram outra vez a competir.
— Referiu o basquetebolista português, viu os dois jogos de Portugal contra a Eslovénia? O que é que achou?
— Não tenho opinião diferente da maioria das pessoas. Obviamente que a diferença de talento é enorme, mas isto de sermos os coitadinhos, lá está, a mentalidade portuguesa: que não conseguimos, não temos dinheiro, somos fracos e que não somos grandes, não temos poste, mas depois quando temos não há bases… É preferível ser o maior da minha aldeia do que ser o segundo dos melhores do mundo. Esta é um bocado a cultura que temos em Portugal. E não só no desporto, infelizmente. Temos pouco sentido coletivo operacional., como já o fizemos no passado.
Também era importante as pessoas refletirem o que é que nos levou a competir outra vez, para lá das capacidades de quem gera seleções nacionais. Além disso, existem mais fatores que, se calhar, nos levaram outra vez a competir.
PARTE 1 - Treinador da Oliveirense conversou com A BOLA sobre a ambição na temporada, o espírito que deseja nos jogadores para lutarem contra orçamentos, dificuldades que sabe que encontrará para voltar a ter êxito naquilo que todos têm falhado: ganhar ao Benfica na Luz, o que mudou esta época no conjunto de Oliveira de Azeméis, as rivalidades nos dérbis regionais, sobretudo da Ovarense para com a a formação de Oliveira de Azeméis, a falta de cultura desportiva no País e o êxito da Seleção.
Acabei há pouco tempo o curso da FIBA, que foram três anos, e isso envolve tempo e ausência do país. E agora quero tirar o curso da EuroLiga, portanto, tenho sempre muita agitação durante o verão.
— Caso Portugal se apure para o Europeu 2025 tem intenção de ir ver alguns jogos?
— Se a minha agenda encontrar esse espaço certamente irei. A minha agenda no verão não é muito tranquila. Pelo menos costumo tirar 10 dias de férias todos os anos porque tenho sempre algo relacionado com o basquete. Sou formador de Grau 2, acabei há pouco tempo o curso da FIBA, que foram três anos, e isso envolve tempo e ausência do país. E agora quero tirar o curso da EuroLiga, portanto, tenho sempre muita agitação durante o verão. Sem contar com o recrutamento da Oliveirense, que é o que me consome muito e muito tempo.